Jessica Soares, no Cultura
Franz diz: uma ótima notícia para os fãs de Neil Gaiman. Essa adaptação promete trazer uma nova abordagem da clássica fábula, porém sem os apelos morais de outrora. Creio que a narrativa de Gaiman será tão densa e soturna quanto a que vimos em Sandman e nas obras literárias do autor. As ilustrações que vi dão uma maior dosagem ao clima de terror que a trama pede, fato que reforça minha curiosidade sobre o livro.
A história dos irmãos João e Maria – que se perdem na floresta e
quase vão parar no forno de uma bruxa diabética má que vive em uma casa
coberta de doces – sempre teve contornos assustadores. E, no que
depender de Neil Gaiman, o conto do século 19 vai continuar encantando e
amedrontando criancinhas por muito tempo. Mais de uma década depois de
lançar a premiada história de Coraline, o escritor resolveu mergulhar e recontar a história registrada pelos Irmãos Grimm.
Lançado em outubro nos Estados Unidos (e ainda sem tradução para o
português), a obra foi ilustrada pelo artista gráfico e cartunista
italiano Lorenzo Mattotti. Juntos, os artistas resgataram os sentimentos
de horror e fascinação que sentiram na infância ao conhecerem o conto
para dar novo corpo à tradicional história de bravura e inteligência.
Apesar da dificuldade de se publicar livros voltados para o público
infanto-juvenil que flertam com o terror, Gaiman defende a importância
de se apresentar às crianças temáticas assustadoras. “Eu acho que se
você é sempre protegido das coisas sombrias você não tem como se
proteger, conhecer ou compreender as coisas obscuras quando elas
aparecem. Eu acho que é realmente importante mostrar o sombrio para as
crianças e, nesse processo, mostrar também que essas coisas podem ser
derrotadas, que você tem o poder. Diga-lhes que você pode lutar.
Diga-lhes que você pode ganhar. Porque você pode, mas você tem que saber
isso”, afirma o autor.
Sem fazer diferenciações entre a escrita voltada para o público adulto ou infantil (uma classificação que J.R.R. Tolkien também considerava arbitrária),
Gaiman acredita (e faz valer em suas obras) na potência das narrativas
assustadoras. “Nós contamos histórias sobre o desconhecido, sobre a vida
além-túmulo, há um longo tempo; histórias que fazem arrepiar a pele,
que tornam as sombras mais profundas e, mais importante, lembram-nos que
vivemos, e que há algo de especial, algo único e extraordinário sobre
estar vivo. O medo é uma coisa maravilhosa, em pequenas doses”, disse
Gaiman em palestra do TED organizada em Vancouver. Vindo do autor que nos presenteou com obras como Sandman, é difícil discordar.
Em breve, em um cinema perto de você
Como a indústria cinematográfica não perde tempo, em setembro, um mês
antes do lançamento da graphic novel, uma adaptação da releitura de
Gaiman para o clássico dos irmãos Grimm já estava garantida. Juliet
Blake adquiriu os direitos autorais da história e pretende levar uma
versão em live action dos sombrios traços de Lorenzo Mattotti para as telonas.
Apesar de ser muito cedo para saber detalhes da produção, o selo Neil
Gaiman de garantia ® assegura que o novo longa-metragem deve se parecer
bem pouco com a última encarnação cinematográfica
dos famosos irmãos da literatura. “Para mim, recontar ‘João e Maria’
foi uma maneira de recriar um conto antigo de uma forma que a tornasse
imediata e verdadeira, e sobre nós, agora”, disse Gaiman. “Ele [o conto]
nos lembra o quão frágil a civilização realmente é. Trata de fome e de
famílias”, afirmou o autor em entrevista à Variety.
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