Este é um conto escrito por Priscilla Rubia, amiga e colaboradora no O Nerd Escritor. Gentilmente ela colabora comigo e nos brinda com este conto de Natal. Aproveitem o presente e acompanhem o outros trabalhos dela. Abraços e um ótimo 2012 a todos.
Franz.
VISITA
NO NATAL
Sentou-se na poltrona e pôs os pés com
as botas negras sobre a mesa de centro.
Sentia-se feliz, bem consigo mesmo,
aliás, era natal. Época onde as mães saiam felizes para as compras, sendo
tomadas pelo espírito natalino, esquecendo do mundo em que viviam. Esquecendo
que aquela merda de espírito não mudava nada.
Por isso o natal era a melhor época do
ano para realizar o serviço.
Ligou a TV e passou de canal em canal
procurando algo que prestasse, entre especiais da época. Nada encontrou. Desligou
o aparelho irritado e dirigiu-se á cozinha. A menina gemeu quando o viu.
Encolheu-se em direção a parede como se ele fosse um monstro. E não era?
A visão de si mesmo como um monstro
brutal o deixou excitado. Sentiu o pau ganhar vida e avançou para a menina.
Ela gritou, mas somente uma vez já que
ele tapou sua boca e bateu sua cabeça na parede a deixando tonta, porém
consciente:
— O que eu disse sobre gritos eim? Acho
que avisei que se você gritasse, buscaria seu irmãozinho, não avisei? É isso
que você quer?
A menina começou a chorar e fez que
não.
— Ótimo. Não duvide do que digo. Você
me parece uma garota esperta, duvidar não seria inteligente.
Retirou a mão da boca da menina, não
porque tinha terminado, mas porque ela chorava copiosamente molhando sua mão
com uma mistura de lágrimas e catarro:
— Merda – disse enquanto limpava a mão
na calça jeans.
Escutou a TV na sala.
Olhou para lá intrigado, pois tinha
certeza que desligara o aparelho.
Virou-se para a menina ainda chorando e
o tesão retornou. Dirigiu-se a sala para desligar a TV e conferir se trancara a
porta, não queria distrações ou interrupções.
Quando chegou á sala, estacou.
Sentado no sofá, assistindo TV
calmamente estava um homem. Tinha cabelos e barba negros e encaracolados. Usava
um elegante terno preto com os sapatos da mesma cor postos sobre a mesa de
centro, assim como fizera minutos atrás.
— Quem diabos é você?
O homem virou-se:
— Rogério! Que bom te ver!
— Quem é você? Não te conheço, saia já
daqui.
Rogério amaldiçoou-se por ter esquecido
a porta destrancada, permitindo que aquele louco entrasse em sua casa, porém se
tivesse conferido verificaria que sua memória não falhara neste ponto e a porta
continuava trancada, como havia deixado.
— Sim, não me conhece, mas eu lhe
conheço muito bem. Sei o que anda fazendo com umas garotinhas, como aquela na
cozinha.
Por um momento Rogério sentiu medo. Reparou
pela primeira vez em como o homem parecia forte. Será que poderia ganhar se
precisasse expulsá-lo à força? Não, não poderia expulsá-lo. Ele não acabara de
revelar calmamente o seu segredo? Teria de matá-lo.
Deu alguns passos em direção à TV, onde
na gaveta do móvel abaixo estava uma pistola calibre 22.
— Você é policial? – disse tentando
distrair o homem.
Ele sorriu e Rogério reparou em como os
dentes eram amarelados.
“Deve
fumar como a porra de uma chaminé.”
— Não, não sou policial.
— Então saia já daqui, ou juro que te
mato cara.
O homem abaixou os pés da mesinha,
pegou e controle e desligou a TV. Olhou mais uma vez para Rogério, que se
corresse e fosse rápido, conseguiria pegar a pistola.
— Quando foi a primeira vez, eim
Rogério? Com dezesseis anos, não foi? Com a vizinha, aquela menina muda. Muda,
veja bem. Mas isso te deixava de pau duro, não é? Poder meter sem que ela
gritasse ou reclamasse o quanto você era ruim.
Rogério esqueceu-se subitamente da
arma:
— Quem é você? – repetiu.
O homem levantou-se e Rogério reparou
em como era alto. Deu alguns passos involuntários para trás.
— Tenho vários nomes. Em alguns lugares
sou conhecido como Perchten, em outros me chamam de Klaubauf, mas o mais
conhecido, e meu preferido, é Krampus. Porém isso não é importante. Vim até
aqui para te dar um recado.
Rogério engoliu em seco e tudo que
conseguiu pronunciar foi:
— Hmm?
— Rogério, você foi um menino mau.
E o homem que tinha orgulho de ser um
estuprador há muito tempo sem nunca ter sido pego, urinou vergonhosamente nos
jeans de marca, enquanto a visita não tinha mais a aparência humana.
Os cabelos e a barba tomaram conta da
face, que assumiu um aspecto canino, com um longo nariz pontudo. Dentre o couro
cabeludo, nasceram dois chifres enrolados. O terno preto aderiu á pele,
transformando-se em pelos negros e lustrosos. Os sapatos encurtaram e onde
deveria estar os pés, estavam dois cascos, como os de bode.
Caminhou para Rogério enquanto a língua
afiada lhe saía da boca chegando a bater em seu peito.
— O que – tentou dizer, mas estava
rouco, pigarreou e continuou – O que você quer?
A criatura achegou-se e passou a língua
lentamente em seu rosto, causando arrepios em Rogério, fazendo com que sentisse
o hálito podre da coisa.
— Não é óbvio? Eu quero você.
— O que você vai fazer... – tentou
afastar-se, mas o Krampus o segurou com as garras afiadas, transpassando a
camisa e lhe machucando a pele.
— Te comer. E se você pensa nessa
expressão como aquilo que fez ás garotas em toda a sua vida, você está correto.
Porém posso lhe garantir que a dor, vergonha e desespero que todas elas
sentiram irão lhe possuir de uma só vez. Garanto que não usarei do que você
chamava de misericórdia, lhe matando no fim. Irei violá-lo o que para você será
infinitamente, até que seu grito se esgote. Depois, posso pensar em lhe comer
literalmente, mas não tenho certeza – Lambeu mais uma vez a pele suada – Você é
sujo.
Pegou Rogério pelo pescoço e o levantou
facilmente enquanto tentava escapar em vão batendo os pés violentamente. O
enfiou em um saco que carregava que se mostrou grande e resistente o bastante e
o colocou ás costas parecendo não se importar nem um pouco com os socos e
pontapés de Rogério.
Virou-se e viu a menina encolhida e
chocada em um canto da cozinha. Encararam-se em silêncio por um longo minuto,
porém a criatura virou as costas para a criança e foi-se.
A menina, que se chamava Rebeca,
conseguiu encontrar o caminho para casa e foi recebida com alegria pelos pais.
Quando lhe perguntavam o que aconteceu, como conseguiu escapar, simplesmente
respondia:
— Fui uma boa menina.
Obrigada pela oportunidade Franz!
ResponderExcluirEscrevo contos de horror há muitos anos, mas ainda me choco com cenas em que crianças correm risco de estupro ou morte. Pude sentir a agonia da menina e a maldade do maníaco. Conto muito bom, Priscilla. Parabéns.
ResponderExcluirÔpa, aqui sempre será um espaço para divulgar os trabalhos dos amigos. E você conquistou seu lugar por competência. Sucesso.
ResponderExcluirPoxa, Priscila...você conseguiu me deixar apreensivo quanto ao fim que teria a garota! Demais! Você escreve muito bem e se continuar sempre se policiando, como todo bom escritor deve, será uma grande autora! :) Meus Parabéns por esse conto sobre a face obscura do Natal!
ResponderExcluirPois é, Cyber... tenso demais o conto (ou seja, foda). Ao menos o Natal da menina será mais tranquilo.
ResponderExcluirUAU! Adorei! geralmente odeio 'contos de natal', mas esse 'às avessas' ficou ótimo, como se esperaria da Rúbia! isso mesmo! Melhor do que dar presentes aos bons meninos, nós mesmo punir os meninos maus! ótima versão, Rúbia, está de parabéns!
ResponderExcluirFalei isso para ela via twitter: parabéns pelo conto sinistro. Ótimo presente de natal para os leitores.
ResponderExcluirAgradeço ao Ed e a Samila pelas boas palavras. Me deixam mto feliz, de verdade.
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