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Entrevista com a lenda dos quadrinhos Roy Thomas.

Entrevista publicada originalmente na revista Wizmania em outubro de 2006.

Por:  Roberto Guedes.

* Esta matéria foi publicada aqui para suprir algumas lacunas que o tempo gera. A Wizmania não disponibilizou esta matéria online e, historicamente, a entrevista é muito importante. Com isso, decidi tê-la aqui e a digitei na íntegra, não para me apropriar da matéria (cujos créditos estão explícitos), mas para fornecer mais um material para os fãs de Roy Thomas e, obviamente, fãs dos quadrinhos.

Roy William Thomas nasceu em Jackson, Missouri, no dia 22 de novembro de 194. “Foi em casa, não no hospital... no mesmo quarteirão (mas não na mesma residência) onde passaria meus primeiros 21 anos de vida”, relata o autor que se tornaria uma das figuras mais importantes dos quadrinhos norte-americanos.
Ele começou a ler os comic books ainda nos anos 40 e logo se apaixonou pela Sociedade da Justiça e pelas aventuras de Namor e Tocha Humana. Tempos depois, confessaria que seus personagens favoritos sempre foram o Coisa (do Quarteto Fantástico) e o Gavião Arqueiro.
Em 1961, Thomas se formou em Pedagogia pela Universidade Estadual do Missouri e, em 2005, tornou-se Mestre em Ciências Humanas pela Universidade Estadual da Califórnia.
Fora dos quadrinhos, as maiores influências desse prolífero escritor são Joseph Heller, Homer, Robert E. Howard e William Shakespeare. Já no meio que o consagrou, Stan Lee, Joe Simon, Jack Kirby, Walt Kelly, Harvey Kurtzman, Otto Binder, Gardner Fox e Julius Schwartz.
No princípio da década de 60, enquanto dava aulas de língua inglesa, foi convidado para co-editar o fanzine Alter Ego – o primeiro dedicado exclusivamente ao universo dos super heróis. Coube a Thomas a honra de ser o primeiro integrante do fandom a ingressar no meio profissional (em 1965), abrindo espaço para toda uma nova geração de talentosos autores.
Ele se tornou o braço direito do lendário Stan Lee e, mais tarde, o editor-chefe da Marvel. Transformou Conan, o Bárbaro, num herói mundialmente conhecido e criou inúmeros personagens e histórias tanto para a “Casa das Ideias”, quanto para a DC. Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, X-Men, Thor, Batman, Capitão Marvel, Superman... Thomas trabalhou nos principais títulos das duas editoras.
Com o prestígio conquistado ao longo da carreira, trabalhou também para a televisão, roteirizando episódios do live action Xena, e de desenhos animados como Quarteto Fantástico (aquele em que o robô H.E.R.B.I.E. estava no lugar do Tocha Humana), Homem-Borracha, Comandos em Ação e Conan – o Aventureiro. E, em parceria com Gerry Conway, escreveu o roteiro original do longa-metragem da Universal Conan, o Destruidor, de 1984, posteriormente reescrito por Stanley Mann.
Além disso, é um dos profissionais mais premiados da indústria, dentro e fora de seu país. Não à toa, foi eleito pelos leitores da Comic Buyer´s Guide o quarto Melhor Editor e o quinto Melhor Roteirista de quadrinhos do século 20.

Thomas continua na ativa, produzindo (na época) a revista Alter Ego – que é dedicada às Eras de Ouro e Prata -, escrevendo a série Anthem e contribuindo com a DC e a Marvel, sempre que possível. Acompanhe agora a entrevista feita por e-mail em que essa verdadeira lenda viva dos quadrinhos fala à Wizmania de momentos marcantes de sua carreira.

Wizmania: Qual foi a primeira história em quadrinhos que você leu?
Thomas: Não lembro mais... provavelmente uma do Superman ou do Batman. Acho que foi uma All-Star Comics (a revista onde estreou a Sociedade da Justiça da América), na primavera de 1945, quando eu tinha quatro anos e meio.
Como surgiu a ideia para o fanzine Alter Ego?
Jerry Bails (que criou o Alter Ego, em 1961) queria fazer um boletim, mas durante uma viagem que fez a Nova York, em fevereiro de 1961, acabou transformando-o num fanzine depois que Julius Schwartz lhe mostrou alguns zines de ficção científica.
Seu primeiro trabalho profissional foram duas histórias para a Charlton Comics, em 1965. Você chegou a visitar a editora naquela época?
Não. Na ocasião, eu morava em St. Louis. Nunca estive em Derby, Connecticut (onde ficava a sede da editora). Apesar disso, no começo daquele ano, cheguei a almoçar algumas vezes com o então novo editor da Charlton, Dick Giordano, em Manhattan.
Depois disso, você trabalhou por oito dias na redação da DC – e até fez o script de uma HQ do Jimmy Olsen – antes de ir para a Marvel. Qual a razão dessa mudança súbita?
Mort Weisinger (o criador de Ted Multiple- Johnny Quick, no original -, Arqueiro Verde e Aquaman, que ficou mais conhecido ao editar os títulos da família Superman, por ser linha dura com seus comandados e pelas inimizades que angariou) era um homem muito difícil de se lidar. Por isso, quando Stan Lee me fez uma oferta, não pude recusar.
Você fez os diálogos de duas histórias do Dr. Estranho de Steve Ditko. Qual foi a reação dele? Chegou a lhe dizer alguma coisa?
Nada. Nem uma palavra. Mas na página de splash da segunda história havia um tipo de braseiro flutuante, de onde saía um pouco de fumaça... e só porque coloquei um balão que interrompia a trilha da fumaça, Ditko não arte-finalizou o braseiro e nem a fumaça. Foi o “comentário” dele.
O Visão é um dos personagens mais importantes que você criou durante a Era de Prata. O Visão original de Joe Simon e Jack Kirby serviu de inspiração na concepção dele?
Sem dúvida. Eu queria trazer o personagem de volta, enquanto Stan Lee insistia que o novo Vingador deveria ser um androide. Foi então que decidi combinar as duas ideias...
Por que não escreveu mais histórias do Homem-Aranha em Amazing Spider-Man? Você fez algumas inesquecíveis, como a primeira aparição do Morbius e uma na Terra Selvagem, com referências ao filme King Kong...
Escrevo as tiras do Homem-Aranha em parceria com Stan Lee já faz uns seis anos. Eu gosto do personagem, mas nunca tive vontade de roteirizar sua revista... apesar de ter adorado trabalhar com Gil Kane naqueles quatro números e, com Ross Andru, em Marvel Team-Up 1.
Em 1970, você convenceu Martin Goodman (o fundador da editora, quando ainda se chamava Timely; em 1968 a vendeu para a Perfect Films – depois, Cadence Industries -, mas continuou na presidência até 1972) a publicar a revista do Conan, quando não era comum na Marvel adaptar e licenciar personagens. De algum modo Stan Lee o ajudou nessa situação?
Sim, partiu dele a decisão para que eu escrevesse um memorando ao Goodman explicando por que deveríamos licenciar um personagem estilo espada e feitiçaria. O negócio aconteceu por causa desse bilhete, e Stan merece tanto crédito por isso quanto eu.
Uma de sua primeiras medidas como editor-chefe, foi colocar a frase “Stan Lee apresenta” no topo das páginas de abertura das revistas da Marvel. O que o levou a tomar essa decisão?
Achei que, sendo o Stan o criador do estilo – se não,  de todos os personagens da editora -, seu nome deveria aparecer naquele espaço. Mas não tenho a mínima ideia do que ele teria feito, caso eu não viesse primeiro com aquela frase...
É verdade mesmo que foi o próprio George Lucas quem pediu para você escrever o primeiro gibi de Star Wars?
Sim, é verdade. Foi por intermédio de Charlie Lippincott, seu braço direito, logo depois que a Marvel declinou da ideia de fazer a revista.
E a revista foi um grande sucesso... No Brasil, os leitores gostaram muito das histórias em quadrinhos de Tarzan que você e John Buscema fizeram juntos. Por que a série durou tão pouco?
O título não vendia bem. Só um pouco mais que o ótimo Tarzan que Joe Kubert fez pra DC! Acabei dispensado durante uma conversa telefônica com a cabeça da ERB (Edgar Rice Burroughs, Inc., empresa que leva o nome do criador do Homem-Macaco), Marion Burroughs.
Não sou louco por tudo que já fiz, mas nessa versão da Marvel tentei ser o mais fiel possível ao texto e aos diálogos de Burroughs, assim com fiz em relação ao material de Robert E. Howard, o criador de Conan.
Mas a prosa de Burroughs não era tão empolgante assim, tornando-se um tremendo desperdício. De qualquer modo, acho que nossas adaptações foram boas.
Você conhecia bem o personagem...
Acompanhei sua trajetória nos quadrinhos – e além deles – a partir de 1948; e apreciei bastante a curta fase do Russ Manning. Eu até podia, mas jamais tive o desejo de criar histórias novas do Tarzan.
Depois de Crise nas Infinitas Terras, você não teve permissão para utilizar alguns personagens da Era de Ouro em All-Star Squadron. Isso foi determinante para o cancelamento do título?
Eu não cancelei o gibi. Foi a DC.
Quais são seus projetos para o futuro?
Continuar com a série Anthem*, e voltar a fazer mais Captain Thunder and Blue Bolt**, além do super-herói Alter Ego*** (três personagens criados por Roy Thomas nos anos 80, jamais publicados no Brasil).

Fui sondado pela Marvel para trazer um ou dois títulos novos, mas, por enquanto, não posso dizer mais nada a respeito. Há também uma quantidade de livros em potencial para a TwoMorrows, incluindo um terceiro volume do All-Star Companion, para 2007***.



*  A série continuou e está disponível na Amazon.
**  Não achei notícias de continuidade do projeto.
***  Alter Ego teve longa vida e há edições "the best of" disponíveis na web.
****  Os volumes 3 e 4 foram concluídos.






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