Não seguirei a sequência cronológica
para explicar quem foi Genghis Khan (a grafia do nome varia muito). Este
especial que estou disponibilizando é composto pela primeira parte, com uma matéria descrevendo os motivos para a construção de um monumento a Khan,
a segunda parte onde lanço a transcrição de uma matéria da década de 1970 sobre
o imperador mongol e, finalizando, a terceira parte, dedicada a apresentar-lhes
os romances de Conn Iggulden, escritor inglês contemporâneo e amigo de Bernard
Cornwell.
Boa leitura a todos...
Franz Lima.
Mongólia
aposta em Genghis Khan para levantar moral do país
Dan Levin
Do New York Times
A estátua do imperador mongol |
Jesus Cristo preside sobre o Rio de Janeiro, um quarteto de presidentes dos Estados Unidos contemplam o país do Monte Rushmore e Lênin mantém a vigilância em São Petersburgo. Mas se estivéssemos falando de um concurso mundial para honrar gigantes históricos em escala colossal, talvez a Mongólia enfim voltasse a triunfar sobre todos os demais países.
Genghis Khan, o lendário cavaleiro que conquistou
metade do mundo conhecido no século XIII, voltou às estepes da Mongólia, e
dessa vez está cobrando entrada. A cerca de uma hora de carro da sóbria capital
mongol Ulan Bator, o khan surge no horizonte inicialmente como um pontinho
cintilante que ascende das pradarias como uma miragem luminosa.
À medida que o visitante se aproxima, a figura
ganha proporções cada vez mais deslumbrantes: um gigante a cavalo com 40 m de
altura, envolto em 250 t de cintilante aço inoxidável. Os visitantes podem até
mesmo tomar um elevador e emergir à altura da virilha da estátua a fim de
contemplar a luxuriante estepe mongol de uma plataforma de observação montada
sobre a cabeça do cavalo.
"Todo o povo mongol está orgulhoso dessa
estátua", disse Sanchir Erkhem, 26 anos, um lutador mongol de sumô que
vive no Japão e estava posando para fotos na plataforma antes da viagem de
volta. "Genghis Khan é nosso heroi, nosso pai, nosso deus".
A estátua gigantesca do mais famoso dos
personagens mongois, conhecido no país como Chinggis Khan, é o mais recente em
uma horda de monumentos e produtos que apareceram desde que o país escapou ao
jugo comunista, quase 20 anos atrás. Agora, os aviões pousam no Aeroporto
Internacional Chinggis Khan e os visitantes podem se hospedar no Hotel Chinggis
Khan. O rosto barbudo do líder está estampado nas latas de bebidas energéticas
e garrafas de vodca, em maços de cigarros e nas cédulas com as quais esses
produtos são comprados.
Os políticos não medem esforços para aderir à
caravana. Em 2006, o governo desvelou ainda outra estátua do conquistador, que
o mostra sentado, à maneira de Abraham Lincoln em seu memorial, na praça
principal de Ulan Bator.
Nos últimos anos, o Legislativo está debatendo se
o governo deve reter o direito de licenciar o uso da imagem e rosto de Genghis
Khan, ainda que um projeto de lei nesse sentido não tenha sido aprovado até
agora. A corrida para venerar - e lucrar com - o fundador de um grande império
transcontinental surge em um momento no qual os mongóis estão em busca de uma
identidade nacional depois de séculos de domínio por potências estrangeiras.
Já irritadiços diante da reputação mundial de
Genghis Khan como um vilão sanguinário responsável pela morte de incontáveis
pessoas, os mongois aproveitam avidamente as oportunidades de redefinir a marca
de seu líder lendário, e com isso a do país, que por muito tempo viveu à sombra
de poderosos vizinhos como Rússia e China.
A imensa estátua de aço, parte de um projeto de
parque temático, talvez sejam a mais ambiciosa e a mais cara dessas
manifestações de orgulho quanto nacional a Genghis. A Genco Tour Bureau, uma
companhia mongol de turismo, até agora investiu US$ 4,1 milhões na estátua.
No complexo ainda inacabado, há planos para
erigir um conjunto de 200 gers, ou tendas cônicas de feltro, que abrigarão
dormitórios para visitantes, restaurantes e lojas de presentes, tudo isso
disposto na forma do selo em forma de cavalo empregado pelas tribos mongois do
século XIII.
Dentro da base da estátua, um espaço de dois
pavimentos inaugurado em setembro de 2008, os visitantes podem contemplar o
lendário chicote dourado do khan, provar pratos da culinária tradicional - na
qual carne de cavalo e batatas têm papel central - e se dedicar a alguns
costumes que nada têm de nômades, por exemplo a sinuca.
Ainda que não existam dados que confirmem a
alegação, a empresa afirma que o local da estátua é aquele em que Genghis
encontrou seu chicote, o que tradicionalmente é visto como bom augúrio. O
evento é considerado como o marco inicial de suas futuras conquistas. Como
Genghis Khan, a empresa está determinada a expandir seu império. A alguns
quilômetros de distância fica um "parque nacional do século XIII",
onde os visitantes mais aventurosos podem ordenhar éguas, tecer lã e assistir a
uma cerimônia com xamãs. Um spa, hotel e pista de golfe estão em construção.
"Estamos falando de orgulho nacional",
disse Damdindorj Delgerma, presidente-executivo da Genco Tour Bureau. "Os
mongois ficam felizes ao ver essa estátua, e agora pessoas de todo o mundo
poderão vir e aprender sobre a importância histórica de nosso país".
Delgerma afirma que 40 mil pessoas já visitaram o
complexo, ainda que ele estivesse praticamente vazio quando lá estive, em um
dia de semana recente. Ainda assim, dizem os operadores, existe a esperança de
que ele traga receita muito necessária para a região da estepe, que sofreu
muito com a crise econômica mundial, e que também sirva para instruir aqueles
que vêm para admirar a estátua.
"Os estrangeiros não fazem ideia de quem
realmente Chinggis Khan foi", diz Khaliun Ganbold, 21 anos, uma guia
turística que fazia hora à espera de clientes, perto da loja de presentes.
"Tudo que sabem são as poucas informações que leram na Wikipédia".
A guerra de relações públicas sobre Genghis Khan
e sua reputação é intensa já há séculos. Primeiro reverenciado pelos mongois
nômades como brilhante líder militar que unificou as tribos e fundou o maior
império do mundo, o líder, nascido como Temujin mas mais tarde conhecido como
Genghis Khan, ou "o soberano universal", foi alvo de mitos dos xamãs
antes que monges budistas o incorporassem como encarnação de um deus
descendente de uma linhagem de reis indianos e tibetanos.
Christopher Atwood, professor de estudos da
Eurásia Central na Universidade de Indiana em Bloomington, diz que os mongóis
retomaram o culto a Genghis Khan em sua luta por independência, no começo do
século passado, mas que em 1949 a figura do líder se tornou alvo de uma
campanha revisionista conduzida pela União Soviética e seus vassalos mongois.
"É impossível tratá-lo como um heroi nacional descomplicado, que é
exatamente o que os mongois desejam", disse Atwood.
Tradução: Paulo Migliacci ME
Fonte: Terra.com
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