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Resenha da Graphic Novel 'Turma da Mônica: Laços", por Filipe Gomes Sena.


Por: Filipe Gomes Sena.

No ano passado uma das minhas contribuições para o Apogeu foi uma resenha sobre a primeira publicação do selo Graphic MSP: Astronauta – Magnetar. Lembro que na época eu desejei muito que saísse logo a próxima graphic novel do selo. Eis que no fim do mês passado a espera acabou. Foi lançada a mais nova releitura dos personagens mais famosos de Maurício de Sousa. Estou falando de Turma da Mônica – Laços, dos irmãos Victor e Lu Cafaggi.
A primeira coisa que devo dizer é que a qualidade excepcional dos volumes continua. Como aconteceu com o Astronauta, a história da Turma vem em um volume de pouco mais de 80 páginas com capa dura ou capa cartonada. Como da outra vez eu adquiri o volume em capa cartonada pelo justíssimo preço de R$19,90.
Laços é uma história emocionante. Tentei arrumar outras formas de definir, mas não consegui encontrar palavras melhores. A sensação que eu tive ao ler essa HQ não lembro de ter tido com qualquer outro quadrinho. O enredo é muito simples: Floquinho, cachorro de estimação de Cebolinha foge e se perde, a Turma então decide sair pra encontrá-lo, se metendo em uma aventura no maior estilo dos filmes oitentistas. Mas, como em Magnetar, o enredo simples não é o maior mérito da obra. Mas sim a forma como ela é contada. Digo mais, em Laços tudo é contado da forma mais simples e pura possível, por que aqui a verdadeira joia são justamente Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha.
Apesar de conhecermos esses quatro personagens desde sempre, somos apresentados a uma visão diferente de cada um. Mas por mais diferentes que eles possam parecer à primeira vista, eles nos são extremamente familiares. Eu mesmo nunca parei pra pensar que por trás dos infinitos planos infalíveis de Cebolinha estava uma criança extremamente inteligente e criativa que, com muito poucos recursos, consegue fazer armações mirabolantes só pra conseguir dar fim a um coelho. Cebolinha é inteligente, mas também é retratado como um menino um pouco introspectivo e tímido, características comuns em muitas pessoas inteligentes. E essas características dialogam muito bem com as do seu inseparável amigo. Cascão é um sidekick no melhor sentido da palavra. A função dele não é só ajudar Cebolinha com os planos infalíveis, fica claro que, em várias ocasiões, a presença dele foi fundamental pra que Cebolinha não desanimasse, inclusive pra não desistir de ir atrás de Floquinho.
Outro personagem que ficou muito interessante foi Magali. O jeito distraidamente gentil da menina chama a atenção, justamente por ser uma menina meio desligada a dinâmica dela é muito boa com todo o grupo, fazendo o contraponto com a preocupação excessiva de Cebolinha, os momentos de falta de coragem de Cascão e o jeito mal humorado da Mônica. Inclusive ao conhecer essa Mônica abri meus olhos para um detalhe: de como essa garotinha mal humorada, com temperamento explosivo e fisicamente mais forte que as outras crianças pode ter problemas pra se socializar. Em alguns momentos fica claro que Mônica não se dá tão bem com as outras crianças como com os amigos. Isso fica mais evidente no final, quando aparece um flashback mostrando como os quatro se conheceram, não só isso, no final fica claro por que todos se esforçam tanto pra achar o cachorro perdido.

Mas é com absoluta certeza que eu afirmo: Laços não seria tudo isso se não fosse pela arte dos irmãos Cafaggi. Ela se combina maravilhosamente bem com a história . Toda a arte foi feita pelos dois, com as cores de Priscilla Tramontano (também conhecida nas internets como Pr1ps), mas na história principal quem assume a arte é Victor, com sua irmã trabalhando na finalização. Lu assume nas páginas dos flashbacks, e foi nelas que eu me emocionei mais. Eles não servem só pra contar o que se passou antes, eles servem pra conectar emocionalmente o leitor com o resto da história.

Além disso, Laços é carregado de referências e easter eggs. Também traz de uma forma um pouco mais realista coisas como o medo que Cascão tem de banho e o fato de apenas Cebolinha aparecer o tempo todo de sapatos. Isso somado com a aparição de alguns personagens secundários muito conhecidos, como Jeremias e Xaveco, além de boas doses do bom humor que deixou famosas as histórias da Turma. E no final ainda tem algumas páginas de material extra com as primeiras versões dos personagens, rascunhos e algumas coisas sobre as primeiras versões do roteiro.
Por fim eu posso dizer que Turma da Mônica - Laços é uma HQ excelente que ultrapassou todas as expectativas que eu poderia ter e me deixou querendo mais. Não faço ideia de quando a próxima graphic novel do selo Graphic MSP vai sair, mas eu posso arriscar que vai ser mais uma obra espetacular, restanto-nos, como sempre, só esperar e comprovar.... e eu, logicamente, comentar aqui.


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