Review feito por Renato Félix
Fonte: Universo HQ
Fonte: Universo HQ
Este trabalho é apenas uma amostra da capacidade dos integrantes do UNIVERSO HQ. O review retrata uma das mais importantes produções da história dos quadrinhos, não apenas pelo bom-humor, mas também em função das críticas sociais embutidas nas tirinhas. A forma como Bill Watterson aborda o cotidiano de um garoto e seu bicho de estimação de pelúcia (um ser vivo, na mente da criança), a rotina, os questionamentos e, principalmente, um universo diferente e distante do dele - representado pelos pais, parentes e a escola - é um achado nas HQ.
(Franz Lima)
Os dias estão todos ocupados reúne tiras publicadas
originalmente entre abril de 1991 e novembro de 1992. Portanto, parte do
sexto e o sétimo ano da tira de Bill Watterson - o álbum foi publicado
anteriormente pela Best News como Os dias estão simplesmente lotados!.
A série não só estava completamente formada, mas, talvez, no ápice da
inteligência e criatividade - se é possível falar de um ponto alto
apenas a respeito de Calvin & Haroldo.
O álbum é o segundo da Conrad no formato 30 x 23 cm, mesmo tamanho que o primeiro, O mundo é mágico,
retangular e maior que os demais publicados até agora (que mediam 21,5 x
22,7 cm e eram praticamente quadrados). Isso se explica porque O mundo é mágico,
até então inédito no Brasil, traz as últimas tiras da série - os álbuns
que vieram na sequência publicam as histórias desde o começo, em ordem
cronológica.
O que acontece em Os dias estão todos ocupados - e que pode
justificar a mudança no formato - é que, nesta fase da tira, Bill
Watterson conseguiu fazer valer sua visão a respeito das tiras de
domingo, que ele próprio explicou em um texto publicado em Os dez anos de Calvin & Haroldo, da Best News.
O autor não admitia ficar preso ao modelo fixo dos quadrinhos
dominicais norte-americanos, que permite que os editores de cada jornal
modifiquem o formato visual da história e até cortem os dois quadros
iniciais, se quiserem.
A partir da terceira página dominical (e colorida) deste álbum,
Watterson começa a explorar visualmente todo o espaço disponível - e faz
isso ostensivamente e cada vez com mais ousadia e criatividade, levando
Calvin & Haroldo a um requinte visual ainda maior do que já apresentava.
Com isso, a série sacramentou de vez sua inclusão entre as maiores
HQs de todos os tempos. Aos domingos, ela se libertava dos três ou
quatro quadrinhos fixos que continuou mantendo como padrão nas piadas
diárias.
A essa altura, todos os temas que cercam o universo de Calvin e seu
tigre já estavam testados e desenvolvidos por Watterson (ou
discretamente deixados de lado se, para o autor, não renderam o
esperado). O leitor que conhece a série já espera encontrar a visão
artística peculiar que o menino encapetado de seis anos tem dos bonecos
de neve ou as filosofias a bordo do trenó.
Ou, ainda, os devaneios da imaginação do garoto para escapar do tédio
das aulas, as reações impagáveis dos pais dele após cada nova
traquinagem ou as mudanças de tom para a pura ternura.
Mas a tira não tem dificuldades em surpreender mesmo ao leitor
veterano porque a familiaridade com essas situações davam liberdade a
Watterson de explorar ainda mais as possibilidades de cada uma delas.
O ponto máximo do álbum está reservado para a série de tiras que
contam como Calvin tenta driblar a tarefa de escrever uma história para a
escola usando sua máquina do tempo (um caixote de papelão) para avançar
duas horas no futuro e pegar o trabalho já pronto com a versão dele
mesmo de pouco antes de ir para a cama.
São 16 tiras em preto e branco que formam um pequeno conjunto
brilhante, um atestado do talento múltiplo de Bill Watterson: na
narração, na expressão dos desenhos, na criatividade do roteiro e nos
diálogos precisos. É um dos melhores momentos de Calvin & Haroldo. E não é preciso dizer que isso não é pouco.
Editora: Conrad
Autor: Bill Watterson
Páginas: 176
Preço: R$ 44,90
Editora: Conrad
Autor: Bill Watterson
Páginas: 176
Preço: R$ 44,90
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