Fonte: G1
'Memepedia' explica criação de frases como 'fica, vai ter bolo'.
Brincadeiras fazem parte de movimento cultural nas redes sociais.
É quase impossível passear pelas redes sociais da internet sem se
deparar, pelo menos uma vez, com a frase "fica, vai ter bolo". Mas você
sabe como surgiu esta brincadeira? Quem a colocou no vocabulário dos
internautas brasileiros? Como é que "comofas" e "fikadika" se
transformaram em termos corriqueiros? E por que é que a frase "é
estranho sentir saudade de algo o qual mal vivi ou evitava viver" entrou
para a obra da escritora Clarice Lispector?Bia Granja, do YouPix, curadora da 'Memepedia' (Foto: Arquivo Pessoal) |
A internet deve ganhar, em breve, uma enciclopédia virtual que vai
catalogar e mostrar a origem das expressões, piadas, frases e termos
difundidos pelos brasileiros na rede. Batizado de "Memepedia", o site já tem parte do conteúdo no ar, por enquanto em uma sessão no portal YouPix, mas deve ganhar casa própria nos próximos meses. "O domínio já está comprado", conta Bia Granja, 30 anos, editora do YouPix.
"Meme" é o termo utilizado para identificar este tipo de fenômeno da
comunicação, em uma analogia ao conceito criado pelo zoólogo Richard
Dawkins para explicar a disseminação de pensamentos, idéias e produtos
culturais.
Segundo Dawkins, algumas informações são transmitidas da mesma forma
que os genes, replicando-se automaticamente e tornando-se parte da
cultura universal. Mais: com a internet, estas unidades de informação
não apenas são retransmitidas, mas ganham novas leituras, misturam-se
entre si e servem como base para o surgimento de novas brincadeiras,
legendas.
"Ninguém no Brasil se preocupava em organizar os memes que surgem por
aqui, e mostrar como eles surgiam", afirma Bia, uma das responsáveis
pela curadoria do conteúdo publicado na "Memepedia". O objetivo do site,
explica, é registrar a história cultural da internet brasileira.
Bia se classifica como "conteudista", especialista em coletar a cultura
da internet. É um trabalho semelhante ao dos curadores de arte, mas com
características adaptadas para a velocidade das mudanças da rede. "As
universidades são burocráticas demais para acompanhar o que está
acontecendo no Orkut e no Twitter", diz. E o que está acontecendo, ela
acredita, é indício de um novo movimento cultural. "Mais do que um
movimento, é uma cauda longa de milhares de movimentos."
'Remix'A constatação de Bia tem apoio de
acadêmicos importantes, como o professor e ativista político Lawrence
Lessig, pai da licença Creative Commons, que facilita as regras de
transmissão e reprodução do conteúdo digital. Ele defende que a internet
colocou a humanidade na era do "remix". Tão importante quanto criar,
afirma Lessig, é alterar, misturar e contextualizar a criação artística e
cultural.
No Brasil, este "remix" começou seguindo a cultura dos memes americanos. "Keyboard cat", "rickroll" e "David after dentist"
ainda influenciam as redes sociais, assim como a estética de fotos com
texto sobreposto, herdada de fórums como 4chan e Something Awful e blogs
como "I Can Has Cheezburger" e "Failblog". Mas o designer Fransuel
Nascimento, 22 anos, acredita que no momento é a produção nacional que
emplaca mais nas redes sociais.
"Eu acompanhava mais os estrangeiros, hoje em dia nem tanto", afirma
Fransuel, idealizador e editor da "Memepedia". Depois que o 'zé adsense'
começou a querer 'emplacar memes', perdeu um pouco da graça."
Fransuel, define Bia, é um "entusiasta" dos memes. Em seu blog, começou
a contar a origem dos virais, que se propagavam sem boa parte de seus
disseminadores saber de onde vinham. "Eu conheço bastante gente que
acompanhou [o surgimento] dos mais antigos, então sei de bastante
coisa".
Fora do contextoPara ele, há uma diferença clara
entre a "piada interna" e o "meme": a participação de terceiros. "O meme
nasce a partir de um contexto e se espalha fora do contexto. É
diferente da piada interna, que só tem graça para um grupo fechado".
Com o poder de mobilizar pessoas de fora do círculo original da
brincadeira, os memes da rede podem até transcender os limites da
internet. A publicidade, por exemplo, já buscou conteúdo nas modinhas
das redes sociais.
É o caso dos americanos Kevin Antoine Dodson e Paul Vasquez,
personagens dos vídeos "Bed Intruder" e "Double Rainbow",
respectivamente. Após o sucesso na rede em 2010, os dois já participaram
de diversas propagandas. Vasquez recentemente foi contratado pela
Microsoft para promover o serviço Windows Live, e deve participar de um
evento da YouPix no Brasil ainda em Abril.
Enquanto o mundo "desplugado" começa a entender a cultura digital, Bia
analisa o que acontecerá com os memes em breve: "um dia, a cultura de
internet vai ser menos de internet e mais de cultura".
Curtam mais alguns Memes e suas origens:
Comentários
Postar um comentário