Por: Franz Lima. Curta nossa fanpage: Apogeu do Abismo.
Amigos...
Este é um trabalho meu já bastante antigo. O tema principal é a perda. Mas como definir perda? Morrer pode ser uma destas definições, porém há muitas vidas que ficam ligadas, mesmo com o advento da morte. Afastamento também é um tipo de perda, mas há quem transforme a distância em laços. Há os que moldam os problemas e dão a eles um novo significado, aprofundando o amor ao invés de valorizar a dor.
A história a seguir é uma das melhores formas que encontrei para dizer que, longe ou perto, vivos ou mortos, felizes ou não, o que basta para que jamais nos desliguemos das pessoas importantes em nossa vida é, sobretudo, tê-las em nossos corações. Amar é um sentimento capaz de ultrapassar o inimaginável. E é sobre isso que escrevi...
O conto está dividido em 5 partes.
"Perda"
Acordo e toco, instintivamente,
o travesseiro ao lado. Não há nada, além do frio de sua ausência lá. Nada além
de lembranças. Lembranças.
Sinto o peso das lágrimas
que não se importam em chegar sem aviso. A visão fica turva e, pouco depois,
sinto o gosto salgado de lágrimas em meus lábios. Lágrimas.
Oh, bom Deus – clamo – o que fiz para sofrer tanto? Por que ela teve que ser tão brutalmente levada de mim? – questiono, como se fosse receber uma resposta. Fico mais alguns segundos em silêncio e, abatido, me levanto para mais um dia de trabalho. O mesmo trabalho que acabou virando a minha razão de continuar vivo. Sem ele, já teria me juntado a ela há muito tempo.
Oh, bom Deus – clamo – o que fiz para sofrer tanto? Por que ela teve que ser tão brutalmente levada de mim? – questiono, como se fosse receber uma resposta. Fico mais alguns segundos em silêncio e, abatido, me levanto para mais um dia de trabalho. O mesmo trabalho que acabou virando a minha razão de continuar vivo. Sem ele, já teria me juntado a ela há muito tempo.
Ou será apenas a covardia a
responsável por me manter entre os vivos? Não sei responder com exatidão. Além
do que, responder, não mudará em
nada. Não trará nem levará nada. Nada.
Meus pés tocam o piso frio.
Dias antes, minhas mãos tocavam a terra fria para lhe prestar uma última
homenagem. A todo instante sinto a alma presa em uma cela fria de solidão.
Fria.
Eu o vejo, mas não posso
tocá-lo. Sinto seus pensamentos e não posso expressar os meus. Sei de seu amor
e, em contrapartida, sei de sua dor. Dor silenciosa e infinita. Dor por minha
partida. Dor por uma senda cruel e drástica. Dor por ter de encarar a
realidade.
Ele se levanta e toca o chão
frio com os pés. Seus pêlos se arrepiam quando lhe digo para se agasalhar. Ele
pensa ser o gélido do piso que lhe fez se arrepiar, porém minhas palavras lhe
trouxeram tal sensação.
Dias atrás, meus beijos lhe
trariam conforto. Dias atrás, meus dedos tocariam sua pele e trariam prazer.
Hoje, trago comigo apenas lágrimas sem sabor. Lágrimas escorrendo por minha
face e passando por meus lábios, sem qualquer sabor, tão intangíveis quanto eu.
Aumenta minha dor, saber de
seus pensamentos maus. De sua vontade em estar comigo. Aumenta minha dor
acompanhar seu sofrimento e, por ele, permanecer aqui presa. Presa por algo que
deveria libertar, algo puro e iluminado, por muitos chamado de amor. Contudo, algo
está me impedindo de ir e, a cada instante, as coisas ao meu redor assumem um
aspecto ainda mais sombrio. Ou parto ou vagarei em um limbo de escuridão,
silêncio e dor. É o que meus instintos dizem.
Busco de todas as formas com
ele falar. Sem resultados, os dias apenas passam...
E, com o passar dos dias,
mais definho. Mais fraco estou. Tudo, dizem os médicos, fruto de um problema
emocional grave, uma depressão profunda provocada pela morte de minha mulher.
Tenho um batalhão de
medicamentos na cabeceira da minha cama. Todos inúteis. Nenhum capaz de aliviar
minha dor.
E o que é o tempo para quem
já está morto? Sei que poucos dias se passaram desde minha morte. Sei que é
cedo para que ele se recupere, mas não sei quanto tempo agüentarei. Meu
horizonte está mais escuro a cada novo segundo. Logo, estarei realmente morta.
Logo, minha alma será sugada para o caos. E o pior, sei que ele, caso continue
assim, estará mais próximo de morrer do que imagina. Ver sua agonia é mais
triste e doloroso que a própria morte.
Ainda pior: morto, ele
estará ainda mais fragilizado do que eu. Ainda mais suscetível aos ataques das
trevas. É uma batalha que só terá a vitória como certa através de minha
intervenção. Uma intervenção conjunta com ele. Caso contrário...
Estou definhando. Perdi mais
de 15 quilos em poucas semanas. Perdi uma grande parte da minha dignidade, já
que estou sendo escorraçado em todos os lugares de meu trabalho. Descobri que
tenho valor enquanto produzo. Descobri que fraco, sou uma pedra impedindo, não
um degrau que facilita o acesso. E para onde foram os amigos? Em que labirinto
estarão se escondendo de mim?
Mais dois dias se passam.
Agora, uma espécie de luminosidade está começando a despontar. Sinceramente,
não tenho a menor idéia do motivo, mas é muito bem vinda, já que afasta os maus
que residem na escuridão. As marcas que surgiram em meu corpo estão começando a
esvanecer. Pelo visto, algo de bom está para ocorrer.
Voltei do trabalho,
apreensivo. Não tive muitos contratempos, mas estou com uma sensação estranha.
É uma mistura entre a saudade e o medo do desconhecido. Não sei bem se estou
descrevendo o que sinto corretamente... porém, é o mais próximo possível.
Hoje pela manhã, ao acordar,
tive uma visão, originada pelo cansaço. Nela, vi minha esposa repousando em um
leito branco, adormecida. Não sei direito, mas estou com medo do que está para
ocorrer.
Estou
acordada. Há pessoas ao meu redor e todas falam baixinho, como se ouvi-las
fosse me incomodar. Tento ouvir o que dizem e não obtenho sucesso. Percebo uma
delas com lágrimas nos olhos. A mulher chora e eu não sei o motivo. Isso me
deixa agoniada, nervosa por não saber o que se passa. Olho para todos e
sinalizo, sem obter qualquer resposta.
Subitamente, recordo-me de
um detalhe aterrador. Não os ouço e nem posso me mostrar a eles por estar
morta. Morta e, se não me engano, já em decomposição. Então,
o que estou fazendo neste... hospital?
Viro a cabeça e grito com
força suficiente para doer minhas cordas vocais. Ao meu lado, está meu corpo.
Contudo, não estou morta. Há eletrodos presos ao meu corpo, tubos em minhas
narinas e minha garganta. Minha cabeça está raspada e meu rosto inchado. Mas
estou viva!!!
Tive um pesadelo terrível.
Nele, eu e minha mulher estávamos internados em um hospital. Não lembro o nome
do lugar e não sei o motivo de estarmos lá. Lembro, entretanto, de um diálogo
entre os médicos. Eles discutiam, entre si, quais procedimentos adotar. Queriam
conversar com nossos familiares. Queriam informar que um de nós dependia demais
do outro. Um de nós estava condenado a morrer e o outro era sua salvação.
Não sei se recordo direito,
mas acho que, no sonho, meus pulmões haviam sido afetados por fumaça. E o mais
estranho está ocorrendo agora, quando sinto um ardor intenso ao respirar. Tudo,
talvez, fruto do impressionismo provocado pelo susto do pesadelo, acredito. Mas
o primordial é estar vivo. Vivo e longe de um leito de hospital.
CONTINUA...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns Franz!! Aprecio muito os contos que tratam deste assunto que, muitas vezes, é deixado de lado pelas pessoas que o temem mais que qualquer outra coisa. Isso sem falar que o texto está bem escrito e a dinâmica de trechos ora de um, ora de outro personagem também deu um toque interessante.
ResponderExcluirObrigado, Thiago. Mas não deixe de acompanhar as outras partes. Há muito ainda a ser descrito e muito a sofrer...
ResponderExcluirAbraços.
Poxa Franz, fiquei curiosa =o Gostei da questão de que sofrer exageradamente pela pessoa prende a mesma por aqui... Vou ler a continuação!
ResponderExcluirFranz, também gostei muito do texto divido em curtos trechos alternando de personagens. Deixa a leitura mais rápida. Parabéns...indo ler a próxima parte.
ResponderExcluirHoje estarei finalizando as postagens de "Perda". Obrigado pelos comments e, em breve, novas produções.
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