Por: Franz Lima. Curta nossa fanpage: Apogeu do Abismo.
Leia antes a primeira parte: Perda I.
- E então, o que acha? –
questionou o médico ao seu amigo.
- Sinceramente... – olhou o
outro nos olhos e, vendo a dúvida, respondeu: - Sinceramente, acho que a melhor
coisa a fazermos, é comunicar a família e aguardar os acontecimentos. Para mim,
a situação já não depende de nós.
Os dois médicos ficam em silêncio. Há dúvidas
atingindo suas mentes. E, em situações como esta, isto não é bom.
- Façamos então isto. –
quebrou o silêncio o médico mais velho. – Vamos contatar os familiares e, após,
iniciar o processo de transferência deles para a Barra da Tijuca. O pronto
atendimento já foi feito e, ao meu ver, o resto cabe aos médicos com mais
recursos.
- E a transferência?
- Isso só ocorrerá assim que
os familiares autorizarem. Mas tenho plena certeza de que não passará de hoje.
- Deus te ouça. Veja, eles
são famosos e ricos e, por isso, daqui a pouco estaremos tomados por
repórteres. A situação está precária e, com este alarde, a visão negativa sobre
nosso hospital aumentará e, com ela, os recursos diminuirão. Temos poucas
verbas e, por Deus, não colaborarei com a perda do pouco que resta.
- Entendo. – disse o médico
mais novo, com o olhar de quem não dorme há dias. – Entendo perfeitamente.
- É o que eu espero.
Colaboração. – ameaçou.
OS FATOS:
Relato retirado do Jornal do
Brasil – Rio de Janeiro – publicado em 15/05/2004-Sábado.
Acidente na Av. Presidente
Vargas.
Foram retirados com vida, os
dois ocupantes de um Kadett vermelho que, na madrugada de sexta para sábado,
chocou-se contra um Ford Ka. Os ocupantes do Ka (dois homens) faleceram ao dar
entrada no hospital e ainda não tiveram seus nomes divulgados. Já o motorista e
a acompanhante (identificados apenas por Hans e Ana) deram entrada no Hospital
do Andaraí, onde estão até o momento, recebendo tratamentos no Serviço de
Terapia Intensiva (STI). Segundo relatos ainda não confirmados, a mulher encontra-se
em estado gravíssimo e o motorista teve os pulmões queimados ao aspirar a
fumaça do incêndio. A probabilidade de sobrevivência é pequena para ambos, mas
o homem depende exclusivamente de um transplante de pulmão para tentar aumentar
suas esperanças.
É a tragédia provocada pelo
excesso de velocidade tão comum em nossos finais de semana, comentou o autor da
matéria.
15/05/2004 – Sábado –
15:13h.
Nunca pensei em vê-los dessa
forma. – desabafa o pai de Ana. – Meu Deus, eles não merecem isso. Não merecem.
- Senhor? – alguém o chama,
tocando seu ombro.
- Sim?
- Precisamos conversar sobre
a transferência de sua filha e o rapaz para outro hospital. Vocês têm
conhecimento do quadro dos dois? – inquiriu o médico.
Com a cabeça baixa, o pai de Ana responde com desânimo: - Sim, já fomos informados...
Com a cabeça baixa, o pai de Ana responde com desânimo: - Sim, já fomos informados...
Ana e eu sempre fomos
ligados. Mas, por mais estranho que isso pareça, esse laço parece ter aumentado
após sua morte. É tão estranho, sinto-a sempre tão junto de mim. Já não sinto
saudades, apenas conforto por tê-la viva em meu coração.
Minhas dores amenizaram. As
corporais e as da alma.
Não consigo mais vê-lo indo
ao trabalho, andando ou mesmo triste. Meus olhos só vêem seu corpo deitado no
leito do hospital, entubado e respirando por uma máquina.
Estou confusa. O que
acontece, não tenho idéia. Vagas lembranças surgem aleatoriamente e,
ocasionalmente, uma nova peça do mistério é posta no lugar correto.
Vejo a imagem de meu
namorado correndo com o carro. Não estava com medo. Estava até gostando. Daí,
só me lembro de um pequeno automóvel à nossa frente. Dor e escuridão.
CONTINUA...
Mto curioso... Não demore com as postagens Franz!
ResponderExcluirNovas postagens, hoje, Priscilla. Espero que goste.
ExcluirFranz, você escreve muito bem mesmo. Eu não gosto muito de histórias românticas, mas a que você está contando me prendeu mesmo! Parabéns!
ResponderExcluirObrigado, Ed. Essa é uma história com muito mais tristeza do que romantismo. Mas a parcela de comprometimento e amor, realmente, é forte.
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