Antes de qualquer coisa, preciso confessar que sou fã dos filmes mais sombrios com super-heróis. Man of Stell, Batman v Superman, Titãs e Patrulha do Destino são bons exemplos de filmes assim, mas a verdade é que o grande público sempre quis algo mais leve. Assim, a Warner teve a ótima iniciativa de lançar Mulher-Maravilha e Aquaman, sucessos quase instantâneos e que mudaram os rumos da DC e da Warner nos cinemas.
Então, finalmente chegamos ao aguardado 4 de abril, dia da estreia de Shazam!, filme que conta a história de um dos mais antigos heróis da DC Comics.
O filme ficou à altura? Quem não é fã das HQ compreenderá? Houve humor demais? O filme é bom? Essas e outras questões serão respondidas logo após o trailer.
O primeiro ponto a ser observado nessa adaptação é a proximidade aos quadrinhos. Digo “proximidade” por se tratar de uma versão para os cinemas e, obviamente, ficará dificílimo incluir tudo que já foi publicado nos quadrinhos ou mesmo seguir à risca as tramas das HQ. Mesmo assim, Shazam tem elementos da Nona Arte e isso foi aplicado com muito talento à narrativa.
O segundo ponto é vital. Preciso destacar que esse é um filme de origem, uma obra voltada a apresentar o super-herói e o garoto por trás dessa poderosa criatura. Muitos filmes desse tipo sofrem pela forma “rasa” com que contam essa história, além de haver uma certa aceleração na narrativa que prejudica a compreensão do espectador. Felizmente isso não ocorreu em Shazam, já que o filme mostra a origem e a evolução gradual do herói, o que facilita a compreensão do espectador que é fã dos quadrinhos e também do que não é.
O terceiro ponto está na dosagem correta do humor. Muitos filmes têm a pretensão de serem engraçados e usam de piadas de mau gosto ou de algo forçado. Em Shazam vocês terão risadas garantidas e espontâneas, pois tudo foi feito com muito capricho e respeito pelo público.
A LENDA DO HERÓI.
O que alguns não sabem é que Shazam (ou o antigo Capitão Marvel) é um herói cuja origem acontece por causa da luta desenfreada do bem contra o mal. Esta luta, infelizmente, está pendendo para o lado do mal e, por isso, o Mago Shazam (Djimon Honsou) resolve escolher um campeão à altura de seus poderes e responsabilidades, alguém com caráter e coração puro. E é aí que entra o jovem Billy Batson (Asher Angel), um garoto de 14 anos que tem no currículo várias fugas de lares para adoção.
Billy foi adotado por um simpático casal Victor e Rosa Vasquez (papéis confiados a Cooper Andrews e Marta Milans, respectivamente) que já possuem outros filhos adotivos. Eles e suas crianças são a esperança de que o jovem Batson finalmente acalme o coração e fixe residência em um lugar que possa chamar de lar.
Nessa casa nós encontramos um time de crianças bem diferente e interessante. São eles: Freddy Freeman (Jack Dylan Grazer), Mary Bromfield (Grace Fulton), Eugene Choi (Ian Chen), Darla Dudley (Faithe Herman) e Pedro Peña (Jovan Armand). Cada um deles mostra uma característica específica. Freddy é o piadista, Mary é a séria, Eugene é o especialista em informática, Darla é a inocente e Pedro o calado. Apesar de tão diferentes, eles se completam e isso dá mais união à família com cinco crianças adotadas (seis com Billy).
É o senso de defesa da família que acaba por colocar Billy em evidência para o Mago Shazam.
O VILÃO.
O indivíduo que será o antagonista de Shazam é interpretado por Mark Strong (de Kick-Ass). Seu nome é Dr. Thaddeus Silvana (em inglês, o sobrenome fica Sivana). Antes de ser um indivíduo cheio de poderes, Thaddeus era uma criança que teve o breve vislumbre dos poderes do Mago. Essa mesma criança também teve alguns dos piores momentos de sua vida ao lado do pai (interpretado por John Glover) e do irmão, indivíduos que não estavam apenas satisfeitos em apontar as limitações de Thad, eles queriam humilhá-lo.
Os fãs dos quadrinhos sabem que Dr. Silvana é uma pedra na bota do herói. Sua persistência em destruir Shazam e seus aliados é digna da mistura de loucura e genialidade presente na mente do vilão. No filme, entretanto, Silvana é quase uma versão do Adão Negro, mas com a fonte de poderes diferente.
Apesar do tom brincalhão e da comédia embutida em boa parte da trama, Dr. Silvana não é um inimigo a ser desprezado. Sua força é tão grande quanto a do herói, mas é a vontade de estar acima de todos que o propulsiona para uma existência caótica e repleta de erros.
Ao fazer uma breve analogia é possível ver elementos mitológicos e religiosos embutidos. Os poderes oriundos da maldade dão suporte a Silvana, enquanto Shazam é um mortal com os poderes de um deus, um ser tão bondoso quanto poderoso.
Claro que o confronto entre essas duas forças é algo inevitável. Deixo apenas um recado: as lutas evoluem e é bom ver o nível do apuro em produzir cenas bem acabas e com CGI convincente.
IGUAL ÀS HQ?
Não. Encontramos muitos elementos da origem do herói, a família adotiva, além de muitos easter egg que mostram mais dos elementos do herói e também de outros personagens da DC.
O ponto que aproxima essa versão cinematográfica de sua origem nos quadrinhos está no humor bem dosado e na falta de maturidade do Shazam por ser apenas um adolescente, mesmo com o aspecto adulto. Essa característica e a parceria entre ele e Freddy Freeman garantem alguns dos melhores momentos do longa.
Gostei da utilização dos sete pecados para dar uma nova dinâmica à trama. O uso de estátuas mais assustadoras destaca a malignidade dos Sete Pecados Capitais. Vejam a versão de Alex Ross em comparação com a do filme.
MENSAGENS DO FILME.
Shazam é um filme com predominância do humor. Ver a evolução do personagem (tanto como Billy quanto como Shazam) marca o espectador, porém não se trata apenas de uma aventura comum.
A mensagem de maior força não está no herói, mas na família. A união familiar é uma questão debatida a todo instante na história. Outro ponto caprichado é o tema da adoção. O casal Vasquez faz de tudo para dar um lar a crianças sem seus pais. Eles adotam e incorporam as crianças a um lugar aconchegante, confiável e cheio de amor. Que a lição se propague!
Destaca-se, ainda, o debate sobre a maternidade (ou paternidade). Muitos podem até não perceber ou concordar, mas a realidade é que ser pai, mãe ou responsável por alguma criança está além da simples genética. Ser o tutor de uma criança e lhe dar tudo que precisa (incluindo o amor e o rigor necessários) ultrapassa a genética e adentra no instintivo… no dom.
Freddy e Billy (inclusive na versão super-herói) mostram o potencial interpretativo de Zachary e a química perfeita entre ele e a garotada. Para ser o Shazam, Zachary oscilou entre o adolescente e o super-herói, mas é nos momentos em que é o herói que ele mostra sua dedicação ao papel. Interpretar uma criança no corpo de um adulto sem parecer caricato demais ou raso é algo difícil. E Zachary conseguiu!
O FUTURO DO HERÓI.
Não vou me aprofundar na história para evitar estragar as várias surpresas presentes. Isso, entretanto, não me impede de apontar que Shazam tem potencial para nos trazer outros filmes tão leves e divertidos, mas também poderá chegar a um ponto onde a tensão e a dor estejam bem presentes, tal como vimos em O Reino do Amanhã. A presença de Dwayne Johnson como produtor-executivo é um reforço na esperança de que encontremos no futuro o Adão Negro.
Qual o futuro de Shazam? Certamente teremos um segundo filme, principalmente após a quase unanimidade positiva sobre a obra. Mas o que eu gostaria de ver é uma trama mais densa onde o poder do Adão Negro ou do Shazam fosse mostrado em sua plenitude, tal como vimos no game DC Universe Online. Já imaginaram a pancadaria entre ele e o Superman?
Isso, claro, é apenas um devaneio, já que a abordagem mais leve e humorada trouxe de volta o ânimo para os filmes da parceria Warner/DC.
Shazam estreou em 04 de abril de 2019, e já é um sucesso entre aqueles que o viram. Mérito para a interpretação perfeita de Zachary Levi e também para a direção competente e focada de David F. Sandberg.
P.S.: se preparem para ótimas surpresas no terceiro ato, duas cenas pós-créditos e os créditos mais legais que vi em um filme da DC. Filme para todos os públicos e faixas etárias. Divirtam-se!
E digam a palavra…
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