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Conto: Perda - Parte III de V




Por: Franz Lima. Curta nossa fanpage: Apogeu do Abismo.

Leia antes a primeira parte: Perda I; e a segunda: Perda II.

As duas últimas partes serão publicadas amanhã.

              
Hoje, vi meu pai. Havia lágrimas em seus olhos. Um jovem médico conversava com ele, sem que conseguisse ouvi-los. Suas lágrimas, contudo, indicavam a realidade em que me encontro. Não posso tocar meu amor nem meu pai. Estou em um limbo. À mercê dos acontecimentos futuros.
Presa aqui, estou entendendo melhor. Mas ainda resta algo a resolver. As dores cessarão. As dores do corpo, pois a alma está em paz.
Algumas horas mais se passam e os dois são transferidos para um hospital na Barra da Tijuca. Em estado grave, ambos são alvos da máxima atenção por parte da equipe médica. É primordial evitar o agravamento do problema e, mais importante ainda, mantê-los vivos.
Os médicos não querem dizer, mas Ana não vai resistir. Hans, por sua vez, está em estado gravíssimo, sua vida dependendo exclusivamente de um transplante de pulmão. Mas onde encontrar o doador? – é o principal questionamento por parte da equipe médica.
O pai de Ana já se manifestou contra a tomada de órgãos de sua filha. Ele deseja que ela sobreviva, mas em caso de falecimento, ninguém irá ter argumentos fortes o suficiente para lhe fazer mudar de idéia. Está intransigente.
O casal permanece na UTI, sob total observação. O tempo para os dois é curto e decisões precisam ser tomadas.
Marcus, um dos chefes da Unidade, encaminha-se até o pai de Ana e lhe dá o seguinte panfleto com os dizeres:
O transplante de pulmão melhorou consideravelmente nos últimos anos. Habitualmente, é transplantado um pulmão, mas em algumas vezes, ambos os pulmões são substituídos. Quando a doença pulmonar também provocou lesão cardíaca, o transplante de pulmão é algumas vezes combinado com um transplante de coração. A obtenção de pulmões é um problema, pois a sua preservação para transplante é difícil. Por essa razão, o transplante deve ser realizados o mais breve possível após a obtenção do órgão.
Os transplantes de pulmões podem ser oriundos de um doador vivo ou de alguém recentemente falecido. De um doador vivo, não é possível se obter mais que um pulmão inteiro e, geralmente,somente um lobo é doado. De um indivíduo recém-falecido, podem ser retirados os dois pulmões ou o coração e os pulmões.
Aproximadamente 80 a 85% dos indivíduos submetidos a um transplantes de pulmão sobrevivem por pelo menos um ano e aproximadamente 70% sobrevivem por cinco anos. Várias complicações podem ameaçar a sobrevivência dos receptores de transplantes de pulmão e de coração-pulmão.
O risco de infecção é alto, pois os pulmões estão continuamente expostos ao ar, o qual não é estéril. Uma das complicações mais comuns é a má cicatrização do local onde a via respiratória é suturada. Em alguns indivíduos submetidos a um transplante de pulmão, as vias aéreas tornam-se parcialmente obstruídas por tecido cicatricial, o que exige um tratamento adicional.
A rejeição de um transplante de pulmão pode ser difícil de ser detectada, de ser avaliada e de ser tratada. Mais de 80% dos receptores apresentam algumas evidências de rejeição no mês que sucede a cirurgia. A rejeição causa febre, falta de ar e fraqueza. A fraqueza ocorre devido à baixa concentração de oxigênio no sangue. Como ocorre com outros órgãos transplantados, a rejeição do transplante de pulmão pode ser controlada por uma alteração do tipo ou da dose das drogas imunossupressoras. Uma complicação tardia do transplante de pulmão é a oclusão das pequenas vias respiratórias, a qual pode representar uma rejeição gradual.
O velho pai pára e reflete. Então, o médico sussura:
- A vida dele vai depender disso. Se sua filha falecer, ela poderá salvá-lo, mas estamos com as mãos atadas, dependendo exclusivamente de sua autorização. Pense nisso.
E o idoso senhor se senta. E, sentado, põe as mãos no rosto e chora. Chora por ter tanto peso apoiado em seus ombros. Chora pelo que está por vir.
CONTINUA...

Comentários

  1. Tá ai um tema que até hoje, infelizmente, ainda tem gente que cria polêmica: transplante de órgãos. É incrível como no nosso país é comum ver certas coisas, mas debater sobre esse tema? Aceitar que podemos ser mais úteis após a morte dando partes de nós do que indo tudo pra debaixo da terra? Isso não. Seu texto é tocante Franz, parabéns! Aguardando a continuação...

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  2. Hmm... espero que o pai de Ana tome a decisão correta... aguardando a continuação!

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