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Resenha da Graphic Novel: Os Lobos dentro das paredes, de Neil Gaiman e Dave McKean.

O que vale mais: imagens ou palavras? Para um mestre da escrita como Neil Gaiman, isso seria irrelevante. As palavras dele são pesadas, tem força. Sua narrativa é envolvente em inúmeros tipos de estilos. Ele mostra coerência com o romance, com a literatura infanto-juvenil, quadrinhos e até no cinema. Gaiman é um escritor admirável, considero isso um fato. Porém não há nada tão bom que não possa ser aprimorado. É por isso que ele costuma unir sua força narrativa aos grandes ilustradores. Mesmo em um texto curto e simples - e ainda assim interessantíssimo - Gaiman se destaca e, primorosamente, esse destaque ganha contornos mais interessantes com um ilustrador do porte de Dave McKean. Nessa Graphic Novel, McKean dá traços indefinidos aos personagens humanos e atribui expressões quase humanos a seres inanimados e aos Lobos, talvez buscando evidenciar o quanto somos distantes quando isso convém.
É sobre essa união que irei falar. Gaiman e McKean juntaram forças para criar uma singela e interessante fábula moderna. "Os Lobos dentro das paredes" é uma Graphic Novel cheia de mensagens - visíveis ou não - aos leitores. Não é uma HQ comum, mas se vale desse formato para alertar-nos sobre os problemas de uma vida vazia e do desprezo ao conhecimento das crianças. Sim... elas tem conhecimento.  
Lucy é uma menina que mora com os pais e o irmão. Há indiferença na família, um isolamento não muito incomum em muitos lares. O pai atarefado,  a mãe preocupada e o irmão desinteressado são as pessoas que convivem com a jovem Lucy. Indiferentes ao que ela diz, os familiares não se importam quando a menian afirma que há lobos nas paredes. Ela insite, porém ninguém realmente lhe dá atenção. É nesse cenário que Lucy vive e, para não sofrer,  encontra refúgio em seu porquinho de pelúcia. 
Resumindo, somos apresentados a uma menina que tem família e não os sente presentes. Há um distanciamento incômodo e, infelizmente, comum, uma característica da modernidade que atrai os distantes e afasta os próximos. Geralmente, só um acontecimento muito diferente para trazer de volta a união ao grupo e, nesse caso, a invasão dos Lobos foi esse acontecimento.
Os Lobos sairam das paredes e expulsaram a família de Lucy, amedrontados que estavam. Longe de casa e daquilo que valorizavam, restou-lhes uns aos outros. Contudo, Lucy ficou sem seu porquinho, amigo e confidente, e por ele, ela voltou. A trama mostra invasores muito parecidos com os atingos habitantes da casa, inclusive com relação aos medos, e é isso que será usado como trunfo por Lucy e seus parentes. O confronto entre invasores e fugitivos é inevitável, mas essa não é a parte importante da história. O que, dentro do meu entendimento, é imprescindível,  foi a abordagem das visões equivocadas que temos do desconhecido, do temor pelo diferente, além de um alerta sobre as atuais relações familiares e a perda do amor mútuo em detrimento às obrigações e modernidades que nos são ofertadas. 
Lucy recupera um pouco do amor da família. Eles precisam se unir para combater um inimigo comum,  porém é difícil destruir ou descartar velhos vícios e manias. Nesta fábula fica um lembrete para nós leitores: valorizamos realmente o que precisa do nosso amor? Será que os Lobos precisarão invadir também sua vida para que perceba o que está ao seu redor?


Os Lobos dentro das paredes
Título original: The wolves in the walls
Escrito por Neil Gaiman
Ilustrações por Dave McKean
Editora Rocco- Jovens Leitores
Traduzido por John Lee Murray 
ISBN: 85-325-1992-X
Páginas:
60

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