Uma história baseada em fatos reais em sua essência,
ambientada nas docas de Nova York dos anos 80. O autor inicia a trajetória de
seus personagens às portas do aeroporto da Nicarágua, quando se encontram e se
conhecem diversos homens selecionados por uma agência de empregos para compor a
tripulação de um navio chamado Urus. O protagonista desta história é o jovem
Esteban, soldado de um batalhão irregular do exercito revolucionário
Nicaragüense, que busca reiniciar sua vida em um lugar distante.
Diferentemente
dos demais membros da tripulação, Esteban não foge da falta de emprego, de
dinheiro, de oportunidades, mas foge de si mesmo tentando, em vão, se esquecer
dos horrores da guerra em seu país que lhe ceifou o amor e amigos.
O sonho de ganhar o mundo e iniciar uma odisséia mar adentro sofre o primeiro golpe ao chegar no cais e contemplar o enorme e sucateado Urus. Um cargueiro que sofrera um terrível incêndio meses antes e cuja seguradora tivera declarado perda total, embora seu capitão, o jovem demais para ser capitão, Elias, garanta à tripulação latina recém contratada que aquela banheira irá navegar em alguns meses.
Assim se inicia
um longo e terrível período em que a tripulação trabalha em condições
desumanas, comendo restos abandonados no navio, dormindo em camarotes sem luz,
sem água, sem aquecimento, sem pagamento, e vendo-se cada vez mais abandonados,
esquecidos e humilhados.
Sem poder voltar
para casa de mãos vazias e sem poder deixar o navio, posto que seriam
imigrantes ilegais dos Estados Unidos, vêm-se obrigados a se agarrar à
esperança ingênua de navegar no Urus ou pelo menos vê-lo vendido e receberem
seus salários atrasados.
O leitor terá
mesmo a impressão de que o livro irá acabar por volta da página 50, pois o
autor não esconde o jogo e não faz mistério de sua história. Não guarda nada
para um suposto final grandioso e cheio de reviravoltas a que estamos
acostumados a ler. Justamente por isso a capacidade de prender o leitor é
brilhante e magistral. A história é recheada de insights e flashbacks em
que o autor mergulha não só na escuridão úmida e imunda das cabines do Urus,
mas nas profundezas da alma de cada personagem.
De fato, depois
de tanto tempo trabalhando em condições tão deploráveis, cada tripulante passa
as noites recordando seus pecados, suas depravações, seus temores e conflitos.
A vida no Urus passa a ser quase um retiro espiritual vivido por mendigos onde
também os humores se alternam entre o desespero e a ira contra o capitão Elias,
seu primeiro oficial Mark, e contra si mesmo.
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