“Os olhos dela se estreitaram. As palavras que ouvia soavam
como delírios paranoicos. Mas a voz – e os olhos — pareciam perfeitamente sãos.
Os olhos eram verde-marinho. Tinham uma honestidade e uma firmeza que poderiam
representar toda a segurança de que ela precisava.” – Pág. 73.
Sinopse: Em uma noite chuvosa, no
meio da estrada, um estranho fugindo de assassinos surge bem na frente do carro
de Cathy Weaver. O comportamento delirante de Victor Holland dava a entender
que se tratava de um homem à beira da loucura. Mas sua afirmação de que estava
sendo perseguido poderia ser atestada pelo temor no olhar e pela bala cravada
no ombro. À medida que as horas passam e os perseguidores se aproximam, Cathy
não consegue evitar um único pensamento: ela estaria ajudando uma pessoa em
perigo ou colocando sua vida nas mãos de um homem perigoso?
Análise
O
delator foi um dos primeiros livros de Tess Gerritsen. Nessa fase inicial da
autora as histórias românticas que se fundem ao elemento suspense/policial,
marca que se acentuaria em suas futuras publicações, foram dominantes. O seu
enredo tem alicerces que poderiam ser tranquilamente comparados a um filme de Hitchcock
e simultaneamente aos melhores filmes românticos.
A
autora se detém em diversas partes numa descrição minuciosa dos sentimentos
entre Cathy e Victor que se desenvolvem em uma atmosfera de perigo e paranoia. A
narração é tecida com uma habilidade que já anunciava a capacidade que a
escritora poderia atingir. Todo o conteúdo afetivo que é transmitido pelos
personagens ao leitor não é, em momento algum, entediante. Toda a linguagem
sentimental é dosada com parcimônia e inserida em momentos apropriados.
Os
leitores de Tess Gerritsen no Brasil que já a conheceram em sua atual fase
podem começar a leitura sem qualquer temor de que ao termino do livro possam
ter uma decepção. Costuma-se imaginar que um escritor em seu começo de carreira
seja mais desleixado ou dotado de um estilo menos atrativo, todavia não é o que
ocorre com Tess. Obviamente seu estilo de escrita está muito diferente, contudo
isso não diminui a qualidade de seu trabalho.
Algumas
das marcas que diferencia “O Delator” dos demais livros que já li dela é a
caracterização de suas personagens femininas e a maneira de desenvolver a trama.
Enquanto nos livros policiais as mulheres são construídas como seres de
personalidade muito fortes, dotados de independência e que ofuscam muitas vezes
a participação dos homens nos eventos narrados, em “O Delator” o foco oscila
entre personagens que complementam a trama (coadjuvantes) e o casal romântico
(protagonistas). Outra singularidade, como citei no início deste parágrafo,
fica por conta do modo usado para fluir a trama. Em todos os livros que li da
autora o mistério principal é experimentado em uma pequena dose nas primeiras
páginas do livro, uma curta cena geralmente e que costuma se encaixar no
contexto geral próximo do fim da obra, para depois desacelerarmos e irmos
retomando a velocidade novamente até atingirmos o clímax, entretanto neste livro
seguimos uma rota mais linear, indo da ignorância absoluta ao que está
escondido no cerne do romance para a sua solução ou esclarecimento. Aliás,
gostaria de deixar uma dica aqui, não leiam a orelha do livro, pois eventos que
só são explicados depois da página 100 são revelados sem o menor respeito ao
leitor. Acho que quando alguém se propõe a apresentar seja uma resenha ou um
comentário mais simples sobre um livro deve ter muito cuidado com o que revela
por meio de suas palavras, uma palavra fora do lugar pode acarretar infortúnio.
Tess Gerritsen |
Victor
representa toda a segurança que Cathy busca na vida, apesar dele estar fugindo
de algo que ela desconhece, a segurança que ele transmite no olhar e em suas
atitudes são dignas dos grandes galãs-heróis. Todavia essa figura de imponência
não é inabalável como o célebre senhor Bond ou o herói de ação Rambo. Sua
vulnerabilidade lhe concede um aspecto real e faz o leitor se sentir na
companhia de alguém que realmente poderia existir e não de um claro produto de
ficção. Já Cathy é uma mulher frágil, fato representado em seu corpo magro,
baixa estatura, falta de perspectivas para a sua vida amorosa e casamento
falido. Cathy não é o tipo de heroína ou mocinha que a todo tempo está
exaltando a sua paixão de forma exacerbada como uma adolescente costuma fazer.
Ambos possuem características que acabam transformando-os em um casal agradável
de acompanhar. Houve instantes em que torci mesmo para a união deles e olhem
que não costumo agir assim, exceto quando uma história consegue me capturar
verdadeiramente.
O
texto de “O Delator” é tão natural que até mesmo os leitores que costumam
prolongar o seu deleite não conseguirão resistir a avançar cada vez mais
páginas e talvez só larga-lo ao terminar. Eu o terminei em dois dias. A história
não tem um grande mistério a ser solucionado, logo não existem grandes
reviravoltas, entretanto as cenas de perseguição e fuga são de roubar o fôlego,
orquestradas com um toque de mestre. Considerando que o livro não é dotado de
um grande grau de complexidade não há muito que falar. “O Delator” é
essencialmente uma história de amor contada de um jeito capaz de agradar um
vasto público. Uma história em um estilo simples: A mulher que conhece o homem
misterioso e se apaixona para depois se ver em uma rede de conspiração e
perseguição. Recomendo!
Editora: Harlequin Books
Autor: Tess Gerritsen
Origem: Americana
Ano: 2011
Edição: 1ª
Número de
páginas: 320
Acabamento: Brochura
Formato: Médio
Alguns autores evoluem bastante de um livro ao outro e isso é muito bom. Acho que o primeiro livro é só diferente, não deve chegar a ser ruim. Esse negócio da orelha ter spoiler é bem comum, eu nem leio mais xD
ResponderExcluirParabéns pela resenha Ed!