Jeff Bezos, da Amazon. |
Fonte: Veja. Comentários: Franz Lima
Nos últimos meses, donos do e-reader Kindle encontraram dificuldades
para comprar livros do grupo editorial Hachette, responsável pela edição
de importantes autores internacionais como J.K. Rowling, que lançou em
junho The Silkworm,
nova trama assinada por seu pseudônimo Robert Galbraith. A escritora,
entre outros nomes do grupo, foi prejudicada pela briga entre a editora e
a Amazon, empresa de Jeff Bezos. Elas se desentenderam sobre os termos
do contrato imposto pela gigante varejista, detentora de 60% do mercado
de e-books e de um terço da distribuição de livros impressos nos Estados
Unidos. A briga ganhou novo episódio nesta semana, com a publicação no
domingo, pelo jornal The New York Times, de uma carta aberta
assinada por 909 escritores contrários à atitude da Amazon de prejudicar
as vendas da Hachette e de outros que discordam da sua agressiva
política de preços.
Entre os nomes que assinaram o manifesto, estão autores populares
como Suzanne Collins, Jennifer Egan, Markus Zusak, Nora Roberts, John
Grisham e Stephen King. De acordo com a carta, a Amazon tem boicotado os
autores da Hachette, dizendo em seu site que as obras estão
indisponíveis, sugerindo outros autores e atrasando a entrega dos
livros. “Como escritores — a maioria de nós não representados pela
Hachette — acreditamos que nenhum varejista deve impedir que um livro
seja vendido e nenhum leitor desencorajado a comprar uma obra. Não é
honesto a Amazon eleger autores, que não estão envolvidos na disputa, e
usá-los como forma de retaliação”, diz trecho do texto.
A briga começou quando o grupo editorial Hachette se opôs à política
de menor preço da Amazon. De acordo com o grupo, o site quer vender
e-book a apenas 9,99 dólares (cerca de 23 reais). Segundo a editora, o
valor é muito baixo e o site ainda quer aumentar sua margem de lucro, de
30% para 50%.
Para se defender — e complicar a situação —, a Amazon citou George
Orwell em uma carta assinada pela equipe de literatura do site, dizendo
que o autor de 1984 era contra a publicação de livros de bolso,
que se popularizaram nos anos 1930 e aumentaram o acesso para novos
leitores. O texto faz uma comparação do que acontece hoje no mercado
editorial. “A história se repete. Nós queremos livros baratos. A editora
Hachette, não”, diz a Amazon.
Contudo, em matéria publicada no jornal The Guardian, Bill
Hamilton, editor responsável pelas obras de Orwell, diz que a Amazon
usou em vão o nome do escritor, e que sua fala foi usada de forma
errônea. “Eles citam Orwell fora de contexto, como se ele quisesse
proibir os livros de bolso, para validar uma campanha contra editoras e
os preços dos e-books.”
Na frase completa, Orwell não quer proibir o novo formato de livros, e sim exaltá-los. “Os livros da editora Penguin (que lançou os formatos de bolso)
são esplêndidos. Tão esplendidos que se outras editoras fossem espertas
se uniriam contra o formato para proibi-lo”, disse o escritor de forma
irônica na época.
Franz diz: a publicação "autônoma" propiciada pela Amazon é uma porta para expandir os horizontes dos novos escritores. Muitos começam por lá e lutam por seu espaço dentro de um competitivo e, por vezes, cruel mercado editorial. Mas o fato é que a Amazon não pode forçar a quebra de editoras tradicionais ou forçar uma redução de preços às custas de perdas para os escritores. O mercado pode ser competitivo sem que a força gerada pelo capital de uma grande publicadora sele o destino de outras editoras.
O apoio de escritores consagrados - citados no início do texto - dá credibilidade e peso para a Hachette, porém afirmo que os preços dos livros, incluindo os e-books, está muito alto. Obras impressas são vendidas em nosso país por preços elevados quando comparados à renda média da população. Já os e-books, vendidos em muitas lojas virtuais, tem o preço quase igual ao do livro impresso, o que desestimula as vendas. Há de se chegar a um consenso para que editoras e escritores, assim como os leitores, tenham lucros. Afinal, autores e publicadores devem ter retorno com seus trabalhos, mas a margem de lucro não pode impedir que um leitor acesse esse material. O equilíbrio é o caminho mais sensato, ainda que esbarremos na política de tarifação dos produtos no país.
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