Pular para o conteúdo principal

Resenha de 'Antes de Watchmen: Comediante'.

            Existem alguns personagens que não podem ter muito espaço dentro de uma trama, pelo simples fato de roubarem a cena toda vez que aparecem. Personagens carismáticos de verdade são assim. Muitos deles não são heroicos ou nobres, mas são tão bem construídos e funcionam tão bem dentro da história que conseguem roubar nossa atenção sempre que aparecem. Essa introdução toda serviu apenas pra dizer que dessa vez eu vou falar sobre Antes de Watchmen: Comediante, a edição que eu mais esperei de Antes de Watchmen.
            Antes de Watchmen: Comediante foi originalmente publicada em 6 edições que foram lançadas por aqui em um encadernado com capa cartonada e papel especial com preço de 14,90 e com duas opções de capa, como todos os outros encadernados dessa serie. Escrita por Brian Azarello, que também escreveu a minissérie de Rorschach, e ilustrada por J.G. Jones.
            O Comediante é de longe um dos personagens mais queridos do universo de Watchmen. Além de ser um ser humano detestável, violento e sádico , tinha uma visão bem interessante sobre o mundo. Inclusive gosto de pensar que Watchmen tem quatro personagens que conseguem ver o mundo como ele realmente é, mas sob aspectos distintos. São eles Rorschach, Dr. Manhattan, Ozymandias e o Comediante. Mas o último da lista, e o foco deste texto que você está lento, aparece morto logo na primeira página de Watchmen, inclusive a morte do Comediante é um dos grandes catalisadores pra que a história comece. A partir daí ele só aparece em flashbacks ao longo da trama. Infelizmente na obra original não dá pra ver muito o Comediante em ação, e essa é a melhor coisa de Antes de Watchmen: Comediante.
            O roteiro é focado basicamente em duas coisas: a atuação do Comediante nos bastidores do poder dos Estados Unidos e na Guerra do Vietnã. Confesso que as primeiras partes da história não me agradaram muito. A história de Edward Blake com a família Kennedy não chamou muito minha atenção. Inclusive cabe ressaltar que se você espera ver como o Comediante matou JFK é melhor tirar o cavalo da chuva, o que me decepcionou bastante, já que isso daria uma boa historia na minha humilde opinião.
            As partes que mostram o Comediante no Vietnã me agradaram mais. Ver o Comediante em ação, mostrando todo o seu sadismo e desprezo pelos outros seres humanos encaixa bem com o conceito apresentado na obra original de Alan Moore. Porém tudo é mostrado de forma um pouco episódica, com eventos isolados que não tem muita ligação. As consequências desses eventos de fato repercutem nas partes finais, mas não interagem entre si. As consequências só são sentidas quando o Comediante volta para os Estados Unidos depois da Guerra do Vietnã. Inclusive a participação do Comediante nas revoltas populares contra os heróis mascarados e a greve da polícia, mostrados em Watchmen através de flashback, é uma das partes mais interessantes. Uma apresentação bem interessante de como é a mente distorcida do Comediante.
            Quanto à arte não tenho muito que comentar. O traço de Jones não é extremamente detalhado, mas ele faz um ótimo trabalho com as expressões dos personagens, principalmente com o Comediante, e a narrativa visual é boa. No geral combinou bem com o peso que a história tem.

            Encerro este texto dizendo que, apesar de vários pontos positivos 'Antes de Watchmen: Comediante' consegue ser bom o suficiente apenas para manter o interesse do leitor até o fim, mas não passa muito disso. Azarello conseguiu fazer um Comediante que respeita bastante a concepção original de Alan Moore, mas não teve um resultado tão bom quanto o que ele conseguiu em 'Antes de Watchmen: Rorschach'. Mesmo assim ainda é muito melhor do que a do Dr. Manhattan, a pior de todas até agora. Já passamos da metade das publicações de Antes de Watchmen, mas ainda tem muita coisa vindo por aí.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bethany Townsend, ex-modelo, expõe bolsa de colostomia de forma corajosa.

Bethany Townsend é uma ex-modelo inglesa que deseja, através de sua atitude, incentivar outras pessoas que sofrem do mesmo problema a não ter receio de se expor. Portadora de um problema que a atinge desde os três anos, Bethany faz uso das bolsas de colostomia  que são uma espécie de receptáculo externo conectado ao aparelho digestivo para recolher os dejetos corporais, e desejou mostrar publicamente sua condição.  Quero que outras pessoas não tenham vergonha de sua condição e é para isso que me expus , afirmou a ex-modelo. Bethany usa as bolsas desde 2010 e não há previsão para a remoção das mesmas.  Eu, pessoalmente, concordo com a atitude e respeito-a pela coragem e o exemplo que está dando. Não há outra opção para ela e isso irá forçá-la a viver escondida? Jamais... Veja o vídeo com o depoimento dela. Via BBC

Suzane Richthofen e a justiça cega

Por: Franz Lima .  Suzane von Richthofen é uma bactéria resistente e fatal. Suas ações foram assunto por meses, geraram documentários e programas de TV. A bela face mostrou ao mundo que o mal tem disfarces capazes de enganar e seduzir. Aos que possuem memória curta, basta dizer que ela arquitetou a morte dos pais, simulou pesar no velório, sempre com a intenção de herdar a fortuna dos pais, vítimas mortas durante o sono. Mas investigações provaram que ela, o namorado e o irmão deste foram os executores do casal indefeso. Condenados, eles foram postos na prisão. Fim? Não. No Brasil, não. Suzane recebeu a pena de reclusão em regime fechado. Mas, invariavelmente, a justiça tende a beneficiar o "bom comportamento" e outros itens atenuantes, levando a ré ao "merecido" regime semi-aberto. A verdade é que ela ficaria solta, livre para agir e viver. Uma pessoa que privou os próprios pais do direito à vida, uma assassina fria e cruel, estará convivendo conosco, c

Pioneiros e heróis do espaço: mortos em um balão

* Há exatamente 100 anos subir 7400 metros, num balão, era um feito memorável. Consagrados por isto, três franceses - Sivel, Crocé-Spinelli e Tassandier - resolveram tentar uma aventura ainda mais perigosa: ultrapassar os 8 mil metros de altitude. Uma temeridade, numa época em que não existiam os balões ou as máscaras de oxigênio e este elemento precioso era levado para o alto em bexigas de boi com bicos improvisados. Uma temeridade tão grande que dois dos pioneiros morreram. Com eles, desapareceu boa parte das técnicas de ascensão da época que só os dois conheciam. Texto de Jean Dalba Sivel No dia 20 de abril de 1875, mais ou menos 20 mil pessoas acompanhavam à sua última morada, no cemitério de Père-Lachaise, os despojos de Teodoro Sivel e de Eustáquio Crocé-Spinelli - os nomes, na época da produção do artigo, eram escritos em português para facilitar a leitura e "valorizar" nossa própria cultura. A grafia correta dos nomes é Théodore Sivel e Joseph Eustache Cr