Fonte: Extra
Rio de Janeiro. Por Paolla Serra
Rio de Janeiro. Por Paolla Serra
X. tem só 16 anos, mas já viveu duas vidas. Na primeira, foi soldado
do tráfico no Complexo da Maré, fez arrastões e usou maconha, ecstasy e
lança-perfume. Foram três anos de existência bandida. Na outra, iniciada
há cerca de um ano, o adolescente é um dos 1.140 alunos do Colégio
Santo Inácio, em Botafogo, um dos melhores — e mais caros — do país. E
ele não foi o único a encontrar na educação um caminho para deixar o
crime.
Na rede estadual de Educação, as matrículas tiveram um
salto nas áreas pacificadas. Na rede municipal, das matrículas criadas
em 2012, 72% estão em escolas onde há Unidades de Polícia Pacificadora
(UPPs). Em matemática simples: três em cada quatro novos alunos são de
áreas onde o crime perdeu o controle do território.
Traumas antigos
X.
carrega o peso da encarnação no crime. Fala baixo, balbuciando as
poucas palavras. O olhar esconde os antigos traumas. O garoto nasceu em
Maceió, Alagoas, e ainda criança veio com os cinco irmãos para o
Complexo da Maré, onde moravam os parentes da mãe. Seu pai logo arrumou
um emprego como pedreiro.
O vício em bebida e caça-níqueis, porém,
engoliu o pouco dinheiro. Passou a bater na mulher. Ao se dar conta
disso, X. decidiu apostar no crime para sair de casa.
Em 2010,
conseguiu uma bolsa no Santo Inácio por meio de uma ONG, mas ainda
dividia seus dias de aluno com os de soldado da boca de fumo. O que
detonou sua saída do tráfico foi ser apreendido pela polícia após um
assalto a turistas em Santa Teresa. Após um mês e nove dias sem
liberdade, voltou para casa decidido a usar o estudo como rota de fuga.
—
Meu sonho agora é estudar e andar com a cabeça erguida — filosofa o
garoto, que leva duas horas de ônibus entre a favela e a escola.
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