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Gizmodo explica: O que falta para o 4G virar realidade no Brasil?

Fonte: Gizmodo. Por Rodrigo Ghedin

No dia 12 de setembro do ano passado a presidente Dilma Roussef afirmou: “Vamos implantar no Brasil o celular de quarta geração antes da Copa do Mundo.” O 4G, com a promessa de velocidades assombrosas e baixas latências, já encanta e conquista norte-americanos, asiáticos e europeus, mas ainda está longe de se tornar realidade no Brasil. O que é essa tecnologia e o que falta, afinal, para que ela deslanche por aqui? Respondemos essas e outras questões em mais um Giz Explica.

4G significa Internet móvel de alta velocidade…
As especificações do 4G foram definidas pela ITU-R, que também é responsável por homologar tecnologias complacentes com essas regras. Dentre elas está a velocidade de download de 100 Mb/s quando em trânsito e 1 Gb/s em pontos estacionários. Os dois principais candidatos a padrão nessa seara, LTE e WiMAX, não alcançam tais velocidades em suas versões atuais — a atual especificação do LTE chega a ~70 Mb/s. Mesmo assim, são considerados 4G pela ITU-R desde dezembro de 2010 por representarem ganhos expressivos em relação ao padrão anterior, o 3G/UMTS.
…que não tem um padrão muito definido…
Não é só nos limites mínimos de velocidade que a ITU-R faz “corpo mole”. As faixas de frequência nas quais os dispositivos 4G operam também não são padronizadas, incumbindo a cada país a tarefa de encontrar uma “vaga” no espectro para abrigar a tecnologia.
Apesar dessa confusão, há outras características que representam ganhos em relação ao 3G, como a largura de banda maior (o que torna a conexão acessível a mais pessoas simultaneamente), a latência bem menor, bem como o uso de compartilhamento dinâmico e outras funções que ajudam a suportar mais usuários ao mesmo tempo. A esse conjunto de característica se dá o nome de International Mobile Telecommunications-Advanced (IMT-Advanced).
Outro efeito colateral ruim dessa relativa bagunça é o uso indiscriminado da marca “4G” por operadoras. Nos EUA, por exemplo, a AT&T chama a sua conexão HSPA+ de 4G e o LTE, esse sim uma 4G de verdade, de 4G LTE.

A primeira rede 4G comercial do mundo foi inaugurada em 2009 em duas capitais escandinavas, Oslo (Noruega) e Estocolmo (Suécia). De lá para cá a tecnologia chegou a vários outros países, inclusive nos EUA, maior mercado de telefonia móvel do mundo. Lá o 4G é realidade desde 2010 e atualmente três das quatro maiores já oferecem Internet móvel de alta velocidade: Verizon e AT&T via LTE, e Sprint via WiMAX (com planos para migrar para LTE). A MetroPCS também oferece 4G via LTE. A T-Mobile, última das quatro gigantes, chama a sua conexão DC-HSPA+, que dobra a velocidade de downstream do HSPA+ chegando a 42 Mb/s, de “4G”.
Onde o 4G já existe, a disparidade no uso de frequências é evidente. Veja alguns exemplos mais além do dos EUA:
  • Austrália: 1800 MHz (LTE); 2300, 2500 MHz (WiMAX);;
  • Alemanha: 800 MHz, 1800 MHz (LTE);
  • Ásia (em geral): 1800, 2600 MHz
Como você já deve imaginar (e a lógica leva a crer), smartphones fabricados para determinadas frequências não funcionam quando em outras. Todos, porém, também funcionam em redes 3G/UMTS para um sistema meio “fallback” em regiões onde o 4G não existe ou é incompatível. É o caso, por exemplo, do novo iPad que chega amanhã ao Brasil.
…mas com frequências diferentes das que serão usadas aqui…

E mesmo que você compre o novo iPad esperando a rede 4G nacional se materializar, más notícias: as nossas frequências serão diferentes das usadas pela última versão do tablet da Apple. É o mesmo problema pelo qual passaram os australianos: mesmo com 4G operando por lá, o tablet da Apple só acessa a Internet via 3G.
A Anatel já estabeleceu as frequências e até publicou o edital da licitação, que deve ocorrer em junho. O nosso 4G usará a tecnologia LTE e operará na faixa dos 2500 MHz. Além dessa, haverá outra exclusiva para o uso em áreas rurais, de 450 MHz.
Eu sei. Você deve estar se perguntando “por quê?”. Acontece que a faixa dos 700 MHz, recomendada pela Qualcomm para uso na América Latina, atualmente é usada para a transmissão do sinal da TV analógica (canais 52 a 69 do UHF). Como o prazo para o fim das transmissões da TV analógica termina em 2016 (se tudo correr bem), não deu para esperar.
Com isso, não é apenas o iPad que fica “prejudicado” no Brasil, mas todos os smartphones e tablets que vêm de fora. Empresas como Samsung e Nokia, que fabricam por aqui, terão alguma vantagem nesse processo de localização, mas outras que importam, não. Isso sem falar em quem viaja para o exterior e aproveita o passeio para trazer um iPhone ou Galaxy na bagagem. Acabou a mamata — a menos que você se contente com nosso 3G capenga.
…que entrará em operação em abril de 2013…
Palavras de Dilma: nossa rede 4G estará em operação nas cidades-sede da Copa do Mundo até abril do ano que vem. O cronograma da Anatel é estender o alcance da rede gradativamente, até chegar às cidades com população entre 30 e 100 mil habitantes em 2022. Até maio de 2014, poucas semanas antes do início do campeonato futebolístico, todas as capitais e cidade com mais de meio milhão de habitantes estarão com 4G tinindo.


O edital da licitação já foi aprovado, o leilão ocorrerá em junho e o governo federal espera arrecadar no mínimo R$ 3,58 bilhões nessa brincadeira. Haverá duas etapas, sendo a primeira exclusiva para as faixas rurais (450 MHz). Se não forem vendidas, elas entram no bolo das faixas de 2,5 GHz e, então, serão leiloadas juntas. Além da implantação da nova rede, há uma série de compromissos que prometem melhorar e estender o péssimo serviço 3G de que dispomos hoje.
Isso tudo, claro, se nada mudar mais uma vez. Sim, porque as operadoras estão fazendo uma pressão danada contra a implantação da novidade.
…porque as operadoras não estão muito animadas com os investimentos necessários…
Outro problema na escolha da frequência de 2,5 GHz para o nosso 4G é que ela se propaga menos do que frequências mais baixas e, portanto, exige mais investimentos em infraestrutura. E isso parece ser um problemão porque as operadoras estão fazendo jogo duro contra o 4G.
O leilão das frequências já foi adiado algumas vezes por pressão e lobby delas. As operadoras dizem que ainda não terminaram o ciclo de implantação do 3G no país, o que em outras palavras significa que ainda não capitalizaram (o suficiente?) com a tecnologia passada. Se sim ou não, parece que agora vai.
Mas há outro possível complicador para que o leilão de fato ocorra em junho: EUA e Europa. Como o edital da Anatel prevê a utilização de +50% de equipamentos nacionais na infraestrutura das teles, representantes dos governos do hemisfério norte foram à OMC reclamar. Novamente, porém, Paulo Bernardes, ministro das Comunicações, e João Rezende, presidente da Anatel, bateram o pé e disseram que nada muda.
…mas que vai sair mesmo assim.
Aos trancos e barrancos e com a insatisfação daquelas que proverão o serviço (o que deixa todo mundo apreensivo com a qualidade da coisa), o 4G no Brasil caminha para se tornar uma realidade. Logo de cara, ele terá um desafio dos grandes: a Copa do Mundo, com gente do planeta inteiro por aqui, ainda que poucos com equipamento capaz de “conversar” com nosso 4G na frequência de 2,5 GHz. O jeito é esperar, torcer e, principalmente, ficar de olho no desenrolar dessa história toda. Que a triste do 3G não se repita, amém.

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