Pular para o conteúdo principal

Lista de compras: Máfia Export (livro) - o avanço do crime

"Mafia Export", escrito pelo italiano Francesco Forgione, analisa o envolvimento político e econômico de redes criminosas --'Ndrangheta, Cosa Nostra e Camorra-- e a sua atuação no mundo.
Sobre a indústria do crime, comenta o autor, "único produto 'Made in Italy' que não conhece crises, mas que nas crises econômicas e sociais e em todas as grandes passagens de época do velho e do novo século teve a capacidade de se renovar, de criar e de afirmar novas marcas, de conquistar novos territórios e novos mercados."
O livro aponta que o faturamento anual dessas organizações aproxima-se de 130 bilhões de euros, número superior ao PIB de alguns países.
De 2006 até a dissolução em 2008, Francesco Forgione foi presidente da Comissão Parlamentar Antimáfia. Elegeu-se deputado na década de 1990 e leciona história e sociologia das organizações criminosas na Università degli Studi dell'Aquila.

Leia um trecho do livro:


1. SAN LUCA E O MUNDO 
Massa ao forno em Amsterdã

Novembro de 2008. Há muitas horas já está escuro. Desde queamanheceu, o sol quase não se levantou: o outono no Aspromonteé assim, nunca se faz dia. São nove da noite, e nas ruas de San Lucanão se vê vivalma. Três jovens mulheres e duas crianças pequenas saem de casa, entram no carro, deixam a cidade e começam a se perder entre as curvas que do Aspromonte descem para o mar Jônio. É o início de uma longa viagem. Voltam a atravessar as montanhas na rodovia expressa Jônio-Tirreno e chegam à estação de Rosarno. Aguardam o Intercitty Notte 894 das 22h30, trem que partiu de Reggio Calabria e se dirige a Roma Termini.

Às 7h15 da manhã seguinte estão em Roma. As três mulheres e  as crianças se misturam à multidão caótica de turistas e trabalhadores pendulares que, todas as manhãs, nesse horário, povoam a estação. Olham as vitrines das lojas, dão café da manhã para as crianças, depois saem para a esplanada. Em vez de táxis, entram
diretamente em contato com dois carros de aluguel, daqueles clandestinos, e pedem para ser levadas até a estação Tiburtina. Enquanto olham as capas das revistas em frente a uma banca, um homem caminha em sua direção. Acabou de descer de um Volkswagen Passat com placa alemã. Uma das três mulheres se afasta do grupo, vai a seu encontro e troca apenas poucas palavras com ele. O homem entra no carro e vai embora; as mulheres e as crianças se dirigem a pé à Piazza Bologna.

Desta vez, entram em um táxi regular. Como estão em cinco, pegaram um Fiat Multipla. Ao taxista, as mulheres fazem um pedido genérico e um pouco “estranho”: pedem para ser acompanhadas a um lugar amplo, se possível cheio de gente. O taxista as leva para a Piazza Re di Roma. O espaço existe, e o bairro é bem popular. O grupo desce. Dá uma volta ao redor da praça, só o tempo de olhar algumas lojas. Param outro táxi e voltam para as proximidades da estação Tiburtina.

A esperar as mulheres e as crianças está o Passat com a placa alemã, que parou na frente da estação algumas horas antes, mas o motorista é outro. Cumprimentam-se apenas com um aceno de cabeça, colocam as bagagens no porta-malas, entram todos no carro e partem. Dirigem-se a Florença e, quando cruzam a saída para Lucca, viram bruscamente. Agora vão a Gênova e de lá prosseguem para Turim. Na altura de Alessandria, desviam por Valle d’Aosta e, atravessando o túnel do Gran San Bernardo, entram na Suíça.

O Passat viaja por estradas secundárias entre desfiladeiros e montanhas já cobertas de neve. Atravessa a fronteira francesa e começa uma espécie de tour de France sem lógica alguma. O percurso é esquizofrênico, aparentemente sem meta. Até chegar à fronteira belga. Também nesse país, o carro com o motorista, as mulheres e as crianças faz rotas estranhas, mas a direção já está clara. Atravessam a fronteira com a Holanda, chegam a Amsterdã e param diante de uma pequena casa de dois andares.

O bairro é residencial, não rico, mas distante e diferente das periferias industriais onde há décadas vivem as famílias de emigrados da Calábria, da Sicília e da Puglia, que partiram da Itália no final dos anos 1950. A região, muito tranquila durante o dia, à noite fica repleta de jovens e adolescentes que vêm da cidade inteira para se encontrar, a poucos metros da casa, em um dos bares mais frequentados e badalados de Amsterdã.

  • Editora: Bertrand Brasil
  • Autor: FRANCESCO FORGIONE
  • ISBN: 9788528615074
  • Origem: Nacional
  • Ano: 2011
  • Edição: 1
  • Número de páginas: 364
  • Acabamento: Brochura
  • Formato: Médio 
  • Quanto: R$ 39,00 em média. Melhor preço AQUI.
Esta nova seção do Apogeu irá postar dicas de compras de livros, filmes e quadrinhos com informações detalhadas e links com os melhores preços. 

Comentários

  1. Máfia é um assunto que costuma render bons livros e filmes. Até observo que, na ficção, o assunto tem sido pouco explorado, ou menos explorado do que poderia, apesar do sucesso de Mario Puzzo com "O Poderoso Chefão". Gostaria também de ler mais sobre Chicago, anos 1920, "Os Intocáveis" foi um filme que me marcou. O trecho não revela muito, mas passa uma ideia sobre o estilo do autor. Parece muito interessante, a capa também é atraente.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Li alguns livros sobre a Máfia. Mário Puzzo criou um clássico que irá perdurar por muito, muito tempo. Entretanto, a visão nele contida é muito simplista e romântica. A Máfia não tem glamour ou beleza e é, essencialmente, um Comando Vermelho com mais inteligência. Os crimes são hediondos, a piedade nula e a covardia absoluta. Pelo anonimato eles matam, corrompem e impõem o medo.
      Tenho uma resenha sobre um destes livros que li: Máfia - padrinhos, pizzarias e falsos padres. Publico hoje, 14/05

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Bethany Townsend, ex-modelo, expõe bolsa de colostomia de forma corajosa.

Bethany Townsend é uma ex-modelo inglesa que deseja, através de sua atitude, incentivar outras pessoas que sofrem do mesmo problema a não ter receio de se expor. Portadora de um problema que a atinge desde os três anos, Bethany faz uso das bolsas de colostomia  que são uma espécie de receptáculo externo conectado ao aparelho digestivo para recolher os dejetos corporais, e desejou mostrar publicamente sua condição.  Quero que outras pessoas não tenham vergonha de sua condição e é para isso que me expus , afirmou a ex-modelo. Bethany usa as bolsas desde 2010 e não há previsão para a remoção das mesmas.  Eu, pessoalmente, concordo com a atitude e respeito-a pela coragem e o exemplo que está dando. Não há outra opção para ela e isso irá forçá-la a viver escondida? Jamais... Veja o vídeo com o depoimento dela. Via BBC

Suzane Richthofen e a justiça cega

Por: Franz Lima .  Suzane von Richthofen é uma bactéria resistente e fatal. Suas ações foram assunto por meses, geraram documentários e programas de TV. A bela face mostrou ao mundo que o mal tem disfarces capazes de enganar e seduzir. Aos que possuem memória curta, basta dizer que ela arquitetou a morte dos pais, simulou pesar no velório, sempre com a intenção de herdar a fortuna dos pais, vítimas mortas durante o sono. Mas investigações provaram que ela, o namorado e o irmão deste foram os executores do casal indefeso. Condenados, eles foram postos na prisão. Fim? Não. No Brasil, não. Suzane recebeu a pena de reclusão em regime fechado. Mas, invariavelmente, a justiça tende a beneficiar o "bom comportamento" e outros itens atenuantes, levando a ré ao "merecido" regime semi-aberto. A verdade é que ela ficaria solta, livre para agir e viver. Uma pessoa que privou os próprios pais do direito à vida, uma assassina fria e cruel, estará convivendo conosco, c

Pioneiros e heróis do espaço: mortos em um balão

* Há exatamente 100 anos subir 7400 metros, num balão, era um feito memorável. Consagrados por isto, três franceses - Sivel, Crocé-Spinelli e Tassandier - resolveram tentar uma aventura ainda mais perigosa: ultrapassar os 8 mil metros de altitude. Uma temeridade, numa época em que não existiam os balões ou as máscaras de oxigênio e este elemento precioso era levado para o alto em bexigas de boi com bicos improvisados. Uma temeridade tão grande que dois dos pioneiros morreram. Com eles, desapareceu boa parte das técnicas de ascensão da época que só os dois conheciam. Texto de Jean Dalba Sivel No dia 20 de abril de 1875, mais ou menos 20 mil pessoas acompanhavam à sua última morada, no cemitério de Père-Lachaise, os despojos de Teodoro Sivel e de Eustáquio Crocé-Spinelli - os nomes, na época da produção do artigo, eram escritos em português para facilitar a leitura e "valorizar" nossa própria cultura. A grafia correta dos nomes é Théodore Sivel e Joseph Eustache Cr