Fonte: O Globo.
RIO - Foram personagens que retrataram décadas da América Latina.
Pareciam tirados de lendas, mas ao mesmo tempo eram narrados com
incríveis traços da realidade de uma região que, século XX adentro,
sofreu com governos autoritários, pobreza e corrupção.
Nasceram do encontro da magia e da aridez de um povo — colombiano a
princípio, mas com sotaques, costumes e histórias que atravessavam
fronteiras. Um deles foi um coronel, pai de 18 filhos batizados com seu
nome e tio-avô da mulher mais bela do mundo, que ascendeu aos céus.
Outro foi um general ditador, opressor como costumam ser os ditadores e
lunático a ponto de proclamar a canonização de sua própria mãe.
Houve
ainda a cândida jovem que foi obrigada a se prostituir pela avó
desalmada; o homem e a mulher que se apaixonaram por cartas e esperaram
cinco décadas para enfim se tornarem um casal; a garota mordida por um
cachorro, levada pelo pai para um convento e que acaba apaixonada pelo
seu exorcista; o septuagenário veterano de guerra, que aguarda que o
governo envie pelo correio sua pensão; e o rapaz jurado de morte por
vingança.
Nenhum desses existiu, mas todos se tornaram reais,
foram um espelho das sociedades latino-americanas pela literatura de
Gabriel García Márquez. O escritor colombiano deixou personagens e
leitores órfãos há um mês: em 17 de abril, aos 87 anos, ele morreu na
Cidade do México, onde vivia, em decorrência de uma pneumonia. Em todo o
mundo, em jornais tradicionais como aqueles em que ele trabalhou numa
celebrada carreira na imprensa ou nas redes sociais em que jovens e
velhos fãs não param de citar suas obras, lamentou-se que Gabo estava
morto.
Gabo era o apelido pelo qual se tornou conhecido entre os
amigos e também pelo qual passou a ser chamado por seus leitores, certos
de uma intimidade. Conhece-se um escritor por seus livros, e é também
por meio deles que Gabo se mantém presente num mundo que, por mais
distante que esteja do tempo em que García Márquez se inspirou, ainda
sofre com governos autoritários, pobreza e corrupção.
Como um
lamento por um mês de sua morte e uma celebração pela eternidade de sua
obra, O GLOBO propôs um desafio a sete autores: escolher histórias de
Gabo e recriá-las para o Brasil. O convite foi aceito pelo mexicano Juan Pablo Villalobos (que escolheu “Crônica de uma morte anunciada”), pelo argentino Rodrigo Fresán (“Cem anos de solidão”), pelo boliviano Edmundo Paz Soldán (“O outono do patriarca”), pelo colombiano Rafael Gutiérrez (“Ninguém escreve ao coronel”), pela cearense Socorro Acioli (“Do amor e outros demônios”) e pelos gaúchos Paulo Scott (“A incrível e triste história da cândida Erêndira e sua avó desalmada”) e Fabrício Carpinejar — este último, escrevendo notas fictícias a partir dos personagens de García Márquez para a coluna Gente Boa.
O resultado está neste especial ilustrado pelo artista carioca Cavalcante.
Franz diz: esta é uma interessante homenagem ao trabalho de García Márquez. Acessem os links e leiam os trabalhos disponibilizados. Boa leitura!
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