Um assunto que já esteve mais em evidência, a Máfia italiana volta a ser abordada com seriedade neste livro.
Com uma escrita de fácil leitura (onde a narrativa assume um perfil
de romance mesclado à reportagem), a autora traça um perfil da
influência atual das máfias italianas (Camorra, ´Ndrangheta, Sacra
Corona Unitá e a Cosa Nostra) não só em boa parte da própria Itália,
como também na Alemanha. Ao contrário do país “governado” pelo
Primeiro-Ministro Silvio Berlusconi e seu partido Forza Italia (apontado
inicialmente como “colaborador” dos mafiosos e, ao final, como um
deles) onde as leis são rigorosas contra criminosos envolvidos nestes
clãs, a Alemanha mostra-se o palco ideal para a lavagem de dinheiro
proveniente de cassinos, prostituição, tráfico de drogas, falsificação
de roupas, assassinatos e outros crimes tão ou mais bárbaros.
Evidencia-se que isso ocorre não em prol de uma possível aceitação da
Máfia na Alemanha, muito ao contrário, mas por existir uma morosidade no
sistema penal, onde, ainda que condenado, o indivíduo pode recorrer em
diversas instâncias, em liberdade, o que leva o processo a arrastar-se
por anos. Além disso, há certa descrença no poder político e financeiro
das Máfias em solo alemão, motivando mais o avanço das “famílias”.
O livro descreve as perseguições pela qual a autora passou e ainda
passa, o assassinato do juiz Giovanni Falcone, um dos maiores opositores
ao crime organizado – passagem que choca pelo planejamento e o destemor
dos assassinos -, a colaboração dos políticos, intimidação, colaboração
da Igreja Católica (a maioria esmagadora dos mafiosos é católica),
encontros com alguns boss e até a censura imposta ao livro (tarjas pretas em alguns trechos) por influência mafiosa, inclusive na edição brasileira.
Destacam-se, ainda, os depoimentos de familiares de mafiosos,
ex-mafiosos (desertores) e até padres que apóiam os chefes, mostrando um
intricado código de honra e a famosa lei do silêncio, a Ommertá, além
de evidenciar os inúmeros colaboradores e sua influência em tribunais,
na política, comércio e religião e, principalmente, as conseqüências de
se opor a eles. Especial atenção é dada ao papel das mulheres nas
“famílias”, onde além de mães e esposas, elas também são as responsáveis
por transmitir os valores do clã e, em última instância, podem até influenciar na ordem de um assassinato.
Esqueça os estereótipos da Máfia. Aqui a verdade é vista sem
maquiagens. O alerta dado é muito claro: o crime organizado italiano se
expande e assume faces aparentemente legais, sem que isso implique em
menos violência e mortes. O pior é saber que, tal qual na Alemanha,
temos um sistema político corrupto, polícias mal remuneradas e leis
vagarosas, tornando-nos um território mais do que propício para a
proliferação dos negócios escusos.
Petra Reski, assim como Roberto Saviano, está sob ameaça de morte.
Isto, contudo, não a impede de exercer ao máximo seu papel como repórter
e, com coragem, apontar uma realidade cruel onde o poder e o dinheiro
ditam as regras.
Por fim, devo dizer que este livro é indispensável para compreender
um pouco mais dessa realidade vergonhosa e prevenir o leitor e as
autoridades deste câncer que se espalha pelo mundo.
A autora nascida em 1958, na Alemanha, é jornalista e escritora.
Recebeu em 2009 o prêmio Civitas por agregar valores ao jornalismo
alemão.
Franz LimaTÍTULO: MÁFIA: PADRINHOS, PIZZARIAS E FALSOS PADRES
ISBN: 8563876015
IDIOMA: Português. 240 páginas.
ANO EDIÇÃO: 2010
AUTORA: PETRA RESKI
PREÇO: R$ 39,90
Parece ser uma excelente indicação de leitura, outro livro interessante sobre a máfia, e mais ainda por abordar uma praticamente desconhecida: a alemã. Pela japonesa Yakuza podemos deduzir que mesmo as sociedades mais organizadas não estão livres do "poder paralelo", que na verdade não é tão paralelo assim (um poder dentro do poder). Mas realmente é uma surpresa saber que na Alemanha esse problema é tão sério.
ResponderExcluirE como a resenha alerta muito apropriadamente, os problemas que existem na Alemanha e que favorecem as máfias são os mesmos que existem por aqui, de uma forma mais intensa e permanente: "sistema político corrupto, polícias mal remuneradas e leis vagarosas". Além disso temos uma vizinhança "do barulho", e hoje o crime organizado é internacional. Como se não bastassem os problemas institucionais e institucionalizados que já temos aqui dentro...