Os filmes antigos onde o Kung Fu ou o Karatê eram o tema principal sempre me fascinaram por sua estrutura singular, diálogos rápidos e as atuações exageradas. Como se seguindo o 'Caminho do Herói' descrito por Joseph Campbell, muitos roteiros tinham uma trama onde um homem descobria seus medos, enfrentava-os e, finalmente, vencia-os. Outro ponto do qual me recordo era o árduo trabalho das coreografias que, na época e em sua maioria, não dispunham dos recursos tecnológicos como hoje, incluindo os efeitos especiais. Muitos artistas marciais feriam-se durante os 'combates', o que não só mostrava a dedicação deles, como também dava uma sensação de veracidade ao espectador.
Mas o passado nunca fica esquecido.
Keanu Reeves é um ator muito conhecido do público ocidental. Ele atuou em filmes como Caçadores de Emoção e a trilogia Matrix, apenas para citar. Sua proximidade com a ação, logicamente, foi passada para este filme onde a adrenalina flui bem durante as cenas de luta.
Em seu primeira produção como diretor, Keanu é um agenciador de lutas ilegais. Sua índole violenta e cruel é demonstrada logo no início da produção, fato que, para observadores mais acostumados com este tipo de filme, entrega como será o final.
Para investigar e apurar as lutas e os crimes relacionados a ela, a policial Suen Jing-Si (Karen Mok) coloca a própria vida em risco para elucidar os crimes e acabar com o esquema de combates ilegais.
As lutas são parte integrante de um reality show muito próximo do que vemos no UFC, porém sem quaisquer regras. Os lutadores são escolhidos por uma equipe que faz uma sondagem da vida dos participantes, descobrindo pontos fortes e fracos como lutadores, além de suas fragilidades da vida pessoal.
Quando seu campeão tomba, Mark Donaka (Keanu Reeves) passa a buscar por um novo competidor capaz de cativar o público. Em uma luta oficial, Mark vê Tiger Chen, um lutador de Tai Chi que busca pela maior valorização de sua arte marcial. Com base nisso, Mark recruta Chen para participar de uma entrevista para um emprego como segurança, mas é apenas uma desculpa para testá-lo como combatente. Tiger mostra suas habilidades e impressiona Donaka.
De volta a sua rotina, Chen continua seu trabalho como currier até que recebe a notícia de que seu templo será desapropriado por má conservação. Para salvar o templo, não resta a Chen outra alternativa que não seja lutar por dinheiro.
O decorrer do filme mostra a absorção de Tiger pela violência e a vontade em provar que é o melhor. Suas atitudes vão degradando até um ponto no qual ele mesmo prejudica a preservação do templo, o respeito que seu mestre tem por ele. A imagem do Tai Chi foi maculada...
Como disse no início deste texto, a trama é previsível. A luta final (claro) tem ares de faroeste com uma boa dose de UFC, porém mantendo uma coreografia ótima que, para mim, peca apenas pelo uso dos cabos durante os combates.
Observei que a direção de Keanu privilegiou a ação em detrimento do aprofundamento dos personagens, fato que não me surpreendeu por ser um filme obviamente voltado para entreter. Mesmo com algumas atuações no padrão 'overactor' (inclusive por parte de Reeves), The Man of Tai Chi agrada aos fãs do gênero e traz de volta a essência de games como Street Fighter e Mortal Kombat, onde vários estilos de luta eram postos à prova.
Destaque para a cena onde Mark incita Chen a liberar seu lado negro, tal como Darth Vader fez com Luke (inclusive com a entonação da voz). O destaque negativo é a ausência de sangue e hematomas durante e após as lutas.
Há trechos onde é fácil identificar filmes como Ong Bak, Matrix e Star Wars, o que evidencia o tom pop da obra.
Levando-se em conta que o longa é inspirado nos grandes clássicos dos filmes de luta e que o roteiro segue um padrão já vigente, cabe ao espectador não criar grandes expectativas, desfrutando de um filme médio que tem méritos, mas não surpreenderá.
Entretenimento e diversão, sem dúvida.
Dados Técnicos:
Direção - Keanu Reeves
Coreografia de lutas - Yuen Wo Ping
Roteiro - Michael G. Cooney
Elenco - Tiger
Chen (Tiger), Karen Mok (Suen Jing-Si), Keanu Reeves (Mark Donaka), Simon
Yam (Superintendente Wong), Yu Hai (Master Yang) e Ye Qing (Ching Sha).
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