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Resenha da maxissérie "A Era do Apocalipse".

Por: Filipe Gomes Sena



            Os anos 90 não são famosos por ser uma época muito boa para os quadrinhos de forma geral. Muitos dizem, inclusive, que os mesmos devem ser esquecidos.
            Nos anos 90 eu não passava de uma criança. E eu gostava muito de gastar meu tempo folheando as HQs de um tio meu. Mesmo com pouca idade eu sabia que na Marvel os anos 90 tiveram um grande nome: X-Men. É inegável que nessa época os alunos de Xavier tiveram mais destaque que a grande maioria dos outros personagens da Casa das Ideias. Leitores mais recentes da Marvel podem achar o que eu estou dizendo uma coisa meio estranha, mas é fácil lembrar que os mutantes foram estrelas do filme que iniciou a onda de filmes de super-herois justamente devido a sua popularidade. Talvez o único que pode ter rivalizado com a popularidade dos X-Men nessa época tenha sido o Homem-Aranha.
            Os anos 90 foram a era dos X-Men, mas quando essa época é lembrada, surge na memória dos leitores de quadrinhos daquele tempo uma única era: A Era do Apocalipse.


            Quando eu soube que as historias d’A Era do Apocalipse seriam republicadas eu fui imediatamente inundado pela nostalgia. Apesar de ser bem novo na época, eu ainda conseguia lembrar do visual da maioria dos personagens, mesmo não lembrando absolutamente nada da história. Quando comecei a ler o primeiro volume sofri o choque que qualquer leitor de quadrinhos formado nos anos 2000 deve ter sofrido: A Era do Apocalipse é o resumo de como os quadrinhos eram feitos quase 20 anos atrás. Mas antes que você se revolte e pare de ler essa postagem deixe que eu me explique.
            Em A Era do Apocalipse o primeiro “problema”, com aspas bem grandes, é a arte. Caso você esteja acostumado com a arte das revistas de hoje é possível que ache estranho o traço e as cores da maioria das histórias, não só isso, o próprio design dos personagens pode causar estranheza, principalmente em personagens como Colossus e Dentes de Sabre, que tem o físico mais avantajado e os músculos muito exagerados, coisa que não acontece hoje. O mesmo vale para os uniformes, muito coloridos e de gosto relativamente duvidoso, e eu nem vou citar o estilo do cabelo dos personagens.
            O texto pode ser considerado outro “problema”. Excesso de descrições e explicações pra cada detalhe das ações de alguns personagens tornam algumas passagens um pouco enfadonhas. Os diálogos entre os personagens às vezes não são muito dinâmicos e a quantidade imensa de balões chega a desestimular a leitura em alguns momentos, principalmente por se tratar de volumes relativamente grandes. Inclusive não recomendo ler nenhum dos números em uma tacada só.
            Mas o mérito da historia está principalmente na caracterização dos personagens. A que talvez mais chame atenção é a do Magneto desse universo. Com a morte do Prof. Xavier ele funda os X-Men e toma pra si o ideal de convivência pacifica entre os humanos e os mutantes. Mas isso acaba mudando um pouco quando Apocalipse entra na jogada, dominando toda a América do Norte e iniciando o extermínio de todos os humanos. Os X-Men acabam se tornando uma das únicas esperanças de por fim à Era do Apocalipse. De maneira geral os personagens são mais duros e violentos do que suas versões originais. Falando nisso, vale a pena lembrar que a brutalidade, às vezes bastante exagerada, é algo constante em toda a história. Mesmo em passagens que os atos violentos não são mostrados, ainda são claramente sugeridos. Principalmente quando são descritas as formas que os servos de Apocalipse exterminam, escravizam e utilizam as vidas humanas para os mais diversos fins. Fora os diversos massacres citados ao longo da história, massacres esses que vitimaram as famílias e amigos de alguns dos personagens da história, responsáveis por alguns traumas e motivando alguns deles a por um fim no reinado de Apocalipse.
            A história completa d’A Era do Apocalipse se desenvolve ao longo de 11 arcos principais, que juntamente com algumas historias extras foram organizados e lançados em 6 volumes, num total de mais de 1400 páginas. O que ficou na minha cabeça quando eu li tudo foi a dificuldade que um leitor comum deve ter tido na época que essas historias foram lançadas. Acompanhar tantos arcos ao longo de vários meses não deve ter sido uma tarefa fácil*. 

            Em resumo a história mostra como os X-Men tentam destruir o reinado de Apocalipse, o ar de guerra muda depois que eles descobrem que algum problema no passado causou uma anomalia temporal e que se a linha temporal for reparada será o fim da Era do Apocalipse. Nesse ponto os X-Men se dividem e correm contra o tempo pra conseguir todos os elementos necessários para a reconstrução da linha temporal, e a partir daí o enredo realmente fica legal. Dentre os vários arcos que compõem essa saga gigante eu destaco o arco dos X-Men que são diretamente liderados por Vampira (Astonishing X-Men), o arco focado em Noturno e sua busca pela mutante Sina (X-Calibre), as historias cósmicas de Gambit e os X-Eternos em busca do cristal de M'Kraan (Gambit and the X-Ternals), o arco focado em Ciclope e na elite mutante a serviço de Apocalipse (X-Factor), o arco com a nova geração dos X-Men, os alunos de Colossus e Lince Negra (Generation Next) e o final da história (X-Men: Omega).
            Se você leu a publicação original de A Era do Apocalipse, se você perdeu alguma parte da historia ou simplesmente quer ler uma saga gigante sem precisar quebrar a cabeça pra saber qual história vem antes do que, essa é uma boa oportunidade. Mas fica o alerta para aqueles que não liam quadrinhos nesse tempo, ou quadrinhos desse tempo: a história nem tanto, mas a forma como ela é contada é muito datada. Por fim só resta dizer que esta é uma saga que merece lugar no acervo de qualquer um que é admirador antigo dos alunos de Xavier.

* Em resposta a esse questionamento do Filipe, eu respondo por ter sido um desses leitores: sim, acompanhar qualquer maxissérie da época era algo torturante e financeiramente quase impossível. Eu perdi algumas edições e só as recuperei muito tempo depois. Além disso, a opção da editora em publicar a série em diversas revistas de títulos diferentes é cansativa e desrespeitosa com o público. Mas como o próprio Filipe citou, até nos EUA a saga foi publicada em diversos títulos...
Franz

Comentários

  1. Rapaz, acho que os anos 80 e 90 foram terrenos férteis de uma forma ampla, basta vermos as produções cinematográficas também. Interessante quando as coisas de outrora nos chamam, né? O meu gosto também é muito voltado para as raízes das coisas, apesar de curtir também materiais mais "frescos". Acho que conhecer as origens de uma arte que apreciamos amplia a nossa visão. Esse designer de personagens extremamente musculosos, reflete a forma dos heróis que faziam sucesso nessa época (basta lembrar de atores de sucesso: Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone, Dolph Lundgren etc). Apesar da violência existir nas HQs hoje em dia, talvez mais suavemente, se "Era do Apocalipse" fosse lançada atualmente, acho que teria muitas "organizações" querendo impedir as vendas da história. Filipe, você demonstrou um grande conhecimento do universo dos X-Men, meus parabéns!

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  2. Ótima resenha desta maxissérie dos X-Men!! Vim em busca de informações sobre essa saga e saio muito satisfeito com esta! Obrigado!

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  3. Ótima resenha desta maxissérie dos X-Men!! Vim em busca de informações sobre essa saga e saio muito satisfeito com esta! Obrigado!

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  4. Uma ótima resenha, eu vim ler resenhas sobre. A época era difícil mesmo, eu não tinha nenhuma HQ haha... não tinha grana pra comprar, a verdade é que HQ's são feitas para adolescentes e adultos que trabalham, crianças só as leem se derem sorte de ter parentes pra bancar tal hobby. Eu lia coisas esporádicas em bibliotecas (anos 90, né? hehe). Estava vendo a resenha no Pipoca e Nanquim (canal do youtube), e sugeriu procurar as edições de Fabulosos X-Men nº 16 e 17, que é quando o filho do Xavier muda as eras ao fazer a cagada de ir ao passado pra matar o jovem Magneto, e acabou matando seu próprio pai (mas sem ler essas já consegue entender os encadernados). E claro, essa edição foi publicada apenas pela Abril, no selo Abril Jovem. Hoje pra comprar só em sebo, mas dá para conseguir pelo mesmo preço (R$ 3,30), consegui e li. Tenho as 6 edições que a Panini lançou da Era do Apocalipse, e é muito foda! Sabe, eu gosto de ler numa tacada só, mesmo esses grandes encadernados hahahahaha, pego um fim de semana de tarde e já era, devoro um encadernado completo. Recentemente eu reli a saga do Massacre, que a Panini também relançou nos mesmos moldes de Era do Apocalipse (apesar de falarem mal dela por conta de Heróis Renascem, eu adoro).
    Vale a leitura, para qualquer fã da Marvel ou mesmo dos X-Men. Abraço!

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