Por Filipe Sena
No
fim do ano passado vi uma notícia sobre um selo de graphic novels da
Maurício de Sousa Produções, o Graphic MSP. Através desse selo
seriam publicadas histórias adultas com personagens da Turma da
Mônica. Quase um ano depois de ter ficado maluco com a ideia do
projeto e muito curioso pelo resultado é lançada a primeira HQ do
selo Graphic MSP: Astronauta Magnetar, de Danilo Beyruth.
Antes
de Magnetar eu já tinha lido outra HQ de Danilo Beyruth, Bando de Dois, sobre a qual eu fiz uma resenha pro Apogeu. Sem me alongar muito vou me limitar a dizer que é uma
leitura que vale muito a pena. E foi justamente por ter gostado muito
de Bando de Dois que eu criei expectativas altas antes de ler
Magnetar. E fiquei muito feliz ao terminar a leitura e ver que elas
foram atendidas, arrisco dizer que foram superadas.
A
primeira coisa que chama atenção é a qualidade do volume. Comprei
a edição com capa cartonada e não me arrependi. Apesar do numero
pequeno de paginas, pouco mais de 80, a qualidade do papel e as
dimensões do volume, um pouco maiores que uma edição em formato
americano, fazem valer cada centavo.
Quando
comecei a ler me deparei com uma história que tinha tudo que eu
encontrava nas HQ do Astronauta que eu lia nas revistas da
Turma da Mônica: o Astronauta viajando pelo espaço em sua nave
esférica acompanhado apenas pelo seu computador e por um grande
desejo de explorar o desconhecido, normalmente se metendo em alguma
confusão durante suas explorações. Em Magnetar a história começa
quando o Astronauta vai estudar o magnetar, um fenômeno que acontece
com algumas estrelas que estão morrendo, mas quando alguma coisa sai
muito errado o Astronauta se vê preso sozinho no campo de asteroides
que circunda o magnetar e é a partir daí que começa a história de
verdade.
Apesar
de ser uma história de ficção cientifica, Magnetar tem um enredo no
melhor estilo históias de naufrágio. Trata sobre a
solidão e o mais interessante é notar os efeitos dessa solidão no
Astronauta, e de como ela traz à tona todos os medos e fantasmas do
passado do nosso herói. Ao longo da história vemos a quantidade de
coisas que o Astronauta teve que abrir mão para poder dedicar sua
vida à exploração do espaço. É de impressionar também a mudança
nas atitudes do Astronauta. No começo, ele parece
bastante confiante, tranquilo e de certa forma satisfeito com a sua
vida de explorador, mas por passar muito tempo perdido sozinho ele se
torna um homem paranóico, quase insano, e conforme isso vai
acontecendo, a leitura dessa HQ vai mudando de uma experiência
puramente agradável e para uma leitura angustiante, tudo de um jeito
bem lento e progressivo. Tanto que ao terminar a leitura, me
senti aliviado com a resolução de tudo.
Magnetar
oferece um nível de imersão que só as boas HQ
conseguem oferecer, além de uma arte indiscutivelmente boa, o texto
é ótimo e o ritmo não é acelerado demais e muito
menos arrastado. É fácil perceber que essa foi uma obra feita com
um cuidado extremo. Além de tudo isso, a edição ainda tem um
material extra com as primeiras versões dos uniformes e da nave do
Astronauta, storyboard, ideias não aproveitadas e umas coisinhas
mais, tudo comentado por Danilo Beyruth, comentários esses que dão
várias pistas de como era a história nas primeiras versões do
roteiro. Mas o mais legal do material extra é a primeira história do
Astronauta publicada em 1963 no suplemento juvenil do jornal Diário
de São Paulo.
Pra
finalizar, eu digo que Magnetar é uma HQ excelente. Altamente
recomendada, principalmente pra quem lia Turma da Mônica quando era
mais novo, ou até um dia desses já que pra mim os quadrinhos são
divertidos até hoje. E o nível de qualidade da história, da arte e
do próprio volume em si, me faz esperar ansioso pelas próximas
publicações do selo Graphic MSP e me faz desejar fervorosamente que
um dia seja lançada mais uma HQ do Astronauta sob os cuidados
de Danilo Beyruth, que soube brincar tão bem com os brinquedos que
Maurício de Sousa emprestou pra ele.
Apesar de não ser um consumidor de HQs na mesma intensidade que consumo livros, acho mais interessante selos que trazem produções distintas dos super-heróis mascarados, o motivo, para mim, é que não consigo me ver tendo a paciência de colecionar centenas de números que, muitas vezes, tem mais enrolação do que uma história que me prenda. Gosto de tramas que falem sobre isolamento, pois costumam suscitar um bom debate sobre a mente humana. Desconhecia o selo Graphic MSP até o presente momento, mas, assim como você, torço para que se mantenha ofertando ao leitor material de qualidade. Não fui um leitor fiel da Turma da Mônica, mas acho muito difícil encontrar um brasileiro que nunca ouviu falar das histórias.
ResponderExcluirQuadrinhos receberam a denominação de Nona Arte não foi à toa. Há inúmeras obras de altíssimo nível que precisam ser divulgadas. Astronauta e as demais obras do selo MSP prometem material de qualidade internacional, mas com o talento brasileiro. Logo, aposto todas as fichas nesse projeto.
ExcluirObrigado pelo comentário, brother...