O que você lerá abaixo é um "depoimento" de Cyril Pedrosa à Companhia das Letras. Para os que não o conhecem ainda, eis uma breve explicação sobre quem é o desenhista:
Cyril Pedrosa começou sua carreira na animação, trabalhando nos filmes de Disney "Corcunda de Notre Dame" e "Hercules".
Ele se tornou uma estrela em ascensão um novo tipo de narrativa
gráfica, combinando as influências da animação e as tradições literárias
de Borges, Marquez Garcia, e Tolkien para criar um visual único de
escrita.
Disse Cyril:
Até onde consigo me lembrar, eu sempre quis fazer histórias em quadrinhos.
Entre as boas e más razões que me fizeram desistir de ser presidente
da república, rockstar ou cirurgião-dentista, o poder mágico do desenho
assume o topo da lista, sem hesitação. A descoberta, a partir da
infância, do prazer que há, com um lápis e um papel, em mergulharmos no
interior de nós mesmos, até desaparecermos lentamente, marcou minha vida
para sempre.
Desenhamos, e abracadabra, desaparecemos.
É exatamente disso que se trata.
Aquele que desenha não pensa mais. Ele esquece de si mesmo e se
incorpora, corpo e espírito, na ponta de seu lápis, ao contato do papel.
Seu cérebro, a mão que desenha, o braço que se move, a cadeira sobre a
qual ele fica sentado oito horas por dia, a casa que o cerca, o mundo
inteiro, os medos, as dúvidas, as alegrias, tudo isso desaparece para
renascer por encantamento, e sob uma outra forma, nos traços que surgem
na folha de papel. Assim, que tenha 6, 39 ou 84 anos, o desenhista
viaja. Ele entra primeiro no interior de si mesmo, para então sair
novamente, projetando-se por inteiro na imagem que produz.
Muitos anos mais tarde, certamente ainda não satisfeito com essas
viagens mágicas de desenhista, fui para um pouco mais longe, para o lado
da minha imaginação, dos meus desejos, dos meus sentimentos. No início,
eu seguia com prudência os caminhos familiares e, depois, pouco a
pouco, tentei me afastar deles a fim de encontrar alguma outra coisa,
que valesse a pena compartilhar com os outros. Esses objetos, preciosos
ou banais, acabaram se juntando e se transformando em “histórias”,
depois em livros. Os “outros”, abracadabra, viraram leitores, e eu,
abracadabra, “autor de histórias em quadrinhos”.
Outros anos se passaram. Continuo com minhas viagens interiores, mas,
como em um passe de mágica, alguns de meus livros acabaram por me
carregar com eles. Tive a sorte incrível de que Três sombras
atravessasse fronteiras, sendo traduzido e lido em vários países, me
abrindo as portas para belos encontros e inesperadas aventuras… Pela
primeira vez na minha vida, graças a esse livro, eu vou sobrevoar o
Atlântico essa noite e chegar amanhã de manhã em São Paulo. Não consigo
acreditar que os livros tenham um poder assim, de mobilizar os homens,
de provocar encontros, de mudar vidas. Parece, no entanto, que é isso.
— Cyril PedrosaSábado, 5 de novembro de 2011
[Tradução de Carol Bensimon]
Agora, para complementar, uma resenha do site Impulso HQ sobre Três Sombras...
Um dos primeiros textos poéticos da literatura mundial foi a epopéia
de Gilgamesh, que fala da perda de um amigo e a jornada do herói em
busca de respostas para essa perda. Para quem achou que tal sentimento
nunca seria transmitido em uma HQ, realmente tem a obrigação de ler Três
Sombras.
No álbum em história em quadrinhos, lançado pela Cia das Letras pelo
selo Quadrinhos na Cia, o autor Cyril Pedrosa nos apresenta a vida do
pequeno Joachim que mora em um bosque tranquilo com seus pais Louis e
Lise.
O que poderia ser um típico conto infantil se transforma em uma
profunda história de amor e perda, quando a trama se desenvolve com a
aparição de três figuras ameaçadoras no horizonte, e tudo indica que
vida perfeita da família irá se desfazer.
Em uma narrativa ágil, que parece com um storyboard de um desenho
animado não realizado, o autor concentra o foco da ação em Louis, que
para não perder o filho empreende uma longa viagem por terra e pelo mar,
enfrentando tudo e de todos.
Pedrosa sabe narrar e sua experiência em animação nos estúdios
Disney, em longas-metragens como Tarzan e o Corcunda de Notre-Dame, está
impresso no álbum com traços simples e delicados.
É uma leitura rápida. Li o álbum em um dia, em um volta para casa
depois do trabalho, e é um prazer ver e ler o trabalho de Cyril Pedrosa,
e sentir que algumas cenas parecem ser tiradas de um sonho ou pesadelo.
Toda a história começa e termina na primavera. Cyril demonstra uma
sensibilidade incrível ao usar as estações do ano como metáfora. Não é a
toa que essa fábula foi premiada no Festival de Angoulême, na França.
Todos nós passamos ou vamos passar pelas mesmas situações enfocadas
na HQ e como eles, teremos que fazer as nossas escolhas. E isso nos
deixa a pergunta:
Três Sombras é uma HQ para crianças? Adultos? Infanto-juvenil?
A única resposta que tenho é bah! É um álbum para quem gosta de
quadrinhos com boas histórias e ilustradas com maestria. É um novo
clássico!
Três Sombras
Autor: Cyril Pedrosa
Quadrinhos na Cia
Tradução: Carol Bensimon
15,8 x 21,5 cm
272 páginas
R$ 39,50
"Corcunda de Notre Dame" e "Hercules" eram desenhos show de bola! Lembro que assistia ambos quando era mais novo e pensar que essa mesma pessoa gosta de Tolkien...demais! Essa critica me deixou muito curioso pelo enredo e já por ela dá vontade de ler essa HQ. :)
ResponderExcluirPoxa, Corcunda de Notre Dame, Hercules, Tarzan... só desenhos maravilhosos! Fico muito curiosa para ler essa HQ
ResponderExcluirVou fazer uma pesquisa para achar o menor preço de venda da HQ. Também gostei das informações dos trabalhos anteriores dele e, inicialmente, gostei muito das ilustrações e dos traços de seus desenhos.
ResponderExcluirMais uma garimpada produtiva rsrsrsrs.
Amigos, obrigado pelos comentários...