"Residência" vista de cima - Cortiço. |
Fonte: BBC. Comentários: Franz Lima.
Para muita gente, morar em cobertura é um sinal de afluência social. Mas em Hong Kong, estar no topo de um prédio nem sempre é sinônimo de luxo. A cidade chinesa tem milhares de pessoas morando em verdadeiras favelas no alto de edifícios, muitas vezes em aposentos ilegais construídos de forma precária. E não raramente essas "coberturas-favela" estão superlotadas, apesar do espaço ser mínimo. Chan Piu, por exemplo, vive num quarto que, de tão pequeno, não tem espaço sequer para uma cama. O homem, de 58 anos, dorme sobre uma pilha de jornais. O aposento não tem janelas e a única decoração é uma foto do falecido pai de Chan. Sete outras famílias vivem na cobertura, todas dividindo banheiro, cozinha e a minúscula sala de estar.
Fila de espera
As coberturas são normalmente construídas com placas de metal e madeira. Durante o verão, ficam extremamente quentes. No inverno, são gélidas. A ironia é que Chan e seus vizinhos têm uma vista privilegiada de Hong Kong. Na realidade, porém, eles vivem em condições esquálidas em função de uma crise habitacional. Embora seja uma das cidades mais ricas do mundo, Hong Kong tem um custo de vida à altura e isso se reflete no preço dos imóveis, um dos mais caros do mundo. Especialmente porque a oferta é muito menor que a procura. Desde 2009, por exemplo, o preço médio dos imóveis dobrou. Há superlotação também na fila de espera por moradias subvencionadas pelo poder local. Chan, por exemplo, espera há dois anos. "Hong Kong é uma cidade afluente, mas não tem uma boa política habitacional. E por isso as pessoas vivem em condições ruins", explica Natalie Yau, assistente social de uma ONG que trabalha com moradores das "favelas de cobertura". "O governo agora quer dar moradia para as famílias de classe baixa, mas há escassez de imóveis e isso cria uma fila imensa", completa Yau. A média de espera é de pelo menos quatro anos. A pobreza é um problema grave em Hong Kong. Não é incomum ver idosos catando restos de comida no lixo. O dólar local é atrelado ao dólar americano, e, com os juros sendo mantidos pelo Federal Reserve em patamares bem baixos, tem sido fácil conseguir crédito, o que ajudou ainda mais a esquentar a especulação imobiliária. Em distritos mais ricos não é raro ver casas vendidas por até US$ 150 milhões. Chan, porém, nem é capaz de imaginar este tipo de de dinheiro. Ele sobrevive de biscates para pagar o aluguel em sua cobertura. Se falhar, precisará se mudar para um lugar ainda menor.
Franz diz: esta matéria foi incluída aqui com um propósito, valorizarmos ainda mais nossas condições territoriais e habitacionais. Mesmo com a grande quantidade de favelas (comunidade é uma forma amena de chamar, o que não muda em nada a realidade) e as áreas urbanas mais precárias, dificilmente encontraremos uma região tão complexa quanto a apresentada na reportagem.
Essas moradias são uma versão moderna e desumana dos cortiços brasileiros. Mesmo sendo próximas ao centro financeiro do país, localizadas em áreas de grande desenvolvimento, o preço é inacessível ao cidadão comum. A superpopulação também é outro entrave que diminui a qualidade de vida. Acrescentemos a isso o fato de que a cidade virou uma megalópole, repleta de prédios, o que acrescenta em mais perdas, sejam elas de mobilidade ou de habitação, isso sem considerar a sensação claustrofóbica que as selvas de concreto propiciam.
Claro que esta situação pode ser revertida, talvez com mais rapidez que no Brasil, porém o que conta é o alerta sobre outras regiões do mundo onde a pobreza também existe.
Não estamos sós, infelizmente, no quesito miséria. Mas temos, certamente, muitos recursos para sair deste "seleto" grupo.
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