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As duas melhores versões de Drácula. Análise crítica e completa..

Por: Franz Lima
Drácula, o mitológico vampiro criado por Bram Stoker, foi inspirado na vida de Vlad, o empalador. O mito do vampiro é muito mais antigo, contudo nossa sociedade e mais precisamente o século XX foi dominado pela associação da palavra Drácula à lenda ancestral. A criatura criada por Stoker é parte da cultura de inúmeras pessoas no globo e isso se refletiu na literatura, no cinema, no teatro, música e em outras áreas. Seu vampiro é realmente imortal...

Entretanto, muitas versões desse bebedor de sangue são realmente fracas. A modificação do personagem, a inclusão dele em tramas paralelas, desconexas da original, novas características, a adaptação aos novos tempos... tudo isso foi minando a "vida" de uma criatura que, teoricamente, já está morta. O que Van Helsing lutou para conseguir foi, gradualmente, depredado. Poucas são as obras fiéis (ou quase isso) ao original. Assim, além do livro original, escolhi mais duas obras para analisar e comparar com a obra-prima de Bram Stoker.


A primeira a ser citada é a adaptação para os quadrinhos. Trata-se de "Drácula: uma sinfonia de pesadelos ao luar", escrita e pintada por Jon J. Muth. Feita exclusivamente com pinturas e um texto baseado na obra original, esta é a melhor Graphic Novel sobre o imortal. Fiel, dentro da limitação que uma HQ impõe, Muth criou a mais magnífica versão quadrinizada da lenda de Drácula. Mas, cuidem incautos, não é uma réplica da obra-prima. Há pequenas e sensíveis alterações que dão força à história. Mesmo contrariando a versão original, tais artimanhas são bem recebidas por conta de sua criatividade e pelas pinturas que dão molde ao sonho. Ler esta Graphic é algo muito próximo de um pesadelo, onde a sensação de trânsito entre os mundos é quase tátil. 
As alterações ficam por conta da paternidade de Mina e o vínculo entre Lucy e Drácula. Contudo, repito, mesmo tais mudanças (mais evidentes) não denigrem o trabalho original, criando uma nova ideia para o que poderia ter sido o livro. Devaneios com conteúdo.
Minha versão de algumas pinturas de Jon J. Muth
A trama é feita toda com base em extratos dos diários de Lucy, Mina e John Seward. Jonathan surge, porém não é uma peça-chave. Reinfield também se faz presente, como um bom assecla deve ser. Tomem esta HQ - ou seria uma galeria de arte? - como uma homenagem extremamente bem elaborada. E extremamente prazerosa ao ser lida e apreciada.
A segunda é, para mim, óbvia. Trata-se de Drácula de Bram Stoker, a versão cinematográfica de 1991, dirigida por Francis  Ford Coppola. Definitivamente, a melhor versão do cinema para o livro homônimo. Melhor dizendo, a melhor adaptação para a obra de Stoker até hoje feita em todas as mídias.
Valendo-se de um elenco de primeiríssima linha e do consagrado diretor Francis Ford Coppola,  esta versão do livro conseguiu incorporar com primor o clima do início do século XX e as mudanças oriundas dessa nova era. A ambientação e o figurino são incríveis, mas o diferencial está nas técnicas usadas para se obter a percepção de um vampiro de poder incomensurável. Coppola e seu filho usaram de recursos que remontam aos primórdios do cinema e criaram - ao custo de muito suor - cenas memoráveis que são impossíveis de desvincular do livro.
A visão do diretor e as atuações impecáveis trazem a sensação de que estamos realmente acompanhando uma história que está se desenrolando, em tempo real. É fácil apegar-se a um ou outro personagem e torcer para que nada dê errado durante o decorrer da trama. São passagens fortes que vieram diretamente da mente do autor, mas que recebem uma maior carga dramática com o auxílio das interpretações, da reconstituição ímpar dos ambientes e cenários, da direção e da trilha sonora. Enfim, um conjunto harmonioso e que dificilmente será superado por muitos anos. 

 A trama:

Basicamente temos a mesma premissa da obra literária. 
Drácula é um guerreiro a serviço da Igreja Católica. Sua terra natal,  atacada por invasores turcos, é defendida às custas de inúmeras mortes. Com a honra e a vitória, Drácula retorna a seu lar e descobre que perdeu a noiva por suicídio. O clero recusa-se a abençoar o corpo e ainda condena-a ao Inferno pelo pecado de tirar a própria vida. É nesse instante que Drácula vira as costas à Igreja e a Deus, sendo amaldiçoado a viver do sangue.
Séculos depois, o destino irá se encarregar de reatar o amor há tanto tempo perdido...

Mina é uma jovem e recatada mulher que está noiva do ambicioso Jonathan, um trabalhador de uma grande imobiliária. Jonathan é designado para viajar até uma área remota da Romênia onde um Conde deseja negociar a compra de uma grande área em Londres. 
A viagem transcorre com um clima soturno e ao chegar, o jovem empreendedor é convidado a passar um longo período no castelo do Conde. Por trás de tanta hospitalidade está, na verdade, o desejo de Drácula em eliminar Jonathan e partir em busca da bela Mina. 
O vampiro parte, consciente que sua vítima morrerá nas mãos de suas noivas, mulheres belas e amaldiçoadas pelo dom da imortalidade que brincam com a vida e o sangue de Harker. Neste intervalo, Mina é seduzida pelo vampiro que também quer outra vítima: Lucy, a melhor amiga e protetora da noiva de Jonathan.
O filme usa de um tom sombrio que permanece até o fim do filme. Há uma certa alusão à reencarnação, além de grandes doses de sensualidade e sexualidade, empregadas com muito bom gosto. É nesse clima de sexo, morte e sobrenatural que Jonathan, Van Helsing e os três pretendentes de Lucy irão buscar resgatar Mina dos encantos e poderes do vampiro, gerando confrontos memoráveis e cenas de grande apelo visual. 
A épica conclusão reforça a tese de que temos o livre arbítrio para escolhermos nosso próprio caminho.

Pontos fortes: 

A fotografia, o uso de efeitos especiais simples (em comparação aos atuais feitos por computador), a maior proximidade da obra original e o elenco são as bases que transformaram essa produção em um sucesso arrebatador. Aclamado por fãs de outras versões do vampiro e também pelos mais tradicionalistas, essa nova roupagem do Drácula dirigida por Coppola foi a responsável pela retomada do tema da imortalidade às custas do sangue. Outras versões foram feitas a partir desse filme, porém nenhuma com o grau de apuro e dedicação mostrados nele. 

Adaptação:

O livro é um clássico idolatrado (indiscutivelmente) no mundo, porém a visão de Drácula foi sendo alterada até que tivéssemos um vampiro moldado pelo cinema, muito diferente do que Bram Stoker concebeu. 
Com essa visão mais tradicional, fruto não só da direção impecável de Francis Coppola e seu filho, como também da interpretação e caracterização dos atores (destaque para Gary Oldman), o imortal recebeu o que hoje é considerada a versão definitiva para as telas.

O enfoque histórico está presente desde a primeira cena até a última, o que dá maior credibilidade à trama. Nessa adaptação, o destaque fica por conta das várias faces do vampiro, oscilando entre um velho decrépito até um moderno senhor de óculos escuros. 
Para que a fidelidade ao que Stoker descreveu realmente viesse a ocorrer, a equipe de maquiagem e figurino trabalhou incansavelmente até atingir a perfeição. Roupas estilizadas, armaduras, monstros e cenários de época reforçam a sensação de que realmente estamos no livro do escritor irlandês. 
Uma outra curiosidade está no fato de que Drácula pode andar durante o dia, ficando apenas mais fraco do que quando anoitece. Mas o sol não é fatal para ele.


Interpretações:

Valendo-se de um elenco dedicado e de um diretor que cobrou apenas o máximo de seus atores, o filme ganhou interpretações imortalizadas. Gary Oldman mostrou oscilações entre um bom homem e um verdadeiro monstro, um assassino. Winona Ryder provou que é possível ser frágil e, mesmo assim, oferecer perigo. Keanu Reeves deu vida a Jonathan Harker que, tal como Mina, cresce no decorrer  da obra. O trio de amantes de Lucy - inicialmente estereotipado - recebe ares de guerreiros, com especial destaque para a representação do Dr. Seward, onde Richard Grant lhe atribui um fascínio mórbido pela loucura e a morte. Van Helsing, o professor, exibe traços de um verdadeiro gênio que tem dentro de si um predador adormecido, um inimigo à altura da malignidade de Drácula. Sir Anthony Hopkins foi a mais perfeita escolha para o papel do erudito que batalha pela vida de Mina. Sadie Frost incorpora a quase leviana menina-mulher dona de uma sedução incomparável, mas que paga por seus "pecados". Já com Renfield, Tom Waits dá um show de interpretação como um louco obcecado por seu mestre, fazendo uma clara alusão aos fanáticos (religiosos ou não) que são capazes de morrer pelo que creem ser verdadeiro.

Elenco: 

Gary Oldman - Vlad Tepes / Drácula  
Winona Ryder -Elisabetha / Mina Harker
Keanu Reeves - Jonathan Harker 
Richard E. Grant - Dr. Jack Seward
Cary Elwes - Lorde Arthur Holmwood
Bill Campbell - Quincey P. Morris 
Anthony Hopkins - Padre / Professor Abraham Van Helsing
Sadie Frost - Lucy Westenra 
Tom Waits - R.M. Renfield 
Monica Bellucci - Noiva de Drácula


Direção: Francis Ford Coppola
Ano de lançamento: 1992
Gênero: Terror/Suspense




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