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Sergio: produção da Netflix aborda a morte do Diplomata brasileiro e suas polêmicas.


Uma notícia chocou o mundo no dia 19 de agosto de 2003, logo pela manhã, quando foi noticiado o ataque terrorista ao Hotel Canal, local usado desde 1990 por vários integrantes da Organização das Nações Unidas. O cenário era de guerra, algo não tão incomum na cidade de Bagdá. Nesta ocasião, vários mortos foram contabilizados (um total de 22) e entre eles estava o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, o provável substituto do Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan.
O atentado teve sua autoria assumida pelo grupo extremista Al-Qaeda (famoso por ter sido liderado por Osama Bin Laden e o ataque de 11 de setembro). Sérgio não estava apenas cotado para substituir Annan, ele era um dos ícones da eficiência da ONU, ainda que tenha estado à frente de algumas ações não tão bem sucedidas.
O ataque terrorista serviu para que a ONU optasse por abandonar suas negociações de paz no Iraque, mas é preciso compreender um pouco do contexto histórico para que o longa-metragem tenha mais sentido.

                                TIMOR-LESTE E O IRAQUE.

Para os mais jovens, a geração século XXI, pouco da tensão dessa época está viva na memória. Entretanto, muitos com um pouco mais de idade e conhecimento histórico (até por terem vivido e acompanhado os fatos históricos) têm nas mentes os fatos que antecederam e sucederam ao atentado contra o diplomata brasileiro que servia à ONU.
Sérgio Vieira de Mello (interpretado por Wagner Moura) esteve na liderança de uma transição de governo muito difícil, ocorrida no Timor-Leste (província ocupada da Indonésia) iniciada no ano de 1999. Ele permaneceu no país até que este tivesse sua independência declarada em 2002. Seu presidente eleito na época, Xanana Gusmão (Pedro Hossi), surge no filme da Netflix ainda na condição de “guerrilheiro”, um homem incrédulo quanto à atuação da ONU e o prestígio de Sérgio.

Posteriormente, Sérgio acaba designado para compor uma equipe de paz e transição no Iraque, país anteriormente dominado por Saddam Hussein, ditador que governou com mãos de ferro por mais de 23 anos. No ano de 2003, diante da invasão dos EUA e do Reino Unido, o regime de Saddam cai. O então presidente dos EUA, George Bush, afirma categoricamente que há armas de destruição em massa, além do patrocínio e acobertamento do perigoso grupo terrorista Al-Qaeda.  As ligações do Iraque com a Al-Qaeda são óbvias, porém não foram encontradas evidências de armas nucleares no país.
Em meio à queda de Saddam, a invasão do Iraque e a instabilidade política, econômica e social, Sérgio se vê como elemento apaziguador neste ambiente inóspito e perigoso. Ele não sabia, mas essa seria sua derradeira missão de paz.

                                             O ENREDO.

Não temos uma biografia como esperado por muitos na ocasião do anúncio pela Netflix. A verdade é que se trata de uma obra de cunho biográfico, porém com diversas passagens cuja função é humanizar ou romantizar mais o diplomata e suas ações. Eu, honestamente, não acho necessária tal abordagem, mas essa foi a escolha do diretor Greg Barker e do Craig Borten (baseado no livro de Samantha Power, O Homem que Queria Salvar o Mundo. Há um foco gigantesco na vida de Sérgio Vieira e da bela Carolina Larriera (papel confiado à linda Ana de Armas). Eles se conheceram no Timor-Leste e, a partir daí, Carolina foi sua companheira até o último momento de vida.
Com uma abordagem feita em flashback, o filme mostra os fatos que antecederam o atentado, aponta algumas falhas por conta da tentativa de distanciamento da ONU do aspecto bélico dos EUA e, óbvio, destaca o ataque terrorista em si (sem mostrar nada sobre os assassinos, uma decisão, acredito, acertada).
Há um grande apuro no que tange à fotografia, figurinos e na escolha do elenco. Wagner Moura e Ana de Armas mostram um entrosamento muito bom , o que pode instigar o espectador a buscar mais sobre eles após o término do filme. Entretanto, o casal representado no filme acaba por se tornar o ponto focal da obra e, assim, o aprofundamento sobre as ideologias de Sérgio, os fatos por trás do atentado e até mesmo um aprofundamento em sua passagem por Timor-Leste dão lugar ao romance, ao flerte. É uma estratégia chamativa para os que gostam de descobrir mais sobre a vida pessoal de uma pessoa pública, porém destoa daquilo que seria a proposta inicial do filme: uma obra biográfica focada nos feitos do protagonista (não em suas conquistas amorosas).
Há ótimas cenas sobre o atentado, as passagens no Timor-Leste são bem feitas e a visão do que seria a vida de Sérgio e Carolina no Rio de Janeiro dão uma amostra do potencial da obra, ainda que esta não tente explorar todo esse potencial.

Alguns pontos polêmicos ficam por conta da “insinuação velada” de que o atentado tenha sido facilitado pelo governo americano ou, ainda pior, que este tenha sido o responsável. Isso fica claro quando o roteiro nos coloca na sala de Sérgio instantes antes dele anunciar que mandará um relatório completo sobre os “excessos” praticados pela ocupação americana para o Conselho de Segurança da ONU. Neste momento, no filme, a bomba explode em sincronia total, quase um aviso sobre o quão errada seria sua atitude.

O carisma de Sérgio, Carolina e Gil (Brían F. O’Byrne), além da interação entre eles, está condizente e serve para mostrar o quanto havia de simplicidade no trato do diplomata com seus companheiros de trabalho. Também podemos contemplar uma visão mais humana de Sérgio Vieira, a paciência com que ele lida com as situações e o amor que ele nutre pela namorada (hoje, Carolina foi reconhecida como esposa de Sérgio pelo nosso governo).
Um ponto complexo da trama está na dificuldade do protagonista em conciliar a vida a serviço da ONU e a vida ao lado das pessoas que ama, sobretudo dos filhos. Sérgio é um homem dedicado a essas duas partes indissociáveis de sua vida, mas uma delas não compreende esse nível de entrega.

Enfim, este longa-metragem da Netflix é uma obra que poderia oferecer muito mais, o que não significa em dizer que falhou. O filme flui, cativa o espectador e mostra o potencial interpretativo de Wagner e Ana. Serve, ainda, para que o espectador busque mais informações precisas sobre a vida e obra de um brasileiro que foi uma das mais importantes figuras da Organização das Nações Unidas.

Nota: um ponto que não foi mostrado na obra é a forma como a ONU tratou Carolina após a morte de Sérgio. Ela teve que lutar para ser reconhecida com a mulher dele e não teve sequer o direito de se despedir decentemente no velório, uma vez que a própria ONU achou melhor ter a “esposa” na cerimônia (Sérgio já estava separado fisicamente há anos da ex-mulher).

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