Com uma premissa inicial muito parecida
com a que vimos no filme Risco Total, A Queda nos entrega uma trama onde os
questionamentos iniciais estão focados nos limites para a diversão das pessoas.
Afinal, até que pontos podemos ir para obter a tão cobiçada adrenalina?
A obra conta com muitas paisagens
bonitas, abordagens sobre o comportamento humano e leva o espectador a refletir
sobre limites e responsabilidades.
Em suma, um filme muito interessante que será devidamente analisado em seus pormenores (sem spoilers) após assistirmos ao trailer.
Por um punhado de adrenalina.
O início dessa trama é belo por suas paisagens e dramático por seu conteúdo. Um trio de amigos resolve escalar uma íngreme montanha, um rochedo extremamente perigoso, mas que pode ser superado com habilidade e os equipamentos corretos. Hunter (Virginia Gardner), Becky (Grace Fulton) e seu namorado Dan (Mason Gooding) possuem ambos os requisitos, porém é preciso lembrar que a natureza pode ofertar surpresas desagradáveis aos que a desafiam.
E eis que a surpresa desagradável vem,
ainda que ninguém tenha culpa pela tragédia ocorrida.
Quase um ano depois, Becky está em profundo luto, assombrada pelo loop eterno da cena onde seu amor morreu. Tudo passa em sua mente, desde a reclusão absoluta até o suicídio, mas o retorno de sua amiga servirá para, verdadeiramente, iniciarmos a trama em si.
Por um punhado de fama.
Nesta segunda parte do filme, Hunter e
Becky partem com duas missões: escalar a maior torre de rádio dos EUA (chamada
de B-67) e jogar as cinzas de Dan do alto desta torre. Não encontrei algo sobre
a B-67, mas existem várias torres similares em diversas regiões dos Estados
Unidos, provavelmente não tão degradadas quanto a B-67 mostrada no longa.
Diante das missões concluídas, um
imprevisto de proporções catastróficas ocorre, isolando as garotas no ponto
mais alto da torre, impedidas de descer.
A partir deste momento, temos o começo
efetivo do segundo ato, o mais longo e angustiante, um verdadeiro teste de
nervos para os espectadores.
Contudo, sabem o que é pior nessa história? Becky subiu essa estrutura para se despedir de uma parte triste de sua vida, talvez até mesmo em busca de um recomeço. Hunter, por sua vez, quer o reconhecimento de seus seguidores, mas também deseja a reaproximação de sua amiga para ajudá-la a superar a dor da perda e o desgaste do luto.
Precaução nunca é demais.
Entre esses detalhes, o mais legal está no estado de conservação da torre. Além do ferrugem generalizado, o isolamento do local onde ela está situada e a distância de um lugar habitado são, essencialmente, fatores capazes de desestimular os mais audazes, porém isso não aconteceu com Becky e Hunter, as ousadas garotas que descobrirão a cada segundo dessa produção cinematográfica que a precaução nunca é demais.
Acrofobia.
Ok, isso é algo ruim de se dizer, porém
necessário. Eu sofro de acrofobia. Não a versão clássica onde qualquer lugar
alto gera pânico. Na verdade, lugares altos onde a segurança é mínima são, em
geral, meu calcanhar de Aquiles, não importa se a situação ocorra comigo ou com
outra pessoa. Chego a suar frio...
Algumas das mais impactantes cenas de A
Queda me trouxeram à tona esse medo. Não há como não se transpor para o lugar
das protagonistas. Elas estão presas em uma plataforma a mais de 600 metros,
praticamente em uma área desabitada. Tudo, absolutamente tudo está contra elas,
inclusive o tempo, já que a passagem do mesmo acabará por provocar sua debilitação.
É questão de tempo para que morram pela
queda, hipotermia, insolação, sede, fome ou qualquer outra coisa que –
infelizmente – esteja prestes a ocorrer.
A situação em que as garotas se
inseriram é, acreditem, uma das mais agoniantes que já vi no cinema. A sensação
de que a desgraça as abraçará é tão real ao ponto de manter o público travado
na poltrona.
Medo e suspense estão presentes em praticamente todo o filme, o que por si só já é um mérito. Isso fica ainda mais em evidência quando levamos em conta as produções fracas lançadas nos últimos anos, aquelas que não sabem manipular as emoções do público ou abusam das características dos gêneros citados.
Máximo e mínimo.
A Queda é grandioso por seus cenários
lindos, pelas excelentes atuações das protagonistas, pela recriação da torre e
pelos ótimos efeitos visuais. Acreditamos piamente que as garotas estão presas
em uma torre a mais de 600 metros do solo. A proximidade da morte é
absurdamente palpável, incômoda e aterrorizante. De forma sucinta, o público
aguarda a morte da dupla a qualquer momento.
Em contrapartida, o longa-metragem traz
à tona temas que são importantíssimos: a amizade, a fidelidade, o respeito aos
limites, perseverança, destemor e – de forma branda – a valorização da família
como pilar em nossas vidas. Esses são temas de ações que em geral não recebem o
devido valor, mas estão muito bem mostrados na obra.
E apesar da grandiosidade dos cenários e
da estrutura por trás do filme, A Queda se desenvolve basicamente com apenas as
duas protagonistas. As atrizes Virginia Gardner e Grace Fulton atuaram com
excelência, o que intensificou a sensação de perigo e deu ainda mais impacto às
cenas.
A abordagem sobre a amizade entre elas também gera debates interessantes, sobretudo quando nos aproximamos do fim do longa-metragem.
Um plot twist muito bem elaborado.
Esse é um ponto muito interessante do
filme, principalmente por mostrar o quanto uma boa direção e um roteiro
consistente podem conduzir o espectador a acreditar naquilo que eles querem.
Além da reviravolta, a condução da obra
é digna de destaque por não dar indícios de mudança, por remover a esperança do
público a cada segundo de projeção. As revelações feitas a partir de certo
ponto da obra servem, ainda, para comprovar que a mentira pode nos abraçar sem
que possamos sentir seu toque gélido.
Independentemente disso, peço a gentileza de não revelarem a “guinada” do roteiro, fato que provavelmente tiraria parte do brilho do filme.
Conclusão.
A Queda é uma surpresa muito agradável
no cinema recente. Com um elenco muito pequeno, ótimas atuações e uma direção
excelente, o filme tem um suspense muito bem conduzido e arquitetado, tomadas
de extrema beleza e um clima sombrio que, aliados ao desespero das
protagonistas, servem para trazer o espectador para dentro da história.
Sendo assim, seja nos cinemas ou em streaming, fica aqui a minha recomendação com louvor a esse filme que serviu para tirar o cinéfilo daquele lugar comum (e incômodo) que a maioria dos filmes de terror e suspense têm nos obrigado a ver.
P.S.: a presença de Jeffrey Dean Morgan é,
em essência, apenas uma participação especial.
Passo mal só de imaginar a altura. É o tipo de filme que não gosto de assistir.
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