Gravadora Universal e MTV preparam especiais para lembrar uma década sem a cantora
São Paulo - Eram 18h quando uma multidão formada por 85 mil pessoas assistiu àquela mulher subir no palco,
com uma faixa no cabelo, acompanhada por seu inseparável violão. O ano
era 2001. Cássia Eller, aos 39 anos, estava no auge. Ela abria a segunda
noite da terceira edição do Rock in Rio com a missão de tocar rock - no
dia anterior, Gilberto Gil, James Taylor e Sting tiveram seu apelo, mas
falharam no quesito roqueiro.
Meio travessa, meio ensandecida, a cantora não poupou esforços para
fazer valer o rock que dá nome ao festival. Até os seios mostrou. Fez
versões pesadas de "Partido Alto", de Chico Buarque, a "Come Together",
dos Beatles. Contou com a participação especial da Nação Zumbi, para dar
o tempero brasileiro na festa toda, que, naquela noite, teve também
Fernanda Abreu, Barão Vermelho, Beck, Foo Fighters e R.E.M.
Dez anos depois, o festival voltou ao Rio. Mas Cássia, não. No fim
daquele ano, em 29 de dezembro, há exatos 10 anos e dois dias antes de
se apresentar na virada de ano na Barra da Tijuca, a carioca não
resistiu a um fulminante enfarte do miocárdio - as suspeitas do uso de
cocaína e álcool foram rechaçadas pelos médicos legistas. O mundo perdia
aquela que talvez só fosse uma garotinha crescida.
Cássia Eller se foi quando vivia a melhor fase da carreira. Além do
show irrepreensível no Rock in Rio, em 2001, a cantora lançou o seu mais
rentável disco, "Acústico MTV", que vendeu 1,1 milhão de cópias. Foram
95 apresentações em um ano.
Para lembrar uma década sem Cássia Eller, a MTV - que, aos poucos,
volta a focar no melhor da sua programação, ou seja, na música -
dedicou 24 horas da sua grade a ela. Das 7h de ontem até 7h de hoje, foram exibidos o Acústico e o programa Luau MTV, gravado pouco antes de
sua morte e exibido apenas em 2002, além de outros programas e
entrevistas.
Tributo maior, no entanto, vem da gravadora Universal, ao colocar nas
lojas o box "O Mundo Completo de Cássia Eller", uma compilação com seus
seis discos de estúdio, de "Cássia Eller", de 1990, ao póstumo "Dez de
Dezembro", lançado no ano seguinte à sua morte. Há também dois discos ao
vivo, o Acústico e um DVD, "Violões", uma reunião de suas aparições em
programas da TV Cultura entre 1990 e 1999.
É a melhor maneira de conseguir entender como funcionou a meteórica
carreira de Cássia Eller. Do som cru, uma voz ainda vacilante. Era mais
rock, menos violões. Mais gritos, menos melodias. Ainda assim, logo a
cantora chamou a atenção. O ponto de mudança veio em "Com Você... Meu
Mundo Ficaria Completo", de 1999. Graças ao filho Chicão, que disse que
ela mais berrava do que cantava. Rapidamente, Cássia se tornava pop,
suave, sem perder sua ousadia. As informações são do Jornal da Tarde.
Leia abaixo o texto da Folha publicado na data da morte da cantora (29/12/2001):
Aos 39 anos, a cantora Cássia Eller morreu hoje às 19h05 após sofrer
três paradas cardíacas na clínica Santa Maria, no bairro de Laranjeiras,
na zona sul do Rio de Janeiro.
A cantora tinha sido internada às 13h e chegou a ficar no CTI (Centro de Terapia Intensiva).
Segundo seu empresário, a cantora estava sentindo-se mal e reclamando de
enjôos, devido ao excesso de trabalho. Os sintomas, segundo ele, seriam
resultado de estresse provocado por excesso de trabalho. "Ela está
trabalhando muito. Em sete meses, fez mais de cem shows", dizia.
Ao
chegar à clínica, Eller foi internada na unidade coronariana. Mas o
empresário minimizava o fato. "Não havia quartos disponíveis na clínica.
Eu pedi que ela fosse internada lá. Se só houvesse vaga no CTI (Centro
de Tratamento Intensivo), ela seria internada lá."
O boletim
médico, assinado pelo diretor da clínica, Gedalias Heringer Filho,
informa que Cássia Rejane Eller chegou à clínica "com quadro de
desorientação e agitação, tendo evoluído rapidamente para depressão
respiratória e parada cardiorrespiratória".
O único boletim
médico divulgado confirmou a morte da roqueira, mas não revelou a causa.
A família ainda não se manifestou. A equipe médica, informou o boletim,
fez três manobras de ressuscitação na cantora. Às 18h, o quadro se
agravou, e Eller morreu uma hora depois.
De acordo com
informações extra-oficiais, a morte da artista teria sido consequência
de intoxicação exógena, o que significaria consumo em excesso de algum
tipo de droga. Essa informação não havia sido confirmada pela clínica
até o encerramento desta edição. O caso está sendo investigado pela 10ª
DP (delegacia de polícia) de Botafogo.
Em entrevista em abril,
Eller afirmava que já havia sido dependente de cocaína, mas que havia
conseguido se livrar do vício. "Fiz um tratamento de desintoxicação, que
durou de 1998 a 2000. Encontrei Jesus, sigo com ele, limpinha", disse
então a cantora.
Em seguida, contou como a droga estava
interferindo em sua vida. "Estava me atrapalhando muito, a ponto de
perder compromissos. Tinha criança dentro de casa, minha mulher não
estava gostando. Fui eu mesma que quis fazer, foi legal."
Homossexual
assumida, Cássia deixa um filho de oito anos, Francisco Ribeiro Eller, a
quem ela chamava carinhosamente de Chicão. A roqueira vivia há 14 anos
com Eugênia Vieira Martins (foto acima). As duas se conheceram quando Eugênia
estudava Letras na UnB (Universidade de Brasília) e trabalhava no
Tribunal Superior do Trabalho.
O pai do menino era o baixista Otávio Fialho, morto em um acidente de automóvel, alguns dias antes do nascimento de Chicão.
Antes
de iniciar a carreira artística, Cássia teve uma vida profissional
bastante diferente. "Quando criança, queria fugir com o circo, mas
acabei sendo garçonete e cozinheira, aos 18 anos, em Brasília."
Um ano mais tarde, ela foi para Minas Gerais e trabalhou como servente de pedreiro. "Fiz massa e assentei tijolos."
Quando
voltou para Brasília, substituiu uma amiga como secretária no
Ministério da Agricultura. "Fui demitida no terceiro dia. Aí resolvi só
cantar."
Rapaz, hoje em dia o Brasil tem poucas grandes vozes do Rock'n Roll! É uma pena que ela se foi tão cedo, tinha tanta coisa a acrescentar acho.
ResponderExcluirAinda tenho esperanças de que o nosso rock irá voltar à sua Era Dourada. Bandas como Legião Urbana, Titãs e cantores do porte do Cazuza e Cássia Eller são raros.
ResponderExcluirBom, pelo menos temos o Teló... blearghhhhhhhh!