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A nova Guy Fawkes - Kirsten Christian e o Bank Transfer Day



Fontes: Revista Época (LUCAR HACKRADT) e MyBankTracker.

Uma iniciativa que, inicialmente, não causaria qualquer impacto em sua região é hoje, sem dúvida, um exemplo a ser seguido. O Bank Transfer Day é o protesto que não tem como ser desprezado, pois atinge as instituições financeiras em seu alicerce e, ao mesmo tempo, no ponto mais fraco: o dinheiro.

Na onda dos recentes protestos que tomam diversas cidades dos Estados Unidos, a ativista americana Kristen Christian, de 27 anos, criou o Bank Transfer Day (Dia da Transferência Bancária, em tradução livre). O que começou como um pequeno evento em sua página no Facebook já tem mais de 43 mil pessoas confirmadas e ganhou apoio e adesão dos integrantes do movimento Occupy Wall Street (Ocupe Wall Street). Ela propõe que os correntistas de grandes bancos transfiram suas contas para instituições menores e de âmbito local no dia 5 de novembro.
Entusiasmada, Kristen disse a ÉPOCA estar feliz com o resultado da campanha, e espera poder dar um recado às instituições financeiras americanas. Ela, que entoa o coro dos manifestantes que dizem constituir "os 99%" da população americana insatisfeitos com o sistema financeiro e capitalista, afirma que quer abrir os olhos da parcela da população que vem sendo referida como “os 1%”. “Acredito que os americanos tenham chegado a seu limite máximo de paciência”, afirmou.
ÉPOCA - O que é o movimento Bank Transfer Day?
Kristen Christian - O Bank Transfer Day encoraja os cidadãos americanos a retirar seu dinheiro de instituições bancárias corporativas e capitalistas e a depositá-lo em uniões de crédito sem fins lucrativos, onde seu dinheiro acabará tendo impacto maior sobre a comunidade local. Durante muito tempo, esses bancos corporativistas administraram mal os investimentos das pessoas, além de terem mantido políticas de negócios sem nenhuma ética. A recém-instituída taxa mensal de US$ 5 pelo uso de cartões de débito, por exemplo, afeta diretamente as classes mais pobres e os trabalhadores - consumidores que ganham menos de US$ 20.000.
ÉPOCA - O que vocês esperam conseguir com o Bank Transfer Day?
Kristen - Me parece que os grandes bancos estão administrando muito mal os investimentos, incluindo aqueles recebidos de resgates financeiros. Nossa taxa de desemprego está maior do que já esteve em décadas. Em resumo, estamos com sérios problemas. Os grandes bancos não estão fazendo nenhum esforço para conter seus gastos e nem para reinvestir dinheiro nos Estados Unidos, então acredito ser a hora de os cidadãos se levantarem e se organizarem para parar de investir nessas instituições e redirecionar seu dinheiro a uniões de crédito locais.
ÉPOCA - O movimento surgiu quase que em paralelo com o Occupy Wall Street. Qual a relação entre vocês?
Kristen - Não há nenhuma ligação entre o Bank Transfer Day e Occupy Wall Street (ou com o grupo Anonymous). O que houve é que o pessoal do Occupy Wall Street adotou recentemente os objetivos do Bank Transfer Day. Mas eu não sou uma das organizadoras do Occupy e nem participei de forma alguma do movimento deles.
ÉPOCA - Mas você se considera “uma dos 99%”?
Kristen - Acredito fortemente que nenhum de nós jamais conseguirá manter contato direto com o 1% [da população mais rica]. Então sim, eu sou uma dos 99%.
ÉPOCA - Por que você acredita que os americanos decidiram finalmente se organizar contra o sistema financeiro?
Kristen - Acredito que os americanos tenham chegado a seu limite máximo de paciência. Eles não querem mais assistir passivamente a seus fundos de investimentos serem usados para custear estilos de vida luxuosos dos grandes banqueiros, especialmente enquanto tantos outros americanos estão sofrendo para pagar suas contas no final do mês.
ÉPOCA - E por que marcar a data do manifesto para 5 de novembro? O que há por trás dessa data?
Kristen - O dia e as campanhas visuais escolhidas para o manifesto foram pensados para substituir qualquer conotação prévia que esse dia tivesse pela memória do dia em que os cidadãos americanos se uniram em solidariedade e juntaram esforços para financiar o desenvolvimento de suas próprias comunidades locais.
[5 de novembro nos Estados Unidos tem vários significados simbólicos. Foi nesse dia que, em 2006, Saddam Hussein foi condenado à morte depois de os EUA terem invadido, em uma campanha militar cara, o Iraque. Mas o sentido usado pelo movimento vem de um atentado terrorista mal planejado que acabou dando errado em 1605, quando o inglês Guy Fawkes falhou em conseguir explodir parte do Parlamento Britânico, ficando o dia conhecido como o Dia de Guy Fawkes, ou dia da traição.]
ÉPOCA - Um fato curioso é que o Bank Transfer Day ganhou visibilidade graças à internet. Como foi o trabalho de divulgação?
Kristen - O movimento começou como um evento no Facebook que compartilhei com 500 amigos. A intenção não era começar nada em nível nacional, mas educar aquelas pessoas mais próximas de mim dos benefícios de realizar operações bancárias junto a uniões de crédito. Não houve propaganda, estratégias de marketing ou eventos oficiais do Bank Transfer Day. O movimento todo ganhou vida nas mídias sociais.
ÉPOCA - Uma das razões usadas por você para sustentar o Bank Transfer Day é a Emenda de Durbin. De que trata essa emenda e como ela afeta os americanos?
Kristen - A Emenda Durbin foi uma proposta do senador de Illionois Dick Durbin. Ela era parte da Reforma Dodd-Frank de Wall Street e do Ato de Proteção ao Consumidor de 2010. Seu texto se tornou Lei em 1º de outubro deste ano. Segundo a lei, fica reduzido em 50% o valor médio que os varejistas têm que pagar por transações no cartão de débito - até então, eles pagavam em média 44 centavos cada vez que uma transação era feita no débito. A partir de 1º de outubro, o Federal Reserve [Banco Central americano] limitará a taxa a não mais que 21 centavos mais 0,05% da transação (2 centavos em média) e mais um centavo para emissores de cartões que trabalhem com sistemas de prevenção de fraudes. A medida não afeta cartões de crédito, e os bancos continuarão a receber quase 2% do valor de cada transação feita.
ÉPOCA - Você acredita que as pessoas participarão do Bank Transfer Day?
Kristen - Sim. Acredito que as pessoas que apoiam o Bank Transfer Day foram sinceras ao prometer que transfeririam seus investimentos para instituições locais. Preciso dizer que estou animada e ansiosa para ver os impactos que isto terá! 

Os comentários a seguir são de minha inteira responsabilidade (Franz Lima):
Bom, antes de mais nada, peço desculpas por usar na íntegra a reportagem da Época. Gostaria de deixar o link, mas é de vital importância tê-la completa por aqui. Explico as razões:
a) O fato de postar aqui não irá tirar leitores do autor da matéria ou da revista. Muito ao contrário, ela os estimulará a procurar por mais material de qualidade.
b) Estou usando a matéria para fazer ponte entre meu pensamento (abaixo descrito) e a realidade nos EEUU.
Dito isto, vamos aos fatos. Quais os motivos que levaram uma cidadã, uma mera mortal, a comprar uma briga com os grandes bancos, os detentores do dinheiro e do poder? Insatisfação é um dos motivos. Raiva seria outro. Incredulidade no que diz respeito à atenção com os menos favorecidos é uma motivação plausível. Enfim, muitos motivos poderiam ter sido os responsáveis pelo despertar desta gigante, porém eu acredito em um motivo mais forte: a crença na força do coletivo. Não foi assim durante a campanha dos "caras-pintadas" pelo impeachment de Fernando Collor? Não foi assim na Revolta da Chibata? Quantos movimentos começaram silenciosamente e produziram mais barulho que uma explosão? Estes movimentos foram encabeçados por pessoas comuns, como nós, que tinham na vontade de mudar o grande diferencial para o sucesso. Kristen é apenas uma entre muitas pessoas que mudam o mundo diariamente. Chico Mendes e Gandhi são outros exemplos. Todos ficaram diante do dilema de parar e aceitar a vontade dos poderosos ou, arriscando a própria vida, lutar e congregar forças com outros "comuns". Todos eles mostraram que o exemplo pode ser seguido. Somos muito fracos diante do poder do dinheiro. Somos frágeis diante das armas e da força. Mas não há força capaz de silenciar a coletividade. Quando agrupadas, as hienas são capazes de medir forças com os leões...
O que me chamou a atenção nesta notícia foi a ousadia de Kristen. Ela expôs sua realidade, criticou e propôs uma atitude para mudar a injustiça que aflige não apenas ela como muitas outras pessoas. Quantos tem coragem de assumir as rédeas de uma "revolução"? Ela teve. E outros a seguiram.
Todos os dias reclamamos de nosso trabalho, da falta de aumento, da extorsão dos juros bancários e de infinitas outras situações. Todos os dias silenciamos ao ficarmos frente a alguém de poder, pois podemos ser perseguidos, criticados ou despedidos caso essas reclamações cheguem aos ouvidos dos "líderes". Todos as noites somos perseguidos pelos pesadelos de nossa covardia. Que tal dar um basta e tomar uma atitude? Que tal reescrever o futuro e entrar para a História? Mude seu comportamento e entre na guerra. Mude a História (ainda que apenas a sua). Você tem tudo para sair do ostracismo e lutar pelo que é seu... basta querer. Até quando irá se deixar levar pelo que lhe é imposto?
Who watches the watchmen?




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