Fonte: Estadão
RIO DE JANEIRO - Escritores que frequentam a Bienal do Livro e a
Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), como Ariano Suassuna,
João Ubaldo Ribeiro e Ferreira Gullar, sobem o morro de hoje a domingo
para falar a um novo público. Eles vão participar da primeira edição da
Festa Literária Internacional das Unidades de Polícia Pacificadora
(Flupp), que vai receber também autores estrangeiros que vêm pela
primeira vez ao País.
Pacificado há um ano e nove meses, o Morro dos Prazeres, em Santa
Teresa, na região central do Rio, foi escolhido em uma lista de 28
favelas que também se livraram dos traficantes armados pelas ruas com a
chegada das UPPs. "Queríamos fugir da zona sul, para não esbarrar no
clichê da praia, mas também não dava para radicalizar demais. Por isso
preferimos o centro da cidade", explicou o escritor Julio Ludemir, um
dos organizadores.
Ele buscou patrocínio de gigantes como Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Petrobrás, Vale e
Itaú-Unibanco e apoio de organismos internacionais, como o British
Council e os Institutos Cervantes (da Espanha), Goethe (Alemanha) e
Camões (Portugal), que bancam a vinda de nomes como Thomas Brussig e
Juan Pablo Villalobos. Mas não sensibilizou as editoras. "Não veem que a
classe C não tem apenas o novo consumidor de celular, mas um novo
leitor."
A ideia da Flupp surgiu da constatação de que existe demanda nas
classes pobres por eventos do gênero, tanto que há nas comunidades
interesse pela Flip, o modelo inspirador, com autores reunidos em mesas e
conversando diante do público.
A preparação foi a Flupp Pensa, que de abril a julho chamou autores a
13 comunidades e promoveu oficinas literárias. Como em todas as
iniciativas voltadas à leitura, o foco está nos jovens, na premissa de
que "ler é legal". O homenageado da festa é Lima Barreto, escritor do
início do século 20 que retratou o subúrbio, as desigualdades sociais e a
discriminação racial.
A curadoria, do jornalista Toni Marques, buscou variar a programação.
Além das falas dos escritores (19 brasileiros e 17 estrangeiros),
haverá apresentações musicais, exposição sobre Lima Barreto, painel a
ser finalizado por dezenas de grafiteiros e intervenções teatrais, além
de um braço infanto-juvenil.
Segundo o tenente Maicon Pereira, comandante da UPP dos Prazeres, a
quadra onde será instalada a tenda Policarpo Quaresma, principal espaço
da Flupp, foi usada no passado para bailes funks e pagodes organizados
por traficantes. "Antes da UPP, seria inviável um evento desse, os
escritores não compareceriam. A população (30 mil pessoas) está
gostando, até porque a maior parte da mão de obra empregada é local e
isso gera renda."
A escritora de origem caribenha radicada em Londres Yvvette Edwards
vem empolgada para ver "o Brasil real". "Muitos acreditam que os eventos
literários são elitistas, mas em uma favela mandamos a mensagem de que
todo mundo é bem-vindo."
Franz says: é muito bom ver a cultura chegar aos lugares onde antes apenas o medo chegava.
Os moradores das comunidades merecem oportunidades de conhecer e, principalmente, aprender a amar a literatura e todo o universo por ela englobado.
A UPP é uma iniciativa que não pode cessar com a mudança de governo. Todas essas evoluções, antes impensáveis, podem sumir caso a Pacificação seja interrompida por um desmando político.
Parabéns aos idealizadores do projeto literário e também aos responsáveis pela manutenção da ordem pública e da paz nas comunidades carentes do Rio de Janeiro.
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