Por: Franz Lima.
300 é um filme
inspirado em um fato histórico muito conhecido, porém teve sua base na obra dos
quadrinhos homônima de autoria de Frank Miller. A Graphic Novel escrita e
desenhada por Miller teve ainda a participação de sua esposa, Linn Varley, na
colorização. Com um visual próximo ao apresentado em ‘Sin City’, o livro
tornou-se um grande sucesso de vendas, o que chamou a atenção dos grandes estúdios
de cinema.
Na trama,
somos apresentados ao povo espartano, uma classe de guerreiros de elite que
vive sob um rigoroso código de conduta, voltado para a manutenção da segurança
e do direito de liberdade de seus integrantes. As cenas iniciais mostram como o
jovem Leônidas acabou por se tornar o rei espartano (relembro que nesse período
poderia haver mais de um rei), um guerreiro virtuoso e impassível, mesmo diante
dos mais cruéis inimigos.
A tranquilidade
do povo espartano é abalada com a chegada de um emissário persa. Este,
mostrando uma arrogância enorme, ameaça o povo, o rei e sua rainha. Como resposta,
Leônidas e seus guerreiros matam os mensageiros (em uma cena ímpar), dando início
a um dos mais inspiradores eventos que a História guardou.
Sem o apoio do
conselho de anciãos, amaldiçoado pelos homens que travam contato com os deuses
e avisado pelo oráculo, o rei decide partir para defender Esparta com apenas
sua guarda pessoal, composta por 300 homens (que servem para dar título ao
filme) e mais 7000 guerreiros de localidades próximas.
A partir daí,
o que vemos é uma batalha similar a de Davi contra Golias. Um exército de mais
de 120 mil homens (no filme, os números chegam a mais de 1 milhão) contra
apenas 7300 guerreiros. Claro, a abordagem fica quase toda centralizada nos 300
espartanos, em sua impulsividade e destemor diante de um inimigo tão
grandioso.
Contudo, mesmo
em número menor, o que se vê são vitórias seguidas, demonstrações de ironia e
descaso com os persas por parte dos espartanos. Os 300 vão ganhando moral, ao
passo em que empilham corpos no campo de batalha. As cenas de luta se valem do
recurso de câmera lenta para dramatizar ainda mais o filme.
Para contrapor
Leônidas, surge o rei Xerxes
(interpretado pelo ator brasileiro Rodrigo Santoro), um homem que se intitula “Deus”
e não tolera insubordinações. Xerxes exige do rei espartano apenas que “dobre seus joelhos e me declare seu senhor”.
Tal pedido tem graves sequelas para
ambas as partes.
300 se passa, em sua maioria, nas Termópilas, onde os guerreiros espartanos buscam impedir o avanço persa. Mas a situação se reverte, quando um homem espartano, renegado por seu povo, trai seus compatriotas e indica o único acesso não guarnecido pelos leais combatentes de Leônidas.
É decretada, então, a derrocada dos homens de Esparta. Antes de finalizar esta resenha, devo deixar claro que, apesar de inspirado nos quadrinhos, o fato histórico em si é muito bem representado, mesmo que as indumentárias, alguns comportamentos e o exagero dos personagens se faça presente. Mas há de se convir que, para os padrões de Hollywood, não é sempre que se faz jus à História.
A representação de persas como vilões conquistadores, impiedosos e cruéis, além da caracterização de seu rei como um deus, depilado e com um visual próximo ao de um body-piercing, acabou por trazer muitos protestos dos iranianos, herdeiros do império persa. Também muito se criticou a caracterização espartana, onde os homens aparecem como verdadeiros cultuadores do corpo e, ainda, lutam em campo seminus, fato improvável, dada a vulnerabilidade de um guerreiro assim trajado em combate. Mas essa liberdade poética do autor (Frank Miller) não compromete o desenrolar da história.
Por fim, temos os 'heróis' cercados pelos 'vilões'. Homens traídos por um dos seus. Homens que não se curvarão diante do inimigo que quer impor suas crenças, sua religião e seus costumes. Com um discurso muito próximo ao de George Bush (e não é por mero acaso), Leônidas diz que, mesmo que caia, outros irão lutar pela honra, pela liberdade e por seu país. Nada irá apagar da história a vitória moral dos 300. Vale morrer lutando por um ideal, diz o narrador. Bem, esta é uma outra discussão...
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