Fonte: BBC
Calvo e de barba branca aos 62 anos, Thomas Quick se
tornou conhecido como o mais renomado serial killer da Suécia. Mas isso
pode estar prestes a mudar.
Nos anos 1990 ele confessou mais de 30
assassinatos, com direito a mutilações, estupros e canibalismo. As
vítimas incluíam homens, mulheres e crianças, com perfis variados. Os
crimes haviam sido cometidos em vários locais diferentes da Suécia e da
Noruega.
Mas após ser condenado por oito dos crimes, Quick assumiu sua identidade verdadeira, Stüre Bergwall, e passou a negá-los.
Uma investigação realizada por um jornalista
local questionando as condenações sem provas levou a novos julgamentos,
com a absolvição por cinco deles.
Ele ainda espera a revisão das últimas três
condenações, e poderá se ver livre após 21 anos confinado em uma clínica
psiquiátrica forense de Säter, a 170 quilômetros de Estocolmo.
O caso vem ganhando as manchetes dos jornais
suecos nos últimos meses. De "Hannibal Lecter sueco", como foi apelidado
na época de suas confissões, Quick/Bergwall passou a ser descrito como
"o serial killer que nunca o foi".
"Ele certamente será inocentado de todos os oito
assassinatos (pelos quais foi condenado inicialmente)", disse à BBC
Brasil, com convicção, o advogado Thomas Olsson, que assumiu a defesa de
Bergwall após a retratação das confissões.
Papai noel
Bergwall foi preso pela primeira vez em 1990,
após roubar um banco fantasiado de Papai Noel, supostamente para
conseguir dinheiro para comprar drogas. Ele já havia sido anteriormente
acusado de molestar meninos e de tentar esfaquear um amante.
Segundo Olsson, ao ser levado à clínica psiquiátrica de Säter, em
1991, Bergwall "estava passando por uma crise existencial e tinha
pensamentos suicidas".
"Na clínica, ele foi objeto de técnicas
psiquiátricas extremamente experimentais baseadas principalmente na
terapia de recuperação de memória por sugestão e também teve acesso a
narcóticos controlados, principalmente benzodiazepínicos
(tranquilizantes)", relata o advogado.
Segundo ele, "sob essas circunstâncias Bergwall
foi levado a confissões com o objetivo de satisfazer o pessoal da
clínica". "O resto foi como um moto-perpétuo", diz.
Bergwall confessou seu primeiro "assassinato" em
1992. A suposta vítima era Johan Asplund, um menino de 11 anos que
havia desaparecido em novembro de 1980 no caminho para a escola. O caso
de Asplund era um dos mais famosos mistérios criminais da Suécia.
Ele disse ter estuprado o garoto e o asfixiado
acidentalmente, antes de desmembrar o corpo e escondê-lo para que
ninguém o encontrasse. De fato, o corpo nunca foi encontrado, mesmo com
as descrições dos locais feitas por Bergwall, mas ele foi condenado pelo
crime em 2001.
Segundo seus defensores, tudo o que Bergwall
buscava era atenção. Com a confissão do assassinato de Asplund e os
holofotes da mídia local sobre si, ele passou a confessar seguidos
assassinatos, com detalhes.
Sem provas
"O caso vem ganhando uma enorme repercussão na
Suécia", comenta à BBC Brasil o repórter policial Eric Tagesson, que vem
cobrindo o caso para o jornal Aftonbladet, o mais lido da Suécia.
"A história esteve em evidência por quase 20
anos, e sempre houve especulações sobre se ele era um mentiroso ou um
serial killer", afirma.
Segundo o jornalista, "o problema é que ele foi condenado somente com
base em suas confissões. Em nenhum dos casos havia qualquer prova
técnica real", diz. "Agora, com as revisões dos processos, parece óbvio
que o promotor Christer vad der Kwast e a polícia tinham o mesmo
objetivo – conseguir condenações, custasse o que custasse."
O atual advogado de Bergwall também critica o
papel do defensor público do réu à época das condenações, Claes
Borgström, que ficou famoso posteriormente como o advogado das duas
mulheres que acusam o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, de estupro
na Suécia.
"A razão pela qual ele foi condenado foi, pura e
simplesmente, que o promotor omitiu informações que mostravam que ele
não poderia ter cometido os assassinatos, que policiais e especialistas
fizeram falsos testemunhos e que o advogado de defesa, Claes Borgström,
tinha uma causa comum com o promotor. Em suma: a corte foi enganada",
diz Olsson.
A BBC Brasil tentou entrar em contato com
Borgström para que ele comentasse o caso, mas não obteve resposta. Em
declarações recentes à Sveriges Radio, a rádio pública sueca, o defensor
público disse ter sido vítima de calúnia e negou ter sido negligente no
caso.
"Se você defende uma pessoa que confessa o
crime, deve seguir essa linha, a não ser que se torne óbvio que essa
confissão é incorreta. Eu fui cauteloso durante o julgamento em levantar
algumas questões importantes para eliminar o risco de que algo não
estava correto", disse.
"Quando Bergwall começou a retirar suas
confissões, o quadro mudou. Mas isso não significa que eu tenha sido
cúmplice da condenação de um inocente", afirmou.
Bergwall pode ser inocente dos crimes que o acusam, porém ele será co-autor de outros assassinatos caso tenha mentido e desviado a atenção das investigações que levariam à prisão de um matador.
Adorei teu comentário no final! Realmente, essa brincadeira "inocente" pode ter causado mais vítimas do que podemos imaginar. Uma verdadeira palhaçada!
ResponderExcluirNão há nada mais legal para um serial killer que o desvio de atenção de sua rota. Esse "louco" - caso comprovada a falsidade - encobriu outros assassinatos e afastou a polícia do verdadeiro matador que, desde então, passou a agir com maior liberdade.
ExcluirTriste.
Rapaz, é uma loucura o que algumas pessoas podem fazer por "fama", ainda mais em um contexto gravíssimo como esse que muitas vidas podem estar ameaçadas. O mais assustador disso tudo é pensar em como o verdadeiro assassino deve estar rindo disso e não quero nem imaginar o que uma mente dessas deve estar arquitetando, sério, amo livros de terror, mas ter a consciência de um mal em estado tão bruto na forma de um serial killer como o sueco (refiro-me ao verdadeiro, pois este ao que tudo indica é falso) é perturbadora, às vezes lembro-me do seriado "Millenium" em que o mal não é definitivamente apenas um conceito.
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