As
coletâneas costumam ser pretensiosas e elitistas. A revista Granta, por
exemplo, teve a pretensão de apresentar os vinte melhores autores brasileiros
com menos de quarenta anos. Mas que critérios definem os melhores? E quem define
esses critérios? Figurinhas carimbadas pela “mídia especializada” e
referendadas pelas panelas literárias levam vantagem nessa escolha?
Talvez a atitude mais honesta seja assumir que a escolha é pessoal, como fez o
crítico Nelson de Oliveira, organizador do livro Geração 00, que, ainda
assim, manteve o caminho da pretensão, ao tentar reunir os melhores autores de
uma década.
Esses autores não estão preocupados com os leitores, mas apenas com a
satisfação da vaidade intelectual, baseando suas narrativas em jogos de
linguagem que têm como objetivo demonstrar uma suposta genialidade. É estranho
que boa parte deles manifeste preocupações sociais e tendências políticas
progressistas em suas entrevistas, enquanto suas práticas profissionais os
levam a uma torre de marfim representada por feiras e festivais que os
mitificam como ícones da literatura para aqueles que também se enxergam como
elite.
Felizmente, há uma massa de leitores no país que ignora essa tentativa de forjar
novos cânones para a literatura. É um público que se preocupa apenas com o
prazer da leitura, com a relação afetiva com o livro, com as reflexões que uma
história bem contada pode provocar e com a socialização dessas histórias e
dessas reflexões. Sim, a socialização, pois aquele que tem prazer na leitura
sempre recomenda o livro ao amigo mais próximo.
É para esse leitor que a coletânea Geração Subzero foi organizada. Aqui
estão vinte autores congelados pela “crítica especializada”, mas adorados pelo
público. Este livro não é uma antologia. Os contos e autores não têm a
pretensão de figurar entre os melhores de sua geração ou estilo. Tampouco foram
escolhidos exclusivamente pelo organizador da obra, que apenas observou os
nomes comentados em redes sociais, blogs, salas de aula e grupos de discussão
cujo objeto era simplesmente o prazer da leitura, além de ouvir os signatários
do Manifesto Silvestre, um documento que defende o entretenimento como conceito
de valor na literatura.
Todos os autores aqui reunidos cederam seus direitos autorais para a ONG “Ler
é dez, leia favela”, que forma leitores no Complexo de favelas do Alemão,
no Rio de Janeiro. Como Silvestre da Silva, personagem de Camilo Castelo Branco
no livro Coração, cabeça e estômago, os escritores da Geração Subzero
colocam a cara na vidraça e esperam pelas pedras e flores. Mais pedras do que
flores. Os trocadilhos vão causar indigestão e os intelectualismos, cefaleia.
Mas o coração não será atingido.
*
Felipe Pena é jornalista, escritor, professor da UFF e doutor em Literatura
pela PUC, com pós-doutorado pela Sorbonne III
Abaixo, os convites para o evento no Rio de Janeiro e São Paulo:
11 de julho de 2012 - 18h30 - Rio de Janeiro |
17 de julho de 2012 - 19 horas - São Paulo |
Franz says: Alguém duvida da minha presença neste evento? Vejo todos vocês por lá...
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