A foto que mostrou ao mundo a dor que a guerra pode trazer completa hoje 40 anos. A famosa foto com as crianças correndo, fugindo do local onde sua aldeia havia sido atacada por um bombardeio de Napalm, virou símbolo de uma guerra covarde e injusta, mostrando a dor de inocentes e o poder bélico de quem prefere matar à distância.
A foto foi feita no dia 08 de junho de 1972 pelo fotógrafo da agência Associated Press, Huynh Cong Ut, que posteriormente recebeu o prêmio Pulitzer pela imagem.
A menina da foto chama-se Phan Thi Kim Phúc e sua história é descrita com mais detalhes na matéria após a imagem símbolo e algumas imagens coloridas da ocasião.
Que este dia e esta imagem fiquem sempre na mente de todos, pois é importante que algo desse porte nunca volte a ocorrer novamente.
O destino da menina que foi a cara de uma guerra
Por: Jamil Chade
Kim Phúc e seu filho |
Ela se transformou no símbolo da Guerra do Vietnã. A foto da menina
queimada, fugindo nua após seu vilarejo ser devastado pelos americanos,
correu o mundo. Hoje, Phan Thi Kim Phuc ainda carrega as marcas do
bombardeio, mas se esforça para superar o trauma. "Estive no inferno e
percebi que, se mantivesse o ódio, nunca sairia dele", disse a
vietnamita em entrevista ao Estado durante sua passagem por Genebra, na
semana passada.
Phan conta que jamais esquecerá o dia 8 de junho de 1972. "Estávamos
em casa e, de repente, começamos a ver nossa vila sendo atacada.
Corremos para um templo, que depois também foi bombardeado. Decidimos
sair correndo. Ao sair, senti meu corpo inteiro queimar, como se
estivesse em um forno. Era o napalm, que eu, sinceramente, não tinha
ideia do que fosse até aquele momento", disse Phan, que teve 65% de seu
corpo queimado.
Seu vilarejo, Trang Bang, fica no sul do Vietnã, a cerca de 40
quilômetros de Saigon. A bomba foi lançada por soldados do Vietnã do Sul
contra tropas norte-vietnamitas. A operação foi coordenada por
militares americanos, ainda que Washington jamais tenha admitido seu
envolvimento.
MILAGRE
Convite para um jantar em homenagem a Kim |
Em 1972, ela tinha 9 anos. Hoje, aos 45, é casada e mora no Canadá
com seus dois filhos. Sua foto, tirada por Huynh Cong Ut, fotógrafo da
agência Associated Press, ganhou o Prêmio Pulitzer do ano seguinte e se
transformou no símbolo do conflito.
Enquanto a foto corria o mundo, sua vida mudava de forma radical.
Após o ataque, ela foi levada para um hospital em Saigon pelo próprio
fotógrafo. "Só me lembro que jogava água no meu corpo."
Quando chegou ao hospital, as enfermeiras disseram que a garota não
sobreviveria. "Fiquei 14 meses internada e passei por 17 cirurgias",
diz. A última ocorreu na Alemanha Oriental, em 1984. Mas, nem assim, as
marcas desapareceram. "Continuo sentindo muita dor a cada movimento."
Um ano após o ataque, ela voltou ao vilarejo. "Alguns dias depois,
meu pai me trouxe um jornal e me mostrou a foto. Fiquei horrorizada e
chorei sem parar por vários dias. Foi naquele momento que comecei a
entender o que eu tinha vivido. Além disso, estava muito envergonhada.
Não suportava me ver nua em uma foto que o mundo inteiro viu."
Phan relata que estava vestida com uma roupa leve no momento do
ataque, a qual que foi queimada em alguns segundos. "Se estivesse usando
uma roupa mais pesada, que levasse mais tempo para queimar, estaria
morta. Muitos morreram exatamente desta forma."
Aos 13 anos, ela foi estudar em Saigon. No regime comunista, obteve a
autorização, alguns anos mais tarde, para estudar medicina em Cuba,
onde conheceu seu marido. Na viagem de lua-de-mel, o avião fez uma
escala no Canadá, de onde o casal nunca mais saiu.
Phan tentou viver no anonimato, mas foi descoberta nos anos 90. "Um
dia, estava andando na rua em Toronto e alguém me disse que sabia quem
eu era. Foi aí que eu entendi que não poderia mudar o passado, mas que
poderia alterar o significado do que ocorreu."
A vietnamita passou a atuar como ativista de direitos humanos,
tornou-se embaixadora da Unesco e criou uma fundação. Até hoje, Phan se
lembra com ironia dos comentários do então presidente americano Richard
Nixon, que duvidava da autenticidade da foto.
Leia o relato completo de Kim, extraído de uma gravação concedida à BBC:
Em 1972, os americanos lançaram uma bomba de napalm em meu povoado, no sul do Vietnã.
Um fotógrafo,
Nick Ut, tirou uma foto minha fugindo do fogo, a foto que hoje é tão famosa.
Eu me lembro
que tinha 9 anos, era apenas uma menina.
Naquela noite,
nós do povoado havíamos ouvido que os vietcongues estavam vindo
e que eles queriam usar a vila como base.
Então, quando
já era dia, eles vieram e iniciaram os combates no povoado.
Nós
estávamos muito assustados.
Eu me lembro
que minha família decidiu procurar abrigo em um templo, porque nós acreditávamos
que lá era um lugar sagrado.
Nós acreditávamos
que, se nos escondêssemos lá, estaríamos a salvo.
Eu não cheguei
a ver a explosão da bomba de napalm; só me lembro que, de repente, eu
vi o fogo me cercando.
De repente,
minhas roupas todas pegaram fogo, e eu sentia as chamas queimando meu
corpo, especialmente meu braço.
Naquele
momento, passou pela minha cabeça que eu ficaria feia por causa das queimaduras,
que eu não ia mais ser uma criança como as outras.
Eu estava
apavorada, porque de repente não vi mais ninguém perto de mim,
só fogo e fumaça.
Eu estava
chorando e, milagrosamente, ao correr meus pés não ficaram queimados.
Só sei que
eu comecei a correr, correr e correr.
Meus pais
não conseguiriam escapar do fogo, então eles decidiram voltar para o templo
e continuar abrigados por lá.
Minha tia
e dois de meus primos morreram.
Um deles
tinha 3 anos e o outro só 9 meses, eram dois bebês.
Então, eu
atravessei o fogo.
Queimaduras
O fotógrafo
Nick Ut nos levou para um hospital das redondezas.
Assim que
ele nos deixou lá, foi para uma sala escura revelar as fotos.
Depois, me
falaram que eu e as outras pessoas feridas seriam transferidas para o
hospital de Saigon.
Dois dias
depois, meus pais me encontraram no hospital.
Eu passei
bastante tempo no hospital: 14 meses.
Os médicos
fizeram 17 cirurgias para curar as queimaduras de primeiro grau.
Metade do
meu corpo ficou queimada.
Aquele foi
um momento decisivo na minha vida.
A partir
daí, eu comecei a sonhar em como ajudar outras pessoas. Meus
pais guardaram a foto, que tinha saído num jornal, e depois a mostraram
para mim.
"Esta é
você, quando você estava ferida", disseram eles. Eu
não consegui acreditar que era eu, era uma foto aterrorizante.
Eu acho que
todas as pessoas deveriam ver essa foto, mesmo hoje.
Porque essa
foto mostra claramente como uma guerra é terrível para as crianças.
Você pode
ver o terror no meu rosto. Basta ver a foto, para as pessoas aprenderem.
Este
texto foi adaptado de uma gravação feita para o site do BBC World Service
em inglês.
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no se puede scordar...
ResponderExcluirRealmente são elas, as crianças, que sofrem com tudo isso, sendo que nem ao menos entendem o que está ocaionando aquele sofrimento!.
ResponderExcluirLeiam CRIMES DE GUERRA NO VIETNÃ = Bertrand Russel. Vejam o documentário CONFISSÕES DE UM ASSASSINO ECONÔMICO = JOHN PERKINS, agente da Cia.
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