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#Alive (2020) - Abandono, morte, dor ... e esperança diante de uma tragédia mundial.

Lançado em 2020 pela Netflix, #Alive (2020) é mais um filme sul-coreano sobre zumbis. "Mais um filme" é, de certo modo, uma injustiça com a obra. #Alive tem as óbvias cenas de zumbis correndo – os atuais diferem demais dos criados por George A. Romero -, um pouco do gore e, surpreendentemente, o lado psicológico e o drama da situação são abordados com o rigor que não vimos em outras produções. Na verdade, em alguns aspectos, a situação das personagens me trouxe à memória a obra-prima Cargo, um curta-metragem simplesmente impecável.

O leitor mais ávido fará o seguinte questionamento: o que faz desse filme de zumbis algo melhor que os incontáveis já lançados até hoje?

A resposta a essa pergunta será dada logo após o trailer que servirá para ambientar melhor o leitor que não viu ainda a obra.

Costumes.

O povo sul-coreano tem suas peculiaridades, mas muito do comportamento é tão globalizado e comum como o visto em cidades como Rio de Janeiro, Quebec, Toulouse e outras pelo mundo. Isso, resumidamente, é uma forma de afirmar que há uma proximidade entre as realidades da Coréia do Sul e outros países, ainda que as culturas sejam radicalmente diferentes.

Lá encontraremos jovens atados aos games, redes sociais e tecnologias. Também encontraremos os costumeiros conflitos de gerações entre os mais velhos e os mais novos. Há pobres, ricos e toda gama de pessoas, pois as sociedades – como já afirmado – estão cada vez mais similares.

E é em uma família comum que encontramos o jovem Oh Joon-woo (interpretado pelo ator Yoo Ah-In), um gamer inveterado que, aparentemente, ainda depende do suporte familiar, mesmo que não o reconheça. Ele desperta em um dia comum, já relativamente tarde, percebe que a família já saiu para os afazeres e, como todo bom gamer, conecta-se com os amigos para jogar. E é através de um desses amigos que ele é alertado sobre um problema que está atingindo a cidade.

Oh Joon-woo só descobre o quão grave é a situação através da TV. Mas nada está tão ruim a ponto de não poder piorar...

       Conexões.

O filme aborda com muita inteligência o tema da interação entre humanos, seja por meio da internet, seja através do contato direto.

O protagonista percebe muito rápido que está isolado de uma forma que ele jamais imaginou. Gradualmente ele perde aquilo que o mantinha em contato com o mundo e seus amigos: a TV, a internet e até mesmo o contato físico, pois todos que estão ao seu redor são, aparentemente, monstros incontroláveis.

Em meio ao caos, sem comida e água, ele vai definhando mentalmente. A fraqueza espiritual e mental o abraça, minando a sanidade e a esperança. Esse processo, inclusive, engloba o próprio espectador que se compadece dele. O drama amplia até um provável ponto de ruptura. Onde não há esperança, o desespero faz morada com muita rapidez.

E eis que novamente o roteiro mostra uma luz para Oh Joon-woo. Uma luz relativamente distante, mas capaz de fazê-lo seguir a ordem deixada por sua família: você tem que sobreviver. Essa esperança surge na figura da bela e determinada Kim Yu-bin (a atriz Park Shin-hye), outra sobrevivente e a nova protagonista da trama. Kim é a âncora que mantém Oh Joon-woo preso à sanidade. O detalhe curioso está no fato de que eles estão separados por uma rua de distância, cada qual em seu prédio... porém unidos pela esperança de sair do inferno que lhes foi imposto.

Não há conexão maior que a criada pela esperança e desejo de viver.

 


Zumbis.

Há uma breve insinuação no início do filme sobre a causa da praga que transformou as pessoas em assassinos por instinto. Independentemente do motivo, o fato é que o roteiro destaca algo que está em pauta desde o começo de 2020: a aglomeração. A dupla de protagonistas vive em uma área urbana, onde os prédios possuem dezenas de apartamentos e a proximidade é inevitável, gostem ou não. Por se tratar de uma área muito populosa, isso, provavelmente, foi um dos fatores que levou à disseminação acelerada da peste.

Quanto aos zumbis, estes são pouco mais do que animais. Andam em bandos, reagem ao som e possuem olfato e visão bem limitados. Entretanto, como já citado, são ágeis e ferozes, incapazes de sentir compaixão ou remorso; verdadeiras máquinas de matar que possuem uma energia maior do que quando vivas.

Outro ponto que merece destaque é a maquiagem e os efeitos visuais muito acima da média dos filmes do gênero. Igual destaque para as atuações dos atores Yoo Ah-In e Park Shin-hye que dão veracidade ao sofrimento de suas personagens com muita qualidade. Eles convencem na maior parte do longa, principalmente nas cenas dramáticas.

O mal.

Novamente o cinema sul-coreano se mostra grandioso em uma obra que poderia ser apenas mais uma entre tantas outras. #Alive tem em seu ponto mais pertinente a crítica ao isolamento provocado pela tecnologia (podemos também chamar de distanciamento) e pela urbanização onde, via de regra, as pessoas passam indiferentes umas às outras. O descaso com o próximo é uma realidade nas metrópoles e, para evidenciar isso, o diretor e roteirista Jo Il Hyeong nos entrega um longa-metragem que busca destacar isso, além de provar que o pior mal da Terra não é um vírus, mas a crueldade humana representada pela violência dos zumbis e de algumas personagens que são inseridas ao longo da trama.

 Reflexão.

As boas atuações e o roteiro nesse filme são ferramentas usadas para provocar o medo, já que essa é a premissa de um filme de terror. Entretanto, em tempos de pandemia e isolamento, o longa provocará no espectador mais atento as reflexões sobre a fragilidade da saúde humana, a instabilidade da “segurança” do nosso mundo e o afastamento das boas coisas da vida (sobretudo a família) em prol da diversão ou entretenimento fornecidos pelas redes sociais e outros meios digitais.

De qualquer modo, há ótimas passagens de tensão e suspense, assim como boas doses de terror, o que fazem de #Alive um filme muito bom, mesmo com seu final relativamente previsível. Uma obra que está no mesmo patamar de Trem para Busan (Invasão Zumbi) e Cargo.



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