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O Bunker: Anthony Hopkins revive os momentos finais de Adolf Hitler.

Filme de 1981 produzido para a TV, The Bunker é baseado na obra literária escrita por James P. O’Donnell (nome dado ao militar que acesso o bunker no início do filme). A trama conta os meses finais de Hitler e seus asseclas que ficaram confinados ao Bunker do Führer durante o longo ataque e os bombardeios das tropas Aliadas à Alemanha. Mais do que um simples filme de guerra, o longa retrata o lado emocional e psicológico do líder alemão e todos os seus seguidores que viram seu auge e o declínio, tanto no aspecto tático e militar quanto nos aspectos emocional e de saúde. 

A obra se passa majoritariamente no bunker onde Hitler e seu séquito passaram os últimos meses antes da invasão russa e dos demais Aliados à Alemanha. Esses meses foram impactantes para os que estavam ao lado de Hitler, já que a maioria conhecia a condição em que a Alemanha se encontrava na guerra, diga-se de passagem uma condição péssima, à beira de um colapso. 

Adolf Hitler (esq.) e Anthony Hopkins (dir.)

Os impactos de estar ao lado de seu líder supremo foram maiores conforme a condição física e mental dele se degradava. Adolf Hitler não era mais o líder imbatível de outrora, seus exércitos estavam sitiados ou destruídos e a própria Berlim era alvo de inúmeros bombardeios. Mesmo assim, diante do temor indiscutível, somente uns poucos oficiais e Albert Speer tiveram a coragem necessária para tentar mostrar a Hitler que a situação exigiria a rendição do povo germânico ou, do contrário, os avanços dos inimigos poderiam significar a destruição não só do III Reich como também o fim dos alemães. 

Hitler estava irredutível e seus delírios de vitória o levaram a ordenar o sacrifício (através do envio de frágeis tropas) ao front. O confronto direto com as forças aliadas era quase um genocídio, visto que o moral da tropa estava baixíssimo, munições e armamentos eram escassos e o número de baixas só aumentava. Para piorar, o Führer determinou o envio de jovens (em sua maioria crianças e adolescentes) para combater; majoritariamente componentes da Juventude Hitlerista.

Albert Speer.

O longa-metragem dá grande destaque para Albert Speer, o arquiteto do III Reich. Speer foi um dos poucos integrantes da cúpula de Hitler que sobreviveu ao julgamento em Nuremberg, tendo sido punido com 20 anos de prisão. Após sua saída, Speer publicou livros sobre suas experiências ao lado de Hitler e como apoiador do nazismo. Obviamente, ele jamais se classificou como um dos responsáveis pelo Holocausto ou as mortes na guerra, atribuindo a si mesmo uma parcela de culpa por ter dado apoio e suporte a Hitler, mas sempre preocupado com os desmandos e a escalada da violência dos nazistas. 

Em sua obra literária, Albert Speer se mostra um apreciador da arquitetura e da arte, fato que o aproximou do Führer. Resumidamente, ele escreveu que chegou a planejar o fim da vida de Hitler, porém tal fato jamais se consumou (isso é mostrado no filme). 


Pelo que pude ver em O Bunker, boa parte da inspiração do autor do livro no qual se baseia o filme é oriunda do livro de Por Dentro do III Reich, escrito em 1969.

Cabe lembrar que nos últimos tempos do regime nazista, Albert Speer foi ministro do Armamento, o que o vincula diretamente à guerra e suas mazelas, ainda que o mesmo se distancie ao máximo dessa parte de sua história junto ao império de Hitler. 

Coincidentemente, o filme foi lançado em janeiro de 1981, ano em que Speer veio a falecer (no mês de setembro).  

Loucura.

Algo que se nota ao longo da obra cinematográfica é a decadência mental de boa parte dos alemães que compõem o grupo que vive ao lado de Hitler no bunker. Motivados pelo fanatismo ou o medo, a verdade é que poucos estavam preparados para ver seu líder entregue aos delírios e à degradação. 

Essa fidelidade (ou medo, como queiram) foi determinante para alguns dos seguidores de Hitler, sobretudo à família Goebbels, Eva Braun e outras pessoas que idolatravam-no em um nível incomum. Sacrifícios aconteceram por amor e loucura, algo que a História comprova; algo que mostra a que ponto o fanatismo pode chegar.


Fidelidade.

Em contrapartida, a Segunda Guerra Mundial e, em especial, o nazismo, teve o potencial latente de trazer à tona o melhor e o pior das pessoas. No filme O Bunker, assim como nos relatos históricos, podemos contemplar uma faceta curiosa da guerra, seus líderes e aqueles que são liderados: a fidelidade destes, mesmo diante da óbvia destruição.

Apesar da já citada loucura que envolveu Hitler e todos que o acompanharam em sua última jornada, ficou claro para o espectador mais atento que – mesmo sob fogo cerrado e à mercê das ordens de um homem debilitado mentalmente – os seguidores de Adolf Hitler (boa parte deles) ainda nutria uma admiração incomum por seu líder. Mesmo tendo a clara intenção de sacrificar seu povo, o fato é que homens e mulheres não o abandonaram por admiração, fidelidade e, claro, loucura. 

A História fez seu julgamento sobre todos os fatos ocorridos neste período, a justiça foi feita e levou muitos nazistas à força, mas é inquestionável que o carisma de um único homem, aliado a outros que o deram suporte e força, conduziu uma nação inteira em uma cruzada cujos resultados foram catastróficos tanto para as vítimas quanto para os próprios alemães. 


Joseph Goebbels.

Um orador ferrenho, inteligente e astuto. Goebbels – se me permitem a comparação – tem o poder de persuasão da personagem de J. R. R. Tolkien, o maligno Grima Língua de Cobra. Mesmo sendo desprovido de capacidade de combate, manco, pequeno e fora dos padrões arianos, o fato é que Joseph Goebbels foi o mais fiel seguidor de Hitler, um homem cujas ações refletem o que abordei acima: fidelidade, loucura e um sacrifício inimaginável para qualquer um. 

A esposa de Goebbels e Eva Braun são exemplos de pessoas que também optaram por seguir seu líder até o túmulo, ainda que esta última não tenha sido – essencialmente – uma pessoa má. Como amigos pessoais - e fanáticos - os Goebbels foram às últimas consequências para mostrar o quanto eram fiéis ao líder, fato consumado não apenas com as próprias mortes como também pelo sacrifício das vidas dos seis filhos, envenenados com cianeto no interior do bunker, uma das mais impactantes cenas do longa-metragem.


Lições da História.

Filmes como O Bunker e outros cujas tramas abordam fatos históricos são, indiscutivelmente, um reforço para as lições que a História nos deixa. Hitler não foi o primeiro e não será o último dos candidatos a Senhor da Humanidade. Alexandre Magno, Genghis Khan, Idi Amin, Napoleão, Átila, Stalin, Ivan IV, Saddam Hussein, Mao Tsé-Tung, Maria I (Bloody Mary), Nero e muitos outros foram pessoas que se valeram do poder a eles conferido (nem sempre acatado pelos que a eles estavam subordinados) para ampliar seu domínio sobre um ou mais povos, mesmo ao custo de incontáveis vidas. 

Hitler é um exemplo daquilo que o poder pode fazer à mente de um homem, levando-o a se posicionar como um enviado de Deus ou um indivíduo predestinado ao poder por ser "superior" aos demais. Também serve para destacar os estragos que a submissão de uma nação a um único indivíduo podem resultar. 

Em O Bunker, podemos contemplar a reconstituição de uma das mais obscuras fases que englobam o final da Segunda Guerra Mundial, além de elucidar os aspectos psicológicos e físicos que transformaram um homem outrora inquestionável no poder em um ser fragilizado em vários aspectos. Não há uma tentativa de diminuir os estragos provocados pelo nazismo, apenas uma demonstração do quão patéticos e frágeis são os ditadores e imperadores quando confrontados com algozes capazes de tirar-lhes o poder... e a vida.

Atuações.

Apesar de termos uma carga dramática mediana, o longa entrega ao espectador ótimas atuações. Cabe ressaltar que alguns dos atores dão literal vida às personagens interpretadas. Entre os destaques estão Anthony Hopkins (Hitler), Richard Jordan (Albert Speer), Cliff Gorman (Joseph Goebbels), Susan Blakely (Eva Braun), Michael Lonsdale (Martin Bormann) e outros. 

As atuações foram obviamente afetadas pelas limitações e as técnicas da ´época tanto para a filmagem como para a interpretação. De qualquer forma, a essência da trama e a ambientação estão condizentes com um drama voltado a "encenar" os últimos meses de Hitler e seu séquito. 

Ponto de destaque está na reconstrução do bunker através de cenários que transpõem o espectador para dentro da construção que serviu de QG e prisão para Hitler e seus apoiadores. A sensação de clausura é perceptível, incômoda e ajuda a ampliar a experiência que nós, testemunhas, temos ao assistir a obra. 

Uma nova visão de uma fotografia que apareceu, bastante recortada, no LIFE, retratando o bunker de Hitler, parcialmente queimado pelas tropas alemãs em retirada e despojado de objetos de valor pelos invasores russos.
William Vandivert / Life Pictures / Shutterstock

Por que retratar Hitler?

Questão que gera polêmica há décadas, a realidade é que esquecer o passado é pedir para que ele se repita, seja para o bem ou o mal. Historicamente, exemplos como o de Hitler e de outros líderes são importantes para que tenhamos - no mínimo - uma noção dos reflexos de seus atos e omissões, algo que provavelmente será usado para que não cheguemos novamente ao ponto por eles alcançado. 

Mais especificamente, Adolf Hitler foi um líder que se valeu de uma conjuntura social, de crises sucessivas e da desesperança para ganhar a confiança de seu povo. Não o tomem por um tolo, pois poucos são capazes de dominar ideologicamente uma nação. Hitler foi um estadista, estrategista e um homem consciente de suas limitações, fato que o levou a criar um séquito de homens e mulheres capazes de ajudá-lo em sua jornada para transformar a Alemanha grande novamente, assim como para que seus anseios pessoais (e ódios) fossem atendidos. 

Muitos generais, reis, líderes e imperadores conseguiram tomar territórios. Entretanto, poucos foram capazes de arquitetar o extermínio de uma raça. Em contrapartida, Hitler não fez nada sozinho. Por trás do Führer havia centenas de pessoas próximas a ele, militares ou não. Por trás da seara de domínio e extermínio dos nazistas havia, sem dúvida, uma quase unanimidade de homens e mulheres alemães que apoiavam publicamente os atos e ordens de seu líder. 

Assim sendo, retratar Hitler é um lembrete válido sobre o excesso de poder na mão de um indivíduo, um alerta sobre os malefícios oriundos das crises e dos "salvadores" que sempre surgirão nestas crises. Atentem para aqueles que apontam soluções imediatas para problemas que perduram há anos. A Alemanha da época de Hitler sofreu com a inflação galopante, com a quebra do país após a Grande Guerra e também pela ingerência dos líderes políticos que pouco fizeram frente ao caos. Através da estratégia, do discurso, do carisma e da persuasão, Adolf Hitler despontou como o salvador do povo alemão, mas a verdade é que ele era um homem movido pela ganância, loucura e ódio; um homem que conduziu sua nação para a pior guerra da História da humanidade e, por isso, até hoje os alemães sofrem por um passado maculado. 


Nota final.

Apesar de uma aparente suavização dos estragos provocados pelo nazismo (praticamente não mostrados no longa-metragem), O Bunker é um filme cujo propósito é reconstituir - dentro das limitações - os últimos dias de Adolf Hitler, destacar a gradual quebra do ânimo dele e a decadência resultante da conscientização da derrota alemã. Mais do que um filme de guerra, este longa visa apontar que líder algum merece ser seguido cegamente, pois todos que estiveram, estão ou estarão no poder são, essencialmente, apenas humanos e, por tal, possuem todas as qualidades boas e ruins inerentes disto. 

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