Por: Franz Lima.
Esta é uma das edições mais icônicas do Hulk. A trama aborda uma das
maiores traições de maior impacto que li até hoje nos quadrinhos, arquitetada
pelos Illuminati, um grupo constituído por Reed Richards, Tony Stark, Namor,
Raio Negro e Doutor Estranho. Juntos, eles mandam o Gigante Esmeralda em missão
fora da Terra, mas a verdade é que por trás disso tudo estava, infelizmente, o
banimento do Hulk (não aprovado por Namor). A nave que o levara
para a missa fora programada para enviá-lo a um longínquo e calmo planeta onde,
presumivelmente, a paz finalmente englobaria o monstro.
Mas é nos
detalhes que o demônio se esconde...
O Êxodo forçado leva o Golias a um planeta, porém bem diferente
daquele imaginado por seus algozes. Lá, Hulk se vê diante de uma nova Roma Imperial,
um lugar onde a violência rege e a escravidão ainda é lei. Mas estamos falando
do Hulk, certo? O que poderia intimidar ou parar o mais temido herói da Terra?
Alguns “pequenos” detalhes surgem, sendo responsáveis pelo curvar do Hulk.
Frente a um universo novo, repleto de criaturas tão poderosas quanto
ele, o ex-Vingador descobre que é preciso aprender a sobreviver. Preso,
torturado e limitado por um artefato que o obriga a obedecer, o Hulk é
transformado em um objeto de entretenimento para um público sedento de sangue.
Assim como ocorreu no filme Gladiador, de Ridley Scott, o que vemos em
Planeta Hulk é a verdadeira jornada do herói. O monstro se transforma em
esperança conforme as agruras vão lhe moldando o caráter. Essencialmente, há a
metamorfose de uma criatura indomável para um líder tribal. A jornada em
questão diz respeito aos ritos de passagem que moldaram o Gigante. O roteirista
nos leva a crer que esta foi uma espécie de purgatório, uma senda que é
indispensável para mostrar as duas faces de uma moeda cuja cara já era do
conhecimento do Hulk, porém ele nunca vira a coroa.
Mas um épico precisa de coadjuvantes e é aí que entra um grupo de
párias, também escravos, que se tornam aliados do Hulk. Óbvio que as diferenças
geram alguns entraves iniciais, porém nada que os impeça de enxergar que,
juntos, são mais fortes. Esse pacto é forte a ponto de transpor mundos e
crenças.
Em meio a tantos danos e agruras está faltando citar a fonte de
tamanho caos: o Imperador, o temido Rei Vermelho. Este é outro ponto muito próximo à visão de Ridley.
O Imperador é uma criatura fraca em sua essência, que se vale de uma armadura e
seu exército para impor o medo. Commodus, no filme Gladiador, é um bom lutador,
mas nada que mereça destaque. Sua maior qualidade é o dom de manipular o medo
de um povo oprimido. Isto também ocorre em Planeta Hulk, talvez com mais
crueldade ainda. O Filho de Sakaar, como é conhecido o Imperador, governa pela
morte. Tribos são exterminadas para seu prazer. Escravos são jogados em arenas
para sua diversão. Essencialmente, ele é um tirano que arquiteta sua manutenção
do poder ao preço do fim de incontáveis vidas... até a chegada do Golias Verde.
O escravo e seu mestre são postos em uma mesma arena para lutar.
Entretanto, como anteriormente dito, o Hulk está sob o controle de um
dispositivo que o impede de reagir à altura. Mesmo assim eles combatem em
igualdade de condições, até que ambos são feridos no rosto. Derrotado, o Hulk e
seus companheiros de escravidão são mandados para uma prisão cujos trabalhos
forçados e os monstros que lá vivem, provocam a morte da maioria de seus
condenados.
Desconsiderem, por favor, a animação com o mesmo nome. Ela tem um tom bem mais brando e coloca no lugar do Surfista Prateado uma versão do Thor. A graphic novel é infinitamente melhor.
Só que estamos falando de um dos mais poderosos seres do universo
Marvel...
O que vocês verão a partir daí é uma ascensão fantástica, onde a raiva
incontrolável é balanceada por um senso de sobrevivência e justiça. Essa “evolução”
também ocorre com um dos aliados do Hulk.
A verdade é que o roteirista Greg Pak bebeu de muitas fontes e,
felizmente, soube conciliá-las com a mitologia do Gigante Esmeralda.
Essencialmente, seu trabalho ganhou ares de um clássico quando unido ao traço
de Carlo Pagulayan, responsável por captar com brilhantismo as cenas de ação e
ódio indescritíveis e, em contrapartida, os momentos – breves – de paz e amor
que Hulk (e Banner) viveram.
Agora, se não quiserem ler um Spoiller nível máximo, parem por aqui...
Não pararam? Ok. Agora é por sua conta e risco.
Hulk consegue derrotar o tirano Rei Vermelho, o Imperador de Sakaar.
Ele também obteve o coração da principal guerreira do Rei, Caiera, a Fortaleza.
Juntos, Caiera e o Holku (como também é conhecido) tornam-se rainha e rei de
Sakaar, trazendo a paz de volta ao planeta. Mas é sobre o Hulk esta história e,
como sempre, os finais felizes não são algo a se pensar.
Um núcleo de dobra da nave que o exilou tem seu motor comprometido.
Apesar da paz e da reconstrução da cidade e das vidas no planeta, este problema
gera uma explosão de nível nuclear, o que provoca a morte de milhões de seres,
incluindo a rainha Caiera.
Alguns sobreviventes aparecem. Entre estes os aliados de Hulk, seus
companheiros do Pacto de Guerra. Diante de tal desolação e com o coração corrompido por um ódio nunca sentido, Hulk e seus aliados partem para a Terra. É hora da vingança. É hora de mostrar que nada, nada na Terra pode parar um monstro que bebeu, brevemente, da fonte da felicidade e a teve roubada.
É hora do Hulk contra o Mundo. Mas esta é uma história a ser contada aqui... em breve.
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