Fonte: Revista Veja
Por Tânia Monteiro
Brasília - Cansados de esperar por iniciativas dos comandos e do
Ministério da Defesa para que consigam reajuste de seus salários, os
militares da ativa começaram uma mobilização por um caminho inusitado:
eles estão buscando adesões na internet para que o assunto seja objeto
de discussão na comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do
Senado. Até o início da noite desta segunda-feira, haviam sido coletadas
mais de 206 mil assinaturas de militares e civis em apoio ao movimento.
Essas assinaturas embasaram um pedido já enviado para o Senado,
solicitando a realização de audiência com autoridades como os ministros
da Defesa, Celso Amorim, e do Planejamento, Miriam Belchior, para tratar
do aumento salarial.
O movimento já está sendo chamado de "marcha
virtual". O assunto já foi parar no Planalto, mas não está sendo objeto
de avaliação pelo palácio, que apenas acompanha as informações. Há
informes no Ministério da Defesa sobre o alto índice de endividamento da
categoria. Os integrantes do movimento virtual querem chegar a 500 mil
assinaturas. O assunto preocupa o governo até porque, paralelo à marcha
virtual, as mulheres dos militares estão programando um "panelaço" para
ser realizado durante a Rio+20, quando o Brasil receberá cerca de 120
chefes de Estado e de Governo para a conferência mundial do meio
ambiente. A convocação das mulheres também está sendo feita pela redes
sociais.
No link da página do Senado, onde pedem adesão para que o
assunto "reajuste salarial" seja discutido no Congresso, os militares
lembram que "não há aumento há mais de onze anos e a classe se vê
obrigada a fazer empréstimo consignado para sobreviver e não passar por
privações". Há queixas de todas as regiões do País sobre seus os
comandos para que o tema seja levado ao Palácio do Planalto. No
Ministério da Defesa, a informação é que o assunto "é objeto de
tratativas das áreas técnicas da Defesa com Planejamento", mas não há a
menor previsão de quando o assunto poderia ser levado para esferas
superiores ou de quanto poderia ser a proposta de reajuste.
Nota de Franz Lima:
A realidade dos militares em nosso país é algo sofrível. Não houve aumento salarial efetivo desde o início da década passada, praticamente. Homens e mulheres que sonham em fazer parte do contingente das Forças Armadas abandonam esta perspectiva em função da defasagem salarial que, a cada novo aumento do mínimo, só amplia. O poder aquisitivo dos militares está tão baixo que o êxodo dentros das FFAA é gigante. Militares com mais de 20 anos de serviço buscam por novas opções, médicos e dentistas não se efetivam e também ficam por pouquíssimo tempo na caserna. Some-se a isso o fato de que a classe militar já é alvo até de propagandas (inclusive televisionadas) sobre empréstimos, tal é a situação precária dentro dos quartéis.
Com uma infra-estrutura fraca, poucos recursos, sucateamento, inexistência de aumento salarial e até mesmo o desprezo pelo estudo (uma vez que não se ganha um único centavo a mais por ter completado o nível superior ou além), não há estímulo para o ingresso ou a permanência no militarismo.
Atitudes como esse protesto virtual ou o panelaço são apenas a ponta do iceberg. O que esperar de pessoas mal remuneradas que lidam com fronteiras, segurança nacional (interna e externa) e com as vidas de milhares de pessoas? É preciso relembrar que as regiões Norte e Nordeste recebem apoio incondicinal destes servidores? É relevante dizer que a saúde das populações ribeirinhas são monitoradas pelas Forças Armadas ao invés do governo de seus Estados? Quantos pais de família ficaram longe de casa para resgatar corpos no acidente da TAM em pleno oceano? Por que políticos e servidores do judiciário recebem respeito e aumento, enquanto homens e mulheres treinados para morrer por este país são desprezados e tratados como refugo? Tem algum outro funcionário arriscando a vida ao patrulhar favelas e áreas de guerra no Líbano, Haiti e outras localidades?
É hora de usar as armas da inteligência e da palavra e mostrar a todos no país que um passado negro não é obrigação de um futuro também envolto em trevas.
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