Pular para o conteúdo principal

O Demonologista, de Andrew Pyper. Resenha de um livro surpreendente.

Por: Franz Lima. Curta nossa fanpage: Apogeu do Abismo.

Como assustar sem a já conhecida receita de sangue e violência? Simples. Basta usar a inteligência e uni-la a um roteiro impecável onde o suspense e o sobrenatural estão lado a lado ininterruptamente.
Assim surgiu O Demonologista, primeira obra de Andrew Pyper publicada no Brasil. Mas elogios só são válidos com argumentos que sirvam de base a eles. Assim, eis os pontos que irão comprová-los e, sobretudo, incentivar a leitura dessa obra publicada pela Darkside Books.
Antes, contudo, um bom booktrailer para começar a brincadeira...

O autor.

Andrew Pyper é um fenômeno no campo da literatura do medo.  Canadense, Andrew mostra um estilo de escrita clássico, capaz de direcionar o leitor e mantê-lo focado. Ele já ganhou diversos prêmios literários, concorrendo inclusive com Stephen King. Sua obra, O Demonologista, é um clássico livro de terror que ganhou adeptos por causa da fácil e fluente leitura, além de manter um clima soturno e assustador sem precisar das cenas apelativas de sangue e vísceras que alguns escritores usam com frequência.

Narrativa.


O ritmo de narração da trama é perfeito. Ele mantém o leitor fixo às páginas, mas com prazer. Já li incontáveis livros de terror cuja narrativa oscila e deixa o leitor incomodado, como em uma montanha-russa onde a emoção tem picos e momentos de marasmo. O Demonologista cativa por ter uma história muito boa cujo ponto forte está na continuidade da trama e não somente nas cenas de medo.

Personagens.


São poucos os personagens principais no livro. David Ullman é um professor de literatura com especialização no livro Paraíso Perdido, de John Milton. Essa especialização é o ponto de partida para aproximar David de uma criatura má, um ser essencialmente maligno.
Tess é a filha de David. Uma menina atenta, linda e cativante. Tess é a força-motriz que mantém o professor vivo (através do amor que um pai sente por sua filha) e também é a responsável por uma busca que mudará David em todos os sentidos.
Elaine O´Brien é a amiga mais íntima de David. Uma mulher charmosa e inteligente que oscila entre a amante (ainda que não tenham dormido juntos) e a melhor amiga. A relação entre eles é tão forte a ponto de marcar suas vidas de um modo inesquecível.
Há outros personagens como a esposa de David e o instrutor dela. Eles são bem construídos e, mesmo com poucas passagens, mostram que foram elaborados com propósito. Aliás, Pyper não deixa pontas (ao menos que eu tenha percebido) na trama, algo que mostra o empenho dele ao escrever e seu respeito pelo leitor.
Outros personagens aparecem e reforçam o clima de medo do livro, mas prefiro que os descubram sozinhos. Irão gostar (e temer), garanto.

Narrativas embutidas no livro.


Um ponto incluído de forma brilhante para dar mais força à narrativa é o mito de Túlia e Cícero. Pai e filha, Cícero amava Túlia de uma forma jamais vista. Quando a perdeu, a dor dele foi tão grande que até os mais importantes homens de sua época o cumprimentaram e demonstraram seu pesar. Mas é na mitologia que esta história ganha força. Séculos depois a chama que iluminava a tumba de Túlia ainda permanece acesa. Dizem que é a chama do amor de Cícero por sua filha.
Essa é uma das ferramentas de Pyper para dar emoção à trama. 

Ambientação.


David mora nos EUA e viaja por diversos lugares. Em cada um dos ambientes e lugares há descrições eficientes que auxiliam o leitor a entrar na história. Os ambientes são fundamentais para dar mais emoção e medo, algo que evidencia o zelo do escritor por seu livro. Há, contudo, um lugar muito especial que marca o início, meio e fim da trama. Um lugar que marcou David de uma forma que só o final da história apresenta ao leitor, surpreendendo pelo uso das emoções.
A narrativa e as ambientações transformam o professor Ullman em um andarilho.

Diálogos.


Os diálogos são fluentes. O uso de "aspas" para iniciar e fechar as conversas é algo que não via há algum tempo, porém se mostrou bem eficiente. Não há excessos nas conversas, o que evita cansar quem lê. Os diálogos se mostram coerentes e dão vida aos personagens. É possível ouvi-los falar enquanto lemos...

Demônios.



Nem só de demônios vive um livro. Na verdade, O Demonologista tem um ponto muito interessante que, muitas vezes, substitui os demônios tradicionais: os medos, conflitos e doenças que atingem qualquer ser humano normal. 
Ao longo da trama esses elementos ganham tanta importância quanto o mal ancestral que cerca David. Há demônios dentro de nós, mas cabe a cada um lutar para adormecê-los ou matá-los.
Outro "demônio" embutido na história é o Perseguidor. Um homem que é pago para seguir o Demonologista por todos os lugares. A relação entre eles ganha força e ódio e culmina de forma surpreendente. Mas esse personagem não se restringe a um simples assassino. Há sugestões que o associam à Igreja, assim como foi com o matador albino de O Código DaVinci.

Acabamento do livro.


Um diferencial em tempos de livros "econômicos". Mesmo com acabamento impecável, capa dura, marcador de tecido embutido no livro, páginas com papel de alta qualidade, letras douradas e o tradicional zelo da Darkside, o preço ainda não está alto. Aliás, uma leve busca irá fazê-los encontrar esse livro a um preço bem camarada. 
As ilustrações de Gustave Doré dão mais força ao clima sombrio e ao medo que permeiam a obra inteira.
Parabéns à editora por trazer o livro até o leitor brasileiro e, sobretudo, por dar um acabamento digno de uma obra ótima. Ponto positivo para a capa e lombada que imitam um livro já desgastado. Impressionante!
Até o autor elogia o trato em seu novo livro lançado pela Darkside. Acessem o site e leiam o depoimento de Andrew Pyper sobre  Os Condenados  (em inglês).

Autores que o elogiaram.


Stephen King: O medo clássico tem um novo nome.

Gillian Flynn: Emocionante, absolutamente enervante e inteligente.

Boas novas.

O Demonologista será adaptado ao cinema por Robert Zemeckis, diretor dos consagrados filmes Forrest Gump e De Volta para o Futuro. Aguardaremos com ansiedade.

Curiosidade.

Andrew tem uma filha, Maude, e ela é a homenageada na dedicatória do livro. Ao escrever sobre as passagens de Tess no Demonologista, por várias vezes o autor se emocionou. É difícil escrever sem se distanciar da realidade, principalmente quando o assunto abrange os filhos.
Percebi isso durante a passagem mais impactante de Tess no livro: tensão pura.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bethany Townsend, ex-modelo, expõe bolsa de colostomia de forma corajosa.

Bethany Townsend é uma ex-modelo inglesa que deseja, através de sua atitude, incentivar outras pessoas que sofrem do mesmo problema a não ter receio de se expor. Portadora de um problema que a atinge desde os três anos, Bethany faz uso das bolsas de colostomia  que são uma espécie de receptáculo externo conectado ao aparelho digestivo para recolher os dejetos corporais, e desejou mostrar publicamente sua condição.  Quero que outras pessoas não tenham vergonha de sua condição e é para isso que me expus , afirmou a ex-modelo. Bethany usa as bolsas desde 2010 e não há previsão para a remoção das mesmas.  Eu, pessoalmente, concordo com a atitude e respeito-a pela coragem e o exemplo que está dando. Não há outra opção para ela e isso irá forçá-la a viver escondida? Jamais... Veja o vídeo com o depoimento dela. Via BBC

Suzane Richthofen e a justiça cega

Por: Franz Lima .  Suzane von Richthofen é uma bactéria resistente e fatal. Suas ações foram assunto por meses, geraram documentários e programas de TV. A bela face mostrou ao mundo que o mal tem disfarces capazes de enganar e seduzir. Aos que possuem memória curta, basta dizer que ela arquitetou a morte dos pais, simulou pesar no velório, sempre com a intenção de herdar a fortuna dos pais, vítimas mortas durante o sono. Mas investigações provaram que ela, o namorado e o irmão deste foram os executores do casal indefeso. Condenados, eles foram postos na prisão. Fim? Não. No Brasil, não. Suzane recebeu a pena de reclusão em regime fechado. Mas, invariavelmente, a justiça tende a beneficiar o "bom comportamento" e outros itens atenuantes, levando a ré ao "merecido" regime semi-aberto. A verdade é que ela ficaria solta, livre para agir e viver. Uma pessoa que privou os próprios pais do direito à vida, uma assassina fria e cruel, estará convivendo conosco, c

Pioneiros e heróis do espaço: mortos em um balão

* Há exatamente 100 anos subir 7400 metros, num balão, era um feito memorável. Consagrados por isto, três franceses - Sivel, Crocé-Spinelli e Tassandier - resolveram tentar uma aventura ainda mais perigosa: ultrapassar os 8 mil metros de altitude. Uma temeridade, numa época em que não existiam os balões ou as máscaras de oxigênio e este elemento precioso era levado para o alto em bexigas de boi com bicos improvisados. Uma temeridade tão grande que dois dos pioneiros morreram. Com eles, desapareceu boa parte das técnicas de ascensão da época que só os dois conheciam. Texto de Jean Dalba Sivel No dia 20 de abril de 1875, mais ou menos 20 mil pessoas acompanhavam à sua última morada, no cemitério de Père-Lachaise, os despojos de Teodoro Sivel e de Eustáquio Crocé-Spinelli - os nomes, na época da produção do artigo, eram escritos em português para facilitar a leitura e "valorizar" nossa própria cultura. A grafia correta dos nomes é Théodore Sivel e Joseph Eustache Cr