Por: Franz Lima.
Eu tive um sonho que foi se dissipando com o tempo e os valores altíssimos atados a ele: ser médico.
Poucas profissões são tão gratificantes. Salvar vidas, curar, estar próximo de quem realmente precisa. Dons quase divinos concedidos a simples humanos.
Mas a realidade é dura. Muitos médicos vocacionais tombaram pelo caminho. Também abandonaram o sonhar em prol de problemas, falta de dinheiro e tempo... talvez até a falta de um ensino de base que fosse capaz de mantê-los no árduo caminho de se tornar um doutor.
Encarar a realidade não é fácil, mas necessário.
Ao menos outros continuaram e venceram todas as etapas para chegar lá. São esses homens e mulheres que ganharam meu respeito e admiração, além de uma confiança enorme. Raras foram as vezes nas quais debati com um médico. Afinal, eles passam quase uma década para obter o título que merecem. Doutores com "d" maiúsculo, bem ao contrário de outros cujos títulos são fruto de tradições, jamais pelo mérito.
Só há um porém: temos poucos médicos para uma população continental. Some-se a isso a extensão territorial brasileira, a remuneração incondizente e o longo período de formação. Todos esses pontos colaboram para uma defasagem cada vez maior na proporção médico/paciente. Mas problemas não param por aí...
Temos regiões do país com um alto índice de doutores, ao passo em que outras são deficitárias. Temos o êxodo nas regiões mais pobres, provocado pela péssima remuneração, condições subumanas de atendimento e equipamentos velhos ou quebrados. É, infelizmente, uma equação com resultados sempre negativos, principalmente quando o prejudicado faz parte das classes menos favorecidas.
Foi então que milhares de pessoas motivadas pela insatisfação foram às ruas para protestar contra essa realidade (desculpem o trocadilho) doentia, entre outros problemas.
Às custas de muita pressão, o Governo Federal optou por minimizar essa drástica situação com a ideia de contratar profissionais de outros países. Entendam, contudo, que essa medida só foi adotada por causa dos protestos populares, sem os quais tudo continuaria como antes. Ah! Vale lembrar que também se aproximam as eleições.
Povo insatisfeito e com a memória e o rancor atiçados são algo ruim para a conservação do status quo do poder.
Mesmo com as motivações erradas, a atitude do governo da Presidente Dilma foi acertada. É claro que há motivação política, eleitoreira, mas isso não torna a convocação de médicos estrangeiros um erro.
Chegamos filnalmente ao olho do furacão. Os primeiros médicos iniciaram um estágio que, teoricamente, irá lhes proporcionar mais base e confiança para atender em áreas praticamente esquecidas pela saúde pública. Palmas para eles? Não! Contrariando todas as expectativas, um grupo de médicos recepcionou seus colegas de profissão com palavras de ódio, racismo e descaso. Os mesmos que se recusam a atender populações carentes resolvem rechaçar quem veio para ajudar. Qual a lógica nesses atos tão mesquinhos e incoerentes?
Sou categórico ao afirmar que a convocação de doutores estrangeiros tem fins políticos, tem a missão de melhorar a popularidade de um governo desacreditado e fragilizado por inúmeros escândalos. O que também não pode ser descartada é a importância de programas como esse, pois vidas de milhões de brasileiros dependem de alguém que não os deixem isolados pela distância ou o mau uso da política e dos recursos públicos.
O Mais Médicos pode ter começado de forma equivocada, motivado por protestos e pelo temor do governo diante do povo revoltado, porém isso não minimiza a importância do projeto. Duvida? Basta questionar qualquer habitante das áreas que estão legadas ao esquecimento.
Respeito cada minuto empregado na absorção do complexo conhecimento necessário para que um cidadão comum vire um médico. Entretanto, nenhum diploma dá direito a alguém para menosprezar o valor de uma vida. Não é fácil ser um doutor em uma região erma e hostil, tenho certeza. Todavia, também tenho certeza que nenhum habitante aprecia sua condição e seu sofrimento. Não há apenas o juramento de Hipócrates em pauta: há uma tênue linha entre viver e morrer.
Médicos de outros países são muito bem-vindos. Eles serão mais soldados em um guerra que o país perde há muitos anos. O front é cruel e é preciso ser mais do que patriota, é necessário ter amor ao próximo.
Que a convocação continue, mas que também os líderes desse Governo façam jus a cada centavo que recebem e, com o máximo de brevidade, usem de suas influências e poder para direcionar verbas para as centenas de unidades hospitalares sucateadas. Que tais contratações não sejam mais uma forma de lavagem de dinheiro e desprezo pelas centenas de milhares de famílias que aguardam há gerações por algo que todos merecem: respeito.
A história não irá parar por aqui...
Assisti uma entrevista de uma brasileira que estuda medicina em Cuba, ela dizia que lá se aprende a medicina preventiva, no qual o médico ensina os pacientes a se cuidar evitando várias idas aos médicos e hospitais. Se for isso mesmo, que sejam mais que bem vindos e as mentalidades mudem.
ResponderExcluirToda ajuda, desde que de bom grado, será bem-vinda.
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