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Ensaio fotográfico: Albinos - por Gustavo Lacerda

Alguns reclamam das discriminações e dos olhares por causa da cor da pele. É verdade, apesar de estarmos em pleno século XXI, ainda há muita discriminação e, o que é pior, desprezo por ostentarmos uma pela de cor diferente da normal. Seja você um negro, uma pessoa muito branca, indígena ou asiático, o fato é que a diferença da cor da pele irá chocar. Muitos não sabem, mas há biógrafos que afirmam categoricamente que Hitler usava quase sempre calças por vergonha da cor pálida de suas pernas. Enfim, se sentimos vergonha por características nossas, imaginem o que farão aqueles que cercam os "diferentes".
Para promover uma maior conscientização sobre isso e, principalmente, relembrar que não é a cor de uma pessoa que importa, mas seu caráter, apresento-lhes este ensaio fotográfico magnífico feito por Gustavo Lacerda. Veja as fotos e descubra que, ainda que diferentes fisicamente, é a essência de cada um que importa.
Originalmente, as fotos vinham com legendas onde constavam os nomes das pessoas fotografadas. Contudo, optei por postar apenas legendas com frases que escrevi para associar às imagens. Espero que gostem.
Site do fotógrafo: Gustavo Lacerda

A beleza de uma criança é superior à cor de sua pele

A diferença não faz de mim uma pessoa pior ou melhor que você

Envelhecer é uma dádiva concedida a qualquer um

A infância é repleta de sonhos, seja você negro, branco ou albino
Unidos pela pele e pela amizade

Serei tão feliz quanto a vida me permitir. Minha cor não é uma barreira

A beleza imortalizada em uma fotografia

A força que só a inocência pode abrigar

A vida não faz questão de escolher a cor de sua pele

Entrevista com o fotógrafo Gustavo Lacerda feita pelo site Olhavê:


OLHAVÊ – Como surgiu o projeto/ensaio Albinos?
GUSTAVO LACERDA – Já há alguns anos pessoas albinas despertam minha atenção. É interessante que as características que os tornam “diferentes” e levam a uma sensação de exclusão e de “estranheza” são as mesmas que me atraíram e me despertaram em termos de beleza.
Aprecio o tom de pele, os cabelos e os pelos totalmente descoloridos, alem do meu interesse particular em conhecer um pouco mais do universo dessas pessoas que, na grande maioria, sentem-se “à margem” no convívio social.
O objetivo do projeto era retratar esse outro padrão de beleza, o “diferente”, o “fora” dos padrões.
OLHAVÊ – Por se tratar de um tema que aborda questões sociais e de saúde, invariavelmente, você poderia cair nos clichês das fotografias no ambiente familiar, caracterizar a rotina, etc e etc. Por que a escolha por uma estética tão contundente?
GUSTAVO LACERDA – Desde o início do projeto queria destacar a beleza singular dos albinos. Embora aprecie a fotografia documental, não queria que o trabalho caminhasse por um viés de denúncia social.
Já nos primeiros estudos práticos do projeto decidi trazer os albinos para o estúdio. A principio me atraía a idéia de clicá-los de um modo bem simples, num fundo branco ou cinza, de forma direta e documental, como num 3×4 tosco para documentos.
Mas logo percebi que a força que essas imagens traziam, embora impactante, não me despertavam a sensação de beleza e singularidade. A imagem “crua” era forte mas me trazia uma sensação de déjà vu, não me contava nada de novo.
Aos poucos fui percebendo que me interessava particularmente a relação dos fotografados com toda a misancene do estúdio, fundos cenográficos, produção de figurinos, etc…
De fato, quando escolhi esse caminho estético assumi realçar o novo papel de “personagem principal” vivido por quem sempre se sentiu excluído. E, claro, não fui ingênuo e percebi que isso também trazia o trabalho do documental para um mundo mais ficcional, um universo meu, construído.
Nesse processo, tanto me envolvi com o assunto e os retratados que posso dizer que esse universo de representação, tão vivo nas imagens, deixou de ser apenas meu. Eu só conduzi e estimulei as pessoas a virem para frente da câmera e a partir dali o que elas representavam era em grande parte a própria “ficção” delas.
OLHAVÊ – Fico pensando este trabalho sendo “defendido” como ensaio documental ou ensaio contemporâneo. Tenho certeza que as muletas de um texto seriam necessárias para explicar, defender ou teorizar sobre o albinismo. Porém, seu trabalho é pura imagem. Bem carregada de textos imaginários e explicações já explicadas. Você vislumbrou esse resultado?
GUSTAVO LACERDA – Quando experimentei o caminho estético da delicadeza, dos tons pastéis, “lavados” e sutis, comecei a vislumbrar a força que o trabalho poderia ter. E é interessante que acabei indo por um caminho que traz imagens impactantes, porém que “sussurram” muito mais do que “gritam”. Talvez a repercussão do trabalho venha muito daí… Mas jamais imaginei que esse projeto tocaria tantas pessoas. Isso me surpreendeu e foi bem positivo.
OLHAVÊ – A estética, no sentido lato da palavra, é o carro-chefe de Albinos. Nos conte como ela foi concebida.
GUSTAVO LACERDA – Minhas referências iniciais para o projeto vieram da pintura.
Primeiro tive que entender que a beleza que me despertava nos albinos vinha sobretudo dos tons rosados de pele. E foram esses tons que posteriormente definiram toda a estética das imagens, através de fundos de tecidos, figurinos, maquiagem, cabelo, etc. O restante acabou vindo da minha história, das lembranças distantes dos álbuns de família e todo o ar “retrô” que eles traziam.
O elemento família é muito forte no projeto, mesmo quando retratei alguém só, essa pessoa sempre estava envolvida numa aura “de família”, talvez um cuidado afetivo e de proteção (que percebi) que a própria família têm com essa pessoa. Acho que a forma de portrait em estúdio que concebi para o projeto acabou reforçando inconscientemente essa presença (mesmo ausente) da família nas fotos.
OLHAVÊ – Uma das primeiras coisas que tem impacto nas fotos é a luz. Algo tão difícil para os albinos. Como é a luz do seu ensaio?
GUSTAVO LACERDA – O albinismo se caracteriza pela ausência de melanina na pele, nos cabelos e nos olhos e isso faz com que eles tenham extrema fotofobia. Na fase de estudos do projeto testei alguns caminhos de luz e cheguei em um que conseguia trazer uma luz bem difusa, suave e ao mesmo tempo com bastante brilho para realçar a pele e os tons pastéis da cena. Acho que foi uma luz que cumpriu bem a tarefa de imprimir no papel as sensações estéticas que me despertaram. Fora isso, embora valorize a técnica como um caminho, confesso que não creio nela como um fim, um objetivo vazio de intenção.
OLHAVÊ – Quais as experiências e valores agregados na sua carreira e vida pessoal que este ensaio gerou?
GUSTAVO LACERDA – O mais gratificante tem sido sem dúvida conhecer pessoas, compartilhar experiências e perceber que de alguma forma o trabalho tem tocado na auto estima dessas pessoas. Foi muito bacana por exemplo ver os retratados presentes e super orgulhosos por estarem na abertura da mostra da Coleção Pirelli/MASP no ano passado.
Na carreira, o projeto tem trazido uma maior visibilidade para o meu trabalho autoral e teve algumas das imagens adquiridas por importantes coleções como a Pirelli/MASP e a Coleção do Prêmio Porto Seguro de Fotografia.
OLHAVÊ – O projeto acabou? Terá novas fotos ou desdobramentos?
No início desse ano fiz alguns retratos que considero importantes para o corpo do trabalho e estou tentando agendar mais 2 ou 3 fotos que devem fechar o projeto. A idéia é fazer uma grande exposição (parte das fotos ja foram expostas, coletivamente, na última Coleção Pirelli/MASP e no Prêmio Porto Seguro de Fotografia) e tentar publicar um livro.
Mas acredito que devido aos vínculos que acabei criando com vários albinos, o trabalho não tenha um fim assim datado, cronológico. Adoraria, por exemplo, continuar registrando o crescimento dos irmãos pré adolescentes Ítalo e Renan, além de vários outros albinos que se tornaram tão próximos nos últimos anos.



Comentários

  1. É uma pena os albinos sofrerem preconceito, tb vejo a beleza na coloração de pele dos mesmos =)

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  2. A cor da pele é o menor dos detalhes. O que conta são as cores da alma e do caráter

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  3. Que coisa mais linda! Que fotos maravilhosas! Amei!

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